Por Pedro Pereira / Com fotos de Renata Medina/Inter-SM
No dia 17 de setembro de 2023, Francisco Resende, o Chiquinho, anunciou que estava pendurando as chuteiras e se aposentando do futebol profissional aos 42 anos, após 25 temporadas disputadas na carreira. O comunicado aconteceu após a eliminação do Inter de Santa Maria da Copa FGF para o Novo Hamburgo, no Estádio Presidente Vargas.
Natural de Bagé, foram ao todo nove passagens do “Maestro”, como também é conhecido, vestindo o alvirrubro na Baixada Melancólica. Ídolo do clube, o ex-jogador foi convidado pelo presidente Pedro Della Pasqua a assumir a função de gerente de futebol. Como integrante da diretoria, ele tem como principal responsabilidade dar as melhores condições possíveis à comissão técnica e ao elenco, como também atuar na montagem desses grupos.
Desde novembro no cargo, Chiquinho conversou com o Site acerca do processo de transição de futebolista ao novo trabalho, sua história com o Inter-SM, o papel do atleta nos dias de hoje e a preparação da equipe para o Campeonato Gaúcho Série A2. Na terça-feira (2), completaram-se 13 anos do último rebaixamento do Alvirrubro na elite. Desde então, o retorno à primeira divisão é esperado pela torcida.
Das quatro linhas para o escritório
Após defender o Guarani, de Venâncio Aires, em 2022, o então jogador retornou a Santa Maria para uma temporada final em seu “time do coração”, como o próprio destaca. Desde o acerto para vestir a camisa 10 no Estádio Presidente Vargas já estava definido que 2023 seria o último ato do Maestro nos gramados.
Inicialmente, Chiquinho estava previsto para assumir alguma função nas categorias de base da agremiação após se aposentar. Contudo, quando o técnico Daniel Franco foi contratado, solicitou à direção que o ídolo alvirrubro permanecesse trabalhando na divisão profissional como gerente de futebol. Esta era uma das metas do veterano.
“Eu fiquei muito feliz. Já vivi muito tempo dentro do Inter-SM, sei as necessidades e tento passar o máximo possível de informações com coerência, com clareza, tentando de alguma forma, com muito respeito, profissionalizar o clube. Tento fazer com que os atletas entendam qual é a finalidade do nosso projeto”, afirmou o dirigente.
Os pontos altos de Chiquinho no Coração do Rio Grande aconteceram na metade final da década de 2000: em 2007, aos 25 anos, o ex-meio-campista fez parte da campanha que colocou o Alvirrubro de volta à Série A do Gauchão após sete temporadas na segunda divisão. Também, em 2008, quando o time chegou às semifinais – melhor resultado dos santa-marienses na história do campeonato – e foi declarado Campeão do Interior, o Maestro estava presente.
O dirigente define como difícil a realização de uma análise pessoal acerca de seus primeiros meses como gerente de futebol. Para ele, quem está de fora pode acabar enxergando melhor. Entretanto, acredita que está conseguindo executar tudo que está a seu alcance de forma que os atletas e o clube fiquem satisfeitos. “Aqui, nós trabalhamos de uma forma coletiva, em prol do Inter e dos objetivos que precisam ser atingidos”, assegurou.
De acordo com Chiquinho, a diferença mais “gritante” entre os dois lados – dentro e fora de campo – está nos meios que os jogadores planejam buscar as metas. Na visão do ídolo da Baixada, baseado em suas vivências, a mente de grande parte dos futebolistas gira mais em torno de sonhos pessoais e da individualidade, mesmo que o esporte seja coletivo.
“Ele pensa nas suas ações, naquilo que ele pode alcançar, nas projeções do seu contrato, se ele vai ser o melhor jogador do campeonato, se ele vai ser o artilheiro, se ele vai ser o goleiro menos vazado e, mesmo atuando numa equipe, muitas vezes ele é egoísta. Ele pensa muito em si. Ele pensa que tem que ir para o treino, fazer a sua parte e ir embora pra casa. Agora como gerente de futebol, entendendo todos os processos do clube, tu vê quão pequeno é o pensamento do atleta”, desabafou o ex-meia.
O veterano deixa claro que agora consegue compreender com mais clareza o “sacrifício” que cada indivíduo que trabalha em uma agremiação faz para que seja ofertado o melhor ao elenco, assim como as dificuldades de manter um projeto de pé. A falta de apoio, as críticas, os desafios em sustentar a agremiação e a busca por recursos para manter as contas em dia são obstáculos citados por Chiquinho nesta nova realidade.
