Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885) – Parte 1. Vida – por Elen Biguelini
Dionísia Gonçalves Pinto, nasceu em 12 de outubro de 1810. Foi a primeira filha de Dionísio Gonçalves Pinto Lisboa e Antônia Clara Freire. A autora nasceu em Papari, atual Nísia Floresta, uma pequena cidade do Rio Grande do Norte. Seu pai era um advogado liberal português e sua mãe uma senhora local.
A época em que nasceu e viveu sua primeira infância foi um momento de revoluções e revoltas por todo o nordeste. Em 1817 sua família se mudou para Goiana. Nesta cidade, então, a jovem teve contato com ainda mais ideias liberais do que as que já conhecia através do pai.
Aos 13 anos, Dionísia se casou com Manuel Alexandre Seabra de Melo. Não há descrições da razão da separação, mas o casamento não durou muito, e ela logo retornou para a casa paterna.
Claramente, uma jovem que se casou e saiu da casa do marido não era bem vista pela sociedade na altura, mas sua família aceitou seu retorno e a jovem parece ter recebido o preconceito que lhe era destinado com a mesma força que recebeu tudo o mais na vida, como será visto. O casamento aconteceu em 1823, mas já em 1824, fugindo das perseguições políticas que sofria seu pai, por ser português, a família se mudou novamente, para Olinda. Quatro anos depois, seu pai foi assassinado, no dia 17 de agosto de 1828.
Nesta mesma altura, a jovem Dionísia se encontrava apaixonada, e passou a residir com seu amante, Manuel Augusto de Faria Rocha. A união não santificada pelo casamento provavelmente tenha sido razão para muito preconceito e críticas que a autora sofreu ao longo da vida. Mas na Europa era conhecida como Mme de Faria.
Em 12 de janeiro de 1830 nasceu sua primeira filha, Lívia Augusta da Faria Rocha. E em 1831 um filho que não sobreviveu a infância. Foi também este o ano em que publicou pela primeira vez, no periódico “Espelho dos Brasileiros”, de Pernambuco. No ano seguinte já publicava sua obra mais conhecida, a sua tradução de Mary Wollstonecraft, “Direitos das mulheres e Injustiças dos homens” (1832).
Assinou esta obra com o pseudônimo que é atualmente reconhecido, e que na altura não foi escondido, tendo sido usado como uma espécie de homenagem ao homem que amava, a seu pai e a seu país: Nísia Floresta Brasileira Augusta.
No mesmo ano da publicação de “Direitos das Mulheres”, Nísia se mudou com sua mãe, irmã, amado e filhos para Porto Alegre. Na capital gaúcha teve mais um filho, Augusto Américo de Faria Rocha. Nesta ocasião, a criança foi registrada como legitima, mas os biógrafos não encontraram registros de um segundo casamento da autora. (Cf. Duarte, 2006, 22). No mesmo ano, em 29 de agosto de 1833, Nísia Floresta perdeu seu amado Augusto.
Ela morou em Porto Alegre durante quatro anos e, durante este período, lecionou na cidade. Durante a Revolução Farroupilha se tornou amiga de Anita e Garibaldi. Ainda assim, optou por retornar para o Rio de Janeiro em 1837.
Em janeiro de 1838 seu nome aparece nos jornais cariocas, devido a fundação do “Colégio Augusto”, uma instituição na qual a autora irá utilizar de suas opiniões e conhecimentos sobre a educação das mulheres para melhor ensinar as jovens cariocas.
Em 1849 fez sua primeira viagem internacional, o que se tornou uma frequência em sua vida. Durante o período em que esteve fora do país, além de publicar diversas obras em diversas línguas (por vezes traduzidas por sua filha).
Em 1855, de volta ao Brasil, faleceu a mãe de Nísia Floresta e, com a crise sanitária causada pela febre amarela, A jovem Dionísia passou a exercer a função de enfermeira no Hospital de Nossa Senhora da Conceição, no Rio de Janeiro.
Em abril do ano seguinte, Nísia Floresta partiu novamente para a Europa com a filha. Ficou no continente por 16 anos. Foi então que a autora se tornou correspondente do maior nome do positivismo, Auguste Comte (1798-1857) e escreveu seus relatos de viagens.
Em 1871, Nísia Floresta se encontrava em Paris quando outra revolução começava. Isto a levou a optar por retornar ao Brasil. Sua filha ficou na Europa, mas em 31 de maio de 1872 Nísia Floresta retornava a seu amado país para uma breve visita. Em 24 de abril de 1885 faleceu na cidade de Rouen, na França, devido a uma pneumonia.
Referências:
Augusta, Nísia Floresta Brasileira. “Direitos das mulheres e injustiças dos homens”. São Paulo: Cortez, 1989.
Augusta, Nísia Floresta Brasileira. “Fragmentos de uma obra inédita”. Brasília: Editora UNB, 2001.
Duarte, Constância Lima, “Nísia Floresta: uma mulher à frente do seu tempo”. Brasília: mercado cultural, 2006.
Floresta, Nísia. “Opúsculo Humanitário”. Brasília: INEP, 1989.
Lopes de Oliveira, Américo. “Escritoras brasileiras, galegas e portuguesas”. s.l. Tipografia Silva Pereira, 1983,19
Sanchéz, Laura; Pinheiro, Rute. “Nísia Floresta. Memória e História da Mulher Intelectual do Século XIX”. Foz do Iguaçu: Epigrafe, 2018.
(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
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