Caos causado pelas mudanças climáticas nos serviços públicos exige um repórter especializado – por Carlos Wagner
As mudanças climáticas estão exigindo o surgimento nas redações dos grandes e médios jornais (site e papel) e das emissoras de rádio e TV do repórter especializado no atendimento de emergência das prestadoras de serviços públicos. E no funcionamento das 11 agências nacionais reguladoras, que fiscalizam, controlam e penalizam as empresas do setor. Nos últimos 90 dias aconteceram muitas chuvaradas e vendavais que varreram o país de sul a norte e de leste a oeste, deixando um rastro de destruição de bens, mortes, feridos e muita confusão. Vou citar dois desses eventos climáticos. Em novembro, um vendaval seguido de chuvarada atingiu a Região Metropolitana de São Paulo. Foi muito lenta a resposta dada pelo serviço de emergência da Enel, empresa distribuidora de energia elétrica na capital paulista. Em consequência, vastas regiões da maior e mais populosa cidade da América do Sul ficaram sem eletricidade por mais de duas semanas. Um fato inimaginável, pelos relatos dos repórteres envolvidos na cobertura. Na noite de 17 de janeiro, na Região Metropolitana de Porto Alegre, um forte temporal com ventos e chuva destruiu tudo que havia pela frente. Passadas quase três semanas, a energia elétrica ainda não foi totalmente restabelecida pelas duas maiores empresas distribuidoras do Rio Grande do Sul, a CEEE Equatorial e a RGE. Tanto em São Paulo quanto em Porto Alegre a população foi para a rua protestar contra a falta de luz. Esse é o resumo da ópera.
Os números dos estragos provocados por esses temporais estão disponíveis nas matérias na internet. A nossa conversa não será sobre números, mas a necessidade de termos um repórter especializado em emergências nos serviços públicos. Por quê? Apesar de todo o avanço na tecnologia das comunicações, na hora que acontecem os grandes desastres os leitores ligam para as redações, porque sabem que o jornal vai mandar um repórter bater na porta do responsável. E sabem do peso que tem uma matéria contando o seu drama em um jornal de grande circulação ou numa emissora de rádio e TV de forte audiência. Sabem que ter o nome do responsável pelo serviço exposto no noticiário é fundamental para as coisas acontecerem. Já era assim quando comecei a trabalhar na redação, em 1979, na época das máquinas de escrever, e quando sai em 2014, na era digital. E continua sendo. O que mudou foi a dificuldade do repórter para encontrar quem responde pelas prestadoras de serviço. Antes, a maioria das empresas de distribuição de energia elétrica era estatal, o que simplificava a tarefa do jornalista. Era só atirar a bronca no colo do governador. Melhor ainda se fosse em ano eleitoral. A privatização colocou como responsáveis pelas empresas os seus CEOs, os diretores executivos, que representam os interesses dos acionistas. Esses profissionais se protegem colocando para atender a imprensa gerentes de área, que sabem a história do seu pedaço da empresa. Mas não têm ideia da situação geral. O diretor executivo só aparece quando o rolo cresce demais e começa a colocar em perigo o seu emprego. O Brasil tem 11 agências reguladoras que controlam os serviços prestados à população. No setor elétrico é a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que tem carência de pessoal e equipamentos para operar.
Pressionado pelo leitor, é dentro desse emaranhado que o repórter tem que se movimentar. Antes de seguir a conversa vou dar uma explicação que julgo necessária. Peguei o pé das distribuidoras de energia elétrica por elas serem o esteio principal do nosso atual modo de vida. Nada funciona sem eletricidade. Mas o que escrevi serve para outros setores, como as empresas fornecedoras de internet e telefonia, que são controladas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), também sem estrutura para operar. Voltando a nossa conversa. Se tivermos um repórter na redação que entenda como deve funcionar um sistema de emergência as matérias vão ganhar corpo. Cito o exemplo de São Paulo e Porto Alegre. Qual o número de equipes necessárias para atender as emergências causadas por temporais nessas duas capitais? Acrescento aqui o seguinte: os serviços de meteorologia anunciam com até uma semana de antecedência o calibre dos temporais.
