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Calourada – por Orlando Fonseca

Nesta semana, no Largo da Gare acontece a calourada, recepção aos universitários que chegam para começar um novo ciclo, ou voltam para retomar seus estudos. Entidades estudantis, empresas e poder público se unem no acolhimento, oferecendo o principal produto da cidade: cultura. Algo a ser prestigiado pelos santa-marienses, como residentes em uma cidade universitária que cresce e se desenvolve a partir da presença massiva de estudantes em sua vida cotidiana. Por isso, inclusive, é um bom momento para refletir sobre algo que fundamenta a convivência cidadã. Para muitos que vêm residir por um período, que pode ser de 4 anos ou o resto da vida, trata-se da porta de entrada de muitos santa-marienses provisórios ou permanentes. Não é raro se encontrar em outras regiões do Brasil, pessoas que moraram por um tempo entre nós, como estudantes, militares ou técnicos e sentem saudade do Coração do Rio Grande. Portanto, junto com as festividades da Calourada, é hora de iniciar a educação da autoestima cidadã. E todos sabemos também o quão pouco bairristas nós, santa-marienses natos ou não, somos no dia a dia.

As políticas públicas carecem de cidadania e urbanismo para que tenham efeito duradouro e universal. Quando falamos em limpeza, trato com o lixo e com toda sorte de resíduos, precisamos dizer que a casa de todos, a cidade de Santa Maria, merece o respeito, tanto no espaço compartilhado, quanto em relação à sua gente, que pode adoecer ou constranger-se com a sujeira descuidada por aí. Quando se fala que é preciso ter cuidado com o mobiliário urbano, com um banco de praça ou de parada de ônibus, um contêiner, é porque só têm serventia se estiverem a salvo de depredações. Quando se fala em apreço pelos bens do patrimônio cultural, estamos dizendo que a história que nos construiu é bonita demais, significativa demais, para que não se tenha zelo com sua duração no tempo. Tudo isso é o que nos vai identificar por muitos anos, e que, para alguns, será carregado para outros lugares junto com a bagagem afetiva.

A calourada, portanto, é um evento que se vai tornando importante no calendário da cidade, tanto pelo seu potencial econômico e social, quanto pelo que pode significar na ordem da cidadania. Mais do que o vestibular (que veio para preencher as vagas ociosas no primeiro ingresso, no entanto, houve muitos cursos que não tiveram o preenchimento esperado, como no ENEM/SiSu), este evento tem o poder de resgatar aqueles valores que vieram com a implantação da primeira universidade federal no interior do país. Valores que se entendem, hoje, pelas demais IES da cidade, para os cursos preparatórios e mesmo para o Ensino Médio.

E o lugar para isso é o Largo da Estação Férrea, que em breve estará restaurado, puxando o desenvolvimento econômico e cultural para aquela região emblemática. Lembro que houve uma resistência inicial em proceder a mudança da Saturnino para junto à Gare. Em se tratando de juventude, a rebeldia é normal, mas quando se levantam vozes querendo interpretar aquelas vontades, a coisa se complica. Só o diálogo, nestas grandes questões, é capaz de conduzir as ações para um consenso. No entanto, aí está um dos pontos que falava acima, a respeito do entendimento das regras de urbanidade e convívio social sadio. Não é porque muitos dos jovens que aqui chegam também trazem o desapego à vigilância paterna que se pode fazer com isso uma terra de ninguém. O espaço atual já traz, há muito tempo, a vocação para os grandes eventos, e em breve, com a Gare revitalizada, teremos um espaço com qualidade para trazer conforto e segurança, tanto para os que dele participam, quanto para os moradores das imediações. Por isso saúdo o formato atual da Calourada que, com a dimensão que está adquirindo, veio para ficar no calendário e se inserir nas políticas de formação da cidadania em nossa cidade.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.

