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Imortal – por Marcelo Arigony

A receita (de carreteiro) e como ser lembrado. Tudo a ver!

No domingo à noite eu faço um carreteiro molhadinho, que na verdade é um risoto de carne. Quando está frio o arroz dá lugar a uma massa parafuso, ou penne, com a mesma carne sobrada do churrasco, mais um pedaço de bacon que eu frito antes na panela de ferro bem quente. 

Essa parte do bacon a mãe da cabrita ensinou a ela, e ela me ensinou.

Fatio o bacon em tiras finas, deito na panela de ferro bem quente, tiro e reservo.

Depois ponho uma colher de sopa de açúcar cristal na panela, com uma colher de cachaça com butiá que trago lá do Alceno, meu sogro. As vezes uso até uma cuspida de Fernet ou Campari nessa química. Bem pouquinho. Só pra escurecer o açúcar e dar uma caramelizada, junto com a gordura que sobrou do bacon. O resultado é incrível. Depois vem a carne picada, que vou virando e fritando sem pressa… em seguida cebola picada, e depois um tomate e uma caravana de temperos: páprica, chimichurri, manjericão, pimenta do reino e sal. Também cozinho uns ovos separados e corto cebolinha pra jogar por cima no prato, no final. 

Comecei a trabalhar bem cedo, mas quando aprendi a cozinhar já era de tarde… na vida. Não tenho muita experiência, mas faço com tanto gosto que não sobra nada na panela. O Mário Sérgio sempre comigo, embora o Brando não goste dele. Falo do Cortella, daquela parte do capricho… se vou fazer alguma coisa, faço bem feito.

Pois esse é o meu carreteiro imortal da noite de domingo, com o maior capricho do mundo, para as minhas filhas e para a minha cabrita. Monarqueio aquela panela de ferro, aquela boca do fogão, e também não fica louça suja.

Daqui uns 30 ou 40 anos, quando eu não estiver mais aqui, minhas filhas vão estar sentadas jantando com seus filhos, filhas, genros, sei lá, e lembrar do cheiro da cachaça com butiá que eu uso pra fazer a calda, num aroma misturado com o manjericão e as outras especiarias.

Acho que de tudo o que faço e já fiz, ser lembrado pelo amor com que faço o carreteiro é só o que me importa…

E agora vou lá no quarto fazer um fantoche de polvo assustador que as meninas pediram, para encerrar o domingo delas.

Nesse teatrinho também sou bom, mas no carreteiro sou maioral, serei imortal!

(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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3 Comentários

  1. Existem outras maneiras de virar ‘imortal’ entretanto. Colocar um capinha nas costas, reunir-se com pessoas semelhantes e cometer textos que ninguém lê e tem que ser empurrados nas escolas onde crianças não tem como se defender da submediocridade. Ou torcer pelo Gremio, imortal porque é zumbi, sempre caindo aos pedaços, mas sempre voltando. Alas, tomou na tarraqueta de novo, fora da Libertadores quase, Também, com este time.

  2. ‘[…] mas no carreteiro sou maioral, serei imortal!’ Autor poderia ter informado o prato predileto do bisavô dele. Alas, risoto é um prato de arroz, também conhecido como Oryza sativa. Do qual existem diversos ‘tipos’.

  3. ‘O Mário Sérgio sempre comigo, embora o Brando não goste dele.’ Não tenho nenhum vinculo sentimental com Cortella. Junto com Karnal forma a dupla de ‘filosofos’ subcelebridades (um é doutor em educação orientado pelo Paulo Freire, outro doutor em historia). Ambos iriam ser padres, ‘comeram’ um monte de livros (num pais de analfabetos funcionais onde poucos sabem o que é um livro dá uns trocos). Dão palestras de auto-ajuda. Na midia em geral atuam como ‘pundits’, apesar de comentarem desde a escalação do Vasco até a guerra da Ucrania. Ponde e Clovis pelo menos não tentam parecer o que não são. Não me serve. Alas, existem filósofos ‘de verdade’ la fora, com sistemas próprios. Só não são famosos, são muito ocupados com o trabalho.

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