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Farmácias x academias – por Orlando Fonseca

De minha parte, já havia desconfiado que uma mudança no comportamento dos santa-marienses estava a caminho. Agora, a notícia do jornal vem confirmar: houve um aumento de academias na cidade, nos últimos anos, e o número destas – juntamente com profissionais de atividades físicas – já é maior do que o das farmácias. Não deixa de ser uma informação muito positiva, no meio de tanta coisa ruim que circula por aí, entre manchetes de guerra (aqui e em outros lugares) fake news, negacionismo e os dados da violência urbana. Tudo tem a ver com a saúde, claro, mas o grande número de farmácias é um indicador mais de doença do que de vida saudável; não é à toa que o sinônimo do empreendimento é drogaria. Como sabemos, a diferença entre remédio e veneno é uma questão de dose. Mente sã, em corpo são, vamos malhar! Seguimos a tendência mundial – consequência positiva para a volta à normalidade pós-pandemia.

Na coluna do jornalista Deni Zolin, ficamos sabendo, semana passada, através de um levantamento feito junto à Prefeitura, que o setor teve um crescimento expressivo nos últimos anos. Em pouco mais de uma década, Santa Maria, que tinha 48 empresas de atividades de condicionamento físico, tem hoje 161, esboçando um robusto crescimento de 235% no período. Comparativamente, a cidade que tinha 84 farmácias, ganhou mais 61, alcançando o total de 145 unidades. E assim é que observamos a tendência de cuidar do corpo em vez de lhe medicar. A gente aprendeu a se preocupar mais com a qualidade de vida e prevenção depois da Covid. Some-se a isso o surgimento de novas modalidades e ouros atrativos, como crossfit, lutas, preparação para maratonas, padel, beach tennis e beach vôlei. Segundo a secretária de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Santa Maria, Ticiana Fontana, esse fenômeno vem-se mostrando positivo no Brasil e no mundo, o que acaba sendo “oportunidade de negócios”. Santa Maria forma bastante educador físico, que “começa como instrutor, desenvolve-se e abre para si próprio uma academia.”

Tenho para mim que a alta exposição nas redes sociais, que entrou no cotidiano da maioria da população, também faz com que haja uma preocupação crescente com a imagem corporal. Todo mundo que gosta de postar sobre o que está fazendo, quer aparecer bonitinho e saudável. E se isso se transforma em atividade de influenciador, aí mesmo é que o usuário de smartphones, tik toks e facebooks vai querer mostrar o que faz na academia, sob a orientação de um personal ou pelas quadras da vida. Outro aspecto a se observar é que o envelhecimento da população também coloca em atividade um grande número de pessoas preocupadas em amadurecer com saúde.

Ao longo dos últimos anos, com o espantoso surgimento de farmácias e drogarias a cada esquina, virou meme na internet a possibilidade de que, ao voltar pra casa, a gente desse de cara com uma placa da São João ou da Droga Raia. Há alguns anos, um amigo fez uma observação interessante: haver mais farmácias que padarias em nossa cidade. E eu, influenciado pelo comentário, fui fazer uma conta nas imediações da minha moradia, e me surpreendi. Muitas das padarias, na época, haviam migrado para o interior dos supermercados. Hoje já existem alternativas de produção saudável, fermentação natural, produtos integrais e livres de açúcar ou gordura. Em Santa Maria, há uma farmácia a cada 1,8 mil habitantes; em média, nos 38 países da OCDE, são 28 farmácias a cada 100 mil habitantes. As farmácias deixaram de vender só remédios, agora têm alimentos, bebidas, artigos de limpeza e até eletrodomésticos. Nesta semana, vamos encontrar um reajuste de 4,5% para todos os medicamentos, o que atinge 13 mil itens no país. Mas, comparando com o interesse pelos cuidados com o corpo, nas academias, é melhor investir no apreço pela vida, o que exige precauções e persistência.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.

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5 Comentários

  1. Voltando a ‘noticia de jornal’, a quem interessa o numero de academias? Não é ‘informação’, é uma curiosidade. O jornalista preencheu o espaço, só isto. Alas, bastante superficial. Mentalidade interiorana, ‘se não temos nada “positivo” para publicar vamos tornar o que existe melhor do que é’. Total zero.

  2. Há também o modelo do negocio. Algumas franquias cobram uma mensalidade extremamente baixa. Se cobrarem duzentos ou trezentos reais por mes as pessoas tendem (ouvi isto de um empresario) a ir na academia para ‘não perder o dinheiro’. Mas se cobrarem 100 reais (pouco mais ou pouco menos) quando a preguiça vence pagam e frequentam menos. Ou seja, se aparecer todo mundo para treinar iria dar confusão. O que leva a outra conclusão, a existencia das academias e uma coisa, a frequencia é outra. Alas, passada a moda vamos ver quem sobrevive. Vide salões de beleza e barbearias.

  3. ‘[…] mas o grande número de farmácias é um indicador mais de doença do que de vida saudável; […]’. Outra simplificação. Pode significar uma maior dependencia de drogas para garantir o bem estar (omeprazol substituiu o chá de losna, etc.). Farmácias, a la Ianquelandia, vendem brinquedos e até ventiladores.

  4. Para inicio de conversa ‘santamarienses’ e ‘noticia de jornal’. Aumento de academias não é fenomeno local, aconteceu em muitos lugares. Uma secretaria de desenvolvimento ‘marketeira’, um jornalista ‘oba oba’ ajudando a colega. Procurando a materia (não sou publico alvo do Diario Vermelho) nota-se que misturaram abacaxi com fusca. Hidroginastica/pilates (publico majoritariamente feminino jovem há mais tempo) com crossfit. No meio do ‘resumo’ perdeu-se informação. Bota jornalismo nisto!

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