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Elementos em rebuliço – por Orlando Fonseca

“Que os santos de junho tragam, além do calor das festas, a esperança”

No próximo final de semana, começa o mês no qual, em um passado distante, acendiam-se fogueiras para celebrar os santos de junho. As famosas festas juninas, hoje transformadas em momentos de folguedos sem a chama daquele elemento. Aliás, em nosso Estado, os elementos estão em rebuliço: no Ar, a umidade é tanta que quase estamos respirando gotículas de Água; a Terra deu lugar à fúria dos rios.

De modo que, se o compositor Leonardo (saudoso Jader Moreci Teixeira) fosse compor a sua famosa canção, teria de adaptar a letra: É o meu Rio Grande do Sul, céu, sul, água e cor… (o sol anda sumido e até a cor anda desbotada). No entanto, é preciso continuar vivendo, e as festas juninas se anunciam como mais um motivo de arrecadar donativos aos gaúchos desabrigados.

A solidariedade é uma virtude humana que precisa se avivar por estes dias, algo celebrado ao longo dos séculos de formação de nosso Estado. E o mais importante, é admirável como os nossos irmãos brasileiros estão mobilizados.

Em uma postagem da internet, li que o Rio Grande do Sul está aprendendo que foi melhor não se ter separado do Brasil. E aí uma imprecisão histórica. O que impulsionou, a princípio, os revolucionários de 1835 foi justamente que o país se transformasse em uma república, que deixasse de ser a terra de um imperador e seus apaniguados.

A ideia era que, sendo um bem de todos, a “coisa pública” (res publica) daria lugar a uma visão de conjunto, em que a democracia seria exercida em sua plenitude. Afastando os privilégios da aristocracia, ou seja, os amigos do rei, e todos que se juntavam no entorno do Imperador, nobres ou não, o país estaria mais unido no objetivo de erguer uma nação soberana e justa para todos.

É claro que a história nacional nos ensina que não é bem assim. Na vida real, as legislações têm sido modificadas em favor de proprietários de terras. Muito pouco (muito pouco mesmo) tem sido a consideração sobre a responsabilidade com o ambiente natural, para além dos lucros com a produção. Nosso Estado, como um dos maiores produtores na área agrícola, já criou desertos na região da campanha, em vista da monocultura, do manejo inadequado da terra.

A região sul tem sofrido os efeitos climáticos, não apenas da emissão de CO2 no mundo todo, mas também pelo desmatamento na Amazônia e Centro-Oeste – cujos biomas têm passado por modificações que ainda vão cobrar seu preço das futuras gerações. Os sintomas já estamos vendo agora.

Uma pesquisa do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites da Universidade Federal de Alagoas, divulgada semana passada, indica que o RS apresenta diversas áreas com a taxa de umidade do solo no limite de saturação. Isso significa que o solo já não tem poder de absorção, fazendo com que toda a água da chuva escoe superficialmente, aumentando os desastres de inundações.

Menos mal que agora vemos a solidariedade do Brasil inteiro, algo já visto em outros acontecimentos dos extremos climáticos, como a seca em anos anteriores. Mas não podemos pensar em um país reunido apenas no desastre, nas tragédias. Há que se criar uma consciência nova com os cuidados ambientais, uma vez que os eventos de tal natureza serão cada vez mais corriqueiros daqui para a frente (e dizer que os ecologistas vêm alertando para isso há décadas).

Assim, o Hino Nacional, que canta as belezas de nossos campos com mais flores, se reúne ao idealismo musical de Leonardo (“Céu, sol sul, terra e cor), então teremos a síntese de lugar para a felicidade geral e o bem da nação! Que os santos de junho tragam, além do calor das festas, a esperança.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.

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11 Comentários

  1. ‘[…] então teremos a síntese de lugar para a felicidade geral e o bem da nação!’ Tem toda a chance de acontecer, kuakuakuakuakuakua! Felicidade geral do bolso de alguns, isto sim! Kuakuakuakuakua! É lirismo e ‘podem passar a sacolinha!’.

  2. Meio ambiente tem valor por si so, independente do aquecimento global; Argumento dos vermelhos é utilitarista. Amazonia deve, na melhor das hipoteses, virar uma savana. Vide as secas que pioram por la.

  3. ‘Muito pouco (muito pouco mesmo) tem sido a consideração […] para além dos lucros com a produção.’ Capitalistas malvados e gananciosos.

  4. ‘[…] já criou desertos na região da campanha, em vista da monocultura, do manejo inadequado da terra.’ Monocultura é o que os vermelhos tem no meio das orelhas. Plantam soja, arroz, milho, trigo e outras culturas no RS. So faltou citar autoridade unica de praxe, Vandana Shiva (quando se ouve este nome já se sabe que é picaretagem intelectual). Não são ‘desertos’ porque os indices pluviais, como se ve, são altos. O correto é ‘arenização’. O afloramento de areia do deserto que uma vez existiu por aqui.

  5. Republica no Brasil nunca funcionou, patrimonialismo, etc. Democracia é o que a casa tem para oferecer, 88% do governo Artur Bernardes transcorreu em Estado de Sitio.

  6. ‘O que impulsionou, a princípio, os revolucionários de 1835 foi justamente que o país se transformasse em uma república,[…]’. Não tão simples, tributação e dumping do charque também contribuiram. Brasil é assim, do charque às blusinhas da Shopee.

  7. ‘[…] li que o Rio Grande do Sul está aprendendo que foi melhor não se ter separado do Brasil.’ Uma rematada asneira. Se eu tivesse quatro rodas de um guidon seria um fusca. E o mesmo que dizer que ‘se os governantes do estado tivessem realmente investido o dinheiro que pegaram emprestado seriamos desenvolvidos e não teriamos uma divida gigantesca’. Alas, uma comunistinha da Rede BullShit noutro dia saiu com ‘a divida já está paga’, como se fosse alguma sumidade em finanças. Alas, é notoria pela baixa capacidade cognitiva.

  8. Em tempo. ‘Jornalista’ emitindo a sua desnecessaria e totalmente irrelevante opinião em programa de debate local defendeu a necessidade de diploma de jornalista, segurança de informação, etc. Como é costume no programa convidados fazem considerações sobre assuntos que desconhecem e misturam o que leram não se sabe onde com impressões pessoais. E noticias falsas. PIB do Paraná em 2023 foi algo como 665 bilhões de reais. PIB de Portugal no mesmo ano foi 265 bilhões de euros, algo como 1,4 trilhão de reais. Ou seja, mais que o dobro. Adiantou um monte de ‘jornalistas’ por perto? Não.

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