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A princesa não sumiu, mas tem câncer – por Elen Biguelini

Com os fatos, “aprendemos mais sobre a sociedade que sobre a princesa”

Durante os últimos dois meses a internet tem surtado com o suposto desaparecimento da princesa Kate. Nesta sexta-feira, após muitos dias sem aparecer, e após o escândalo da imagem manipulada de dia das mães, a própria princesa se viu obrigada a explicar ao mundo que está com uma doença grave e gostaria de privacidade.

A questão, aparentemente supérflua para o resto do mundo, levanta algo importante sobre a imagem das mulheres na sociedade.

As suposições do que teria acontecido com Kate chegaram a tal ponto, que pessoas afirmavam categoricamente que a pessoa que foi vista com o príncipe durante esta semana seria uma dublê. Alguns criam que o marido a poderia ter matado, outros que ela teria sofrido um aborto ou feito uma lipoaspiração. Teorias são muitas.

Mas algo estava claro. Uma mulher pública não tem direito a individualidade, a um tempo longe.

Já vimos esta mesma tendência com outras figuras, nomeadamente na própria família real britânica: a própria princesa Diana e Megan Markle.

As mulheres são colocadas como inimigas (ao ponto de que uma das teorias seria que o príncipe Harry – sim o irmão do marido de Kate – estaria apaixonado por ela, e teria deixado a esposa para visitar Kate no hospital no mesmo dia em que o rei estava em tratamento no mesmo local). Elas não têm o direito de serem felizes, de não estarem perfeitas, de quererem um pouco de paz com seus filhos após um diagnóstico terrível.

Em meio as piadas horríveis, as suposições mirabolantes, todos tratamos da saúde de Kate Middleton com descaso. Esquecemos a dor de seus filhos, que poderiam encontrar as piadas e comentários sobre a violência do príncipe, que teria “assassinado a esposa para que a amante pudesse ser rainha”. Esquecemos de nossa própria humanidade.

Talvez seja esta a função de celebridades: esquecer um pouco da sociedade em que estamos, dos sofrimentos e das dores, ao tirar sarro da dor alheia. Mas precisamos começar a ter cuidado. Por trás das celebridades existem seres humanos, que acabam sendo obrigados a expor suas doenças de forma extremamente pública porque nós, o público, não conseguimos aceitar que ela esteja longe das luzes das câmeras por mais de dois meses.

Com o sumiço e reaparecimento de Kate Middleton, aprendemos mais sobre a sociedade contemporânea, do que sobre a princesa.

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

Observação do Editor. A imagem que ilustra este artigo é uma reprodução de foto da Princesa Kate Middleton, a partir de video dela nas redes sociais.

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4 Comentários

  1. Megan Markle virou piada na Ianquelandia. South Park. Ela e o marido numa turne pedindo privacidade. Com muitas entrevistas em horario nobre. Entrevistas pagas. Com lançamento de livro e documentario. Produzido pela empresa da dita cuja (Archewell). Que tinha (ou tem) acordo com a Netflix. Bota ‘vitima’ nisto.

  2. “aprendemos mais sobre a sociedade que sobre a princesa”. Mais do que obvio que não. Nenhuma informação nova, a sociedade não se resume ao que a midia publica e nem as bolhas das redes sociais. Para muita gente o assunto não poderia ser mais irrelevante. Alas, qual sociedade, a tupiniquim, a britanica ou a ianque?

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