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14 Comentários

  1. ‘[…] se inserir nas políticas de formação da cidadania em nossa cidade.’ Cidadania, bobagem mesozoica repetida mil vezes. Como dizem os ianques, ‘You can’t teach an old dog new tricks’.

  2. ‘Não é porque muitos dos jovens que aqui chegam também trazem o desapego à vigilância paterna que se pode fazer com isso uma terra de ninguém.’ Como se todas as mazelas fossem responsabilidade dos que vem de fora, autoctones são todos(as) santinhos(as). Alas, nenhum levantamento a respeito.

  3. ‘[…] este evento tem o poder de resgatar aqueles valores que vieram com a implantação da primeira universidade federal no interior do país.’ Obvio que não. Outro momento historico, outra conjuntura social/tecnologica, outra geração. A propria UFSM nunca esteve tão distante da urb, os cursos todos transferidos para Camobi.

  4. ‘[…] houve muitos cursos que não tiveram o preenchimento esperado,[…]’. Não só aqui. Ha lugares já com terceira chamada, inclusive nos tecnicos.

  5. ‘[…] será carregado para outros lugares junto com a bagagem afetiva.’ Sem pé nem cabeça. O que a maioria lembra são as pessoas, as circunstancias, as festas, os tragos, as provas e os rituais de acasalamento. Nunca vi um ‘quando estudava em SM tinha um monte de prédio bonito ali na ….’. Alas, é uma epoca da vida onde não se tem muitos problemas, as preocupações são poucas e a saúde é muito melhor.

  6. ‘Quando se fala em apreço pelos bens do patrimônio cultural, […]’. Os ‘pouco bairristas’ jogaram uma propaganda enorme sob a art deco, por exemplo. Parece o caso da ESA, é SM e Miami. Paris ficou de fora e o circuito Art Deco do Rio de Janeiro ficou fora. Um bando de tapados querendo enganar a população que tem o Google na mão.

  7. ‘[…] é porque só têm serventia se estiverem a salvo de depredações.’ Isto não se resolve com texto. Em alguns lugares a pichação é tratada como crime ambiental, poluição visual. Criatura pega passa uma noite ou duas no presidio. Santo remédio. Alas, os imbecis da ‘campanha de conscientização’, criaturas sem muito o que fazer saem de madrugada a detonar a cidade. Para os vermelhos são ‘revoltados sociais’. Para os de bom censo é falta de laço. Campanha de conscientização? Só atinge quem dorme de madrugada.

  8. ‘As políticas públicas carecem de cidadania e urbanismo para que tenham efeito duradouro e universal.’ Isto é uma perola da generalidade que traz zero informação. Cidadania é um conceito abstrato que diz nada para a maioria da população. ‘Espertos’ querem utilizar a palavra ‘bonita’ para encaixar a propria agenda (no sentido de plano ou programa de ação). Urbanismo, dada a escassez de recursos, é superfluo. Até prova em contrario. Investem dinheiro nisto pais a fora e os resultados prometidos não aparecem.

  9. ‘[…] é hora de iniciar a educação da autoestima cidadã.’ Mais bobagem. Desculpa para elogiar a sub-mediocridade, o que é muito meia boca. Desculpa para ignorar tudo o que merece não pouca melhoria. Mentalidade interiorana.

  10. ‘ Não é raro se encontrar em outras regiões do Brasil, pessoas que moraram por um tempo entre nós, […]’ Como a dimensão das outras regiões é muito maior que o umbigo do Universo conhecido, a grande maioria da população nunca esteve aqui. Obvio.

  11. ‘Algo a ser prestigiado pelos santa-marienses, […]’. Como não poderia deixar de ser, alguns se sentirão incomodados. Barulho até mais tarde onde não existia. Reclamarão. Há quem afirme que o dinheiro publico gasto é demasiado. Democraticamente podem reclamar. Os(as) imbecis do ‘não pode’ e do consenso socado goela abaixo de cima para baixo é que deveriam se abster de comentarios pouco inteligentes.

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