FUTEBOL. Jarro, atacante alvirrubro envolvido em esquemas de aposta: ‘consegui dar a volta por cima’

Por Pedro Pereira

A goleada do Inter de Santa Maria sobre o Monsoon, de Porto Alegre, no último domingo (16), além de alçar o time ao topo do grupo B do Campeonato Gaúcho Série A2 e deixar a torcida em clima de festa na Baixada Melancólica, foi importante em especial para uma das peças do setor ofensivo alvirrubro. Jarro, atacante que, em 2023, ficou afastado dos gramados após ser suspenso devido ao envolvimento em esquemas de manipulação de resultados, marcou um dos três gols da partida. Esta foi a primeira vez que ele balançou as redes em 2024.

“Dedico o resultado à minha família e aos meus amigos que sempre me apoiaram e acreditaram em mim. Hoje, me sinto muito feliz por a gente ter vencido, por eu ter sido titular, por fazer o gol. Agora é aproveitar, comemorar, que a equipe toda tá de parabéns”, declarou o atleta – que, desde o início do ano, está à disposição do técnico Daniel Franco -, logo após o apito final do primeiro confronto em que começou jogando, nesta temporada.

O caso de Jarro

Com passagens por clubes tradicionais do Rio Grande do Sul como Pelotas, Brasil de Pelotas e Guarany, de Bagé, Jarro fez parte do elenco do São Luiz, de Ijuí, que disputou o Campeonato Gaúcho Série A de 2023. No duelo diante do Caxias, que aconteceu em fevereiro e foi válido pela fase de grupos, o atacante cometeu um pênalti – lance que, posteriormente, fez parte das investigações da ação conhecida como “Operação Penalidade Máxima”.

Conduzida pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), a operação, que segue em andamento até os dias de hoje, tem como objetivo investigar o grupo por trás de esquemas de apostas em diferentes regiões do Brasil. Já no Inter-SM, o atleta foi condenado com a pena máxima no fim de maio do ano passado pelo Tribunal de Justiça Desportiva do Rio Grande do Sul (TJD-RS), que acarretou a suspensão por 720 dias do futebol profissional e uma multa de R$ 100 mil. No início daquele mês, ele havia relatado ao Diário de Santa Maria a sua versão acerca do acontecido.

“Eles pegaram o meu celular e acompanharam todas as conversas. Eu fui chamado e recebia contatos com propostas para levar cartão amarelo, ser expulso, e eu sempre negando. Até que começaram a subir o tom de voz e mandaram R$ 30 mil para a minha conta e eu já não tinha para onde correr. Na manhã do jogo contra o Caxias, me ligaram e me ameaçaram dizendo que só faltava eu fazer a minha parte, que eles não estavam para brincadeira e se não seria pior para mim. Acuado, cometi o pênalti e depois acabei pedindo substituição. Realmente eu fiz o pênalti, mas eu não fiquei com o dinheiro”, explicou à época.

No decorrer da votação, que teve o resultado definido de forma unânime, os relatores afirmaram que Jarro havia tido tempo para denunciar as ameaças antes de cometer o pênalti. Contudo, no mês de junho, com o apoio do setor jurídico do Inter-SM, o atleta teve sua pena reduzida, com parte dela sendo convertida em doações de cestas básicas, e a multa diminuída em 90%. Passado o imbróglio, o jogador ficou novamente à disposição do Alvirrubro em 2024 e fez seu sétimo confronto oficial da temporada diante do Monsoon.

Mais que um gol

Para o atacante, que hoje veste a camisa 28 e atua como ponta tanto do lado esquerdo quanto do lado direito do campo, o tento marcado pelos seus próprios pés e a vitória em cima dos então líderes da chave satisfizeram um desejo antigo – mesmo que o trabalho, que é o acesso ao Gauchão, ainda não tenha sido concluído. “A gente trabalha para ter oportunidades e sair jogando. Hoje tive a oportunidade de contribuir fazendo um gol. Felizmente, consegui dar a volta por cima de tudo isso que aconteceu comigo. Tudo foi esclarecido”, relatou.

Após balançar das redes aos 33 minutos do segundo tempo, Jarro não escondeu a emoção e foi à festa com a torcida no Estádio Presidente Vargas, que em poucos instantes soltou fogos de artifício para comemorar o resultado. Antes de entrar no vestiário e entoar junto de seus colegas o cântico “Vamos subir, Inter”, deu um último abraço no atual presidente do Alvirrubro, Pedro Della Pasqua. “Não posso deixar de agradecer ao presidente, que sempre acreditou em mim, desde o primeiro dia. Agora é comemorar, dar sequência e correr atrás de dar o acesso tão esperado para a torcida alvirrubra”.

Depois da goleada, o treinador Daniel Franco não poupou elogios ao desempenho do atacante diante do Monsoon. “Sem dúvidas, ele está de parabéns. O Jarro foi um cara muito resiliente nesse período todo. Ele teve essa punição, mas se manteve com a cabeça boa. Ele nunca deixou de trabalhar e de treinar, pois sabia que o momento dele ia acontecer. Ele trabalhou, se preparou, começou a ter um entendimento maior