Por tudo que li e conversei com colegas nas redações, nós jornalistas não sabemos nada sobre o número de equipes e o seu perfil técnico. Duas informações fundamentais para se ter uma ideia exata do que os técnicos estão falando. Há mais um problema. Os serviços de atendimento aos consumidores nessas empresas hoje são operados por computadores. Imaginem a situação. Não seria o caso de, nessas situações extraordinárias, de grande estresse, colocar atendentes humanos para ouvir as reclamações dos consumidores? No momento atual, as redes sociais têm sido usadas para os vizinhos se comunicarem entre si. E uma das perguntas mais frequentes é: “Ligo para quem no jornal?”. Para conversar com os jornalistas na redação o caminho mais curto é ter o celular deles. Caso contrário, fica-se atolado na burocracia. Nos últimos tempos, o acesso do leitor ao repórter foi burocratizado. Isso precisa acabar. Por quê? As emergências decorrentes das mudanças climáticas estão criando uma oportunidade para a imprensa tradicional ser relevante para o seu leitor. É na porta dos grandes jornais, rádios e TVs que as pessoas estão batendo em busca de ajuda para terem resolvidos os seus problemas de falta de luz, água e internet. Essa porta precisa estar aberta.
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(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.
SOBRE O AUTOR: Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.
Alas, um ranço de certos programas de debate de cidade do interior. Volta e meia algum(a) debatedor(a) vai e reclama da buraqueira na propria rua. Ou a estrada que usa para se locomover é problematica. Midia não resolve problema, midia acoa no microfone. Simples assim. Pior, na maioria das vezes dao enfase ao que acham que a população (que está c@g@ndo para o assunto) deveria achar problema. Campanhas de ‘conscientização’ sem ninguem do ‘publico alvo’ assistindo. Gente achando-se ‘exemplo’ dando depoimentos pessoais. Tudo muito velho e ultrapassado. Há muitas alternativas. Não precisa dizer que é um problema que se resolve por si mesmo, mais irrelevancia para a midia tradicional.
‘É na porta dos grandes jornais, rádios e TVs que as pessoas estão batendo em busca de ajuda para terem resolvidos os seus problemas de falta de luz, água e internet.’ Mais conversa de velho. Não usam os canais disponiveis porque os 15 minutos de fama não existem nos canais normais. Basta ver que o numero de pessoas que procuram a midia é muito inferior ao de atingidos.
‘Não seria o caso de, nessas situações extraordinárias, de grande estresse, colocar atendentes humanos para ouvir as reclamações dos consumidores?’ Portaria da agencia reguladora só preve canais de comunicação de defeitos. Não preve fornecimento de ‘informações para o publico ou imprensa’. Alas, conversa de velho, quer chorar as pitangas procure um padre, pastor ou sacerdote da sua religiao.
‘[…] os serviços de meteorologia anunciam com até uma semana de antecedência o calibre dos temporais.’ Sim, uma semana é mais do que suficiente para contratar novos tecnicos e conseguir mais caminhões sem saber o tamanho do estrago. Alas, meteorologia sabe com 100% de certeza onde os vendavais irão passar, se no campo vazio ou no meio da cidade. Dããããããã!
‘Qual o número de equipes necessárias para atender as emergências causadas por temporais nessas duas capitais?’ Não é economico manter equipes para atender vendavais gigantescos. Ficariam a maior parte do tempo paradas. Não é dificil de entender.
‘Sabem que ter o nome do responsável pelo serviço exposto no noticiário é fundamental para as coisas acontecerem.’ Midia querendo se promover confunde falta de recursos com inercia. As empresas estariam ‘fazendo corpo mole’? Dai um(a) imbecil qualquer vem e fala ‘vamos ser condescendentes, metade do RS esta sem luz, vamos esperar 24 horas para que tudo se normalize e depois vamos atacar as empresas “más”‘.
‘A nossa conversa não será sobre números, mas a necessidade de termos um repórter especializado em emergências nos serviços públicos. Por quê?’ Para ficar acoando num microfone. So que seja para isto.
‘Passadas quase três semanas, a energia elétrica ainda não foi totalmente restabelecida pelas duas maiores empresas distribuidoras do Rio Grande do Sul, a CEEE Equatorial e a RGE.’ As equipes são dimensionadas para que a empresa atinja os indices de qualidade/continuidade cobrados pelas agencias reguladoras. Se os indices não são atingidos existe previsão de compensação. O que é uma equipe? Dois ou tres eletrotecnicos mais um caminhão. Ninguém contrata eletrotecnicos do dia para a noite, inclusive as empresas terceirizadas, até porque não sobram no mercado. Também não se tiram os caminhoes de manutenção do bolso.
‘ Foi muito lenta a resposta dada pelo serviço de emergência da Enel, empresa distribuidora de energia elétrica na capital paulista.’ As arvores que não são responsabilidade da concessionaria, são do poder publico, nunca entram na conta.
Há que se ver os dois lados. Questão de evitar os chorões e choronas. Questar de evitar os vermelhos que desejam colocar tudo na conta da privatização, como se estatizando tudo resolveriam-se os problemas. Basta olhar para os lados. Saude publica, educação publica são o que a casa tem para oferecer.