“Os meus olhos acabaram se abrindo para muitas coisas. Eu entendi que o futebol vai muito além das quatro linhas. Pessoas que muitas vezes não aparecem nas câmeras, ficam nos bastidores, mas que são fundamentais para que tudo aconteça. Quando o atleta conseguir ver esse ciclo que existe dentro de um clube, com certeza, ele vai pensar de forma diferente. É isso que eu vou tentar passar para os jogadores agora, do outro lado.. Mas não usando esse cargo para fazer as coisas diferentes e sim continuando sendo a mesma pessoa, como eu sempre fui”, contou o gerente de futebol.
A construção de um ídolo
Além de 2007, 2008 e 2009, o Maestro defendeu o time vermelho e branco de Santa Maria nos anos de 2015, 2017, 2018, 2019, 2020 e 2021 – ele também passou pelo “co-irmão” Riograndense em 2012 e 2013. O dirigente entende que suas conquistas com a equipe da cidade lhe dão credibilidade e o tornam, aos olhos da torcida, alguém especial. Entretanto, não é apenas isso que o fez chegar onde chegou vestindo o manto alvirrubro.
“No futebol se ganha, se perde, se alcança o objetivo, não se alcança o objetivo, mas o que tu deixa como prioridade para as pessoas é o que fica. Eu sempre me posicionei sobre aquilo que eu acreditava em relação ao futebol e à forma como eu enxergava os processos. As pessoas nos analisam por aquilo que a gente consegue produzir dentro do campo. Só que vai muito além disso. Hoje, um atleta vive 1% dentro do clube, talvez um pouco mais, e o resto ele vive fora. É o que ele faz além do trabalho, do campo de jogo, que o constrói”, explicou.
Ao longo de sua trajetória, Chiquinho crê que os adeptos da modalidade conseguiram o conhecer cada vez melhor e além do que era apresentado nas quatro linhas, visto que nunca permitiu que o enxergassem de outra forma. Tendo entregado tudo si nas vezes que entrou em campo, ele afirma sempre ter sido transparente e coerente em suas atitudes, e jamais movido por circunstâncias adversas.
“Tu tem que ter algumas renúncias para poder alcançar aquilo que tu almeja. Tu não é vencedor apenas quando tu ganha, porque senão seria muito fácil. Tu é vencedor quando tu vence as dores, as dificuldades, quando tu não oscila, e quando tu permanece convicto de quem tu é. Atrás de ti, tu precisa ser um bom filho, um bom marido, um bom irmão, um bom pai, enfim. É isso que eu procuro deixar para que entendam o valor e a responsabilidade que o atleta tem que ser uma referência à próxima geração. É isso que eu tento fazer todos os dias”, relatou o ex-meio-campista.
Na luta pelo acesso
Como gerente de futebol, o legado de Chiquinho segue sendo construído na Baixada Melancólica. Neste ano, em que o Inter-SM luta para retornar à elite mais uma vez, o Maestro quer reviver o sentimento e as emoções de ver o Estádio Presidente Vargas pulsando com os atletas dando uma resposta positiva no gramado. A missão é resgatar a essência do público adepto.
“Eu vivi grandes momentos aqui, joguei grandes partidas com a torcida comparecendo em peso e dando algo a mais fora das quatro linhas para que a gente, dentro de campo, pudesse resolver os problemas”. Esta questão está diretamente relacionada ao plantel à disposição do técnico Daniel Franco que, segundo o dirigente, foi arquitetado de forma detalhada e pensada em conjunto ao modelo de jogo proposto pelo treinador. Entre remanescentes de 2023, retornos e novidades, o ex-meia revelou o processo de construção do esquadrão.
“A gente começou a definir algumas situações para que o grupo ficasse forte, qualificado, com atletas vencedores por onde passaram, mas acima de tudo com comportamentos que a gente entendia serem fundamentais para fazer uma nova história aqui no Inter. Dentro dos critérios, conseguimos contratar quem queríamos. Alguns que ainda estão disputando outras competições estão para chegar e também vão agregar de uma forma positiva ao nosso elenco para que a gente possa chegar forte para a competição”, garantiu Chiquinho.
Como ninguém, o ídolo alvirrubro sabe que a torcida, de forma natural, se encontra muitas vezes aflita e em meio a questionamentos se o clube irá ascender à primeira divisão ou será mais uma temporada frustrante. “Como o torcedor que me tornei, entendo que as pessoas agem de uma forma muito passional”, confirmou o ex-camisa 10. Visando fazer o povo de Santa Maria feliz, o Maestro sustenta: “estamos construindo uma equipe sólida, que possa superar todas as dificuldades construindo, jogo a jogo, um grupo forte e vencedor para que, no final, a gente possa alcançar o tão sonhado acesso para o Gauchão de 2025”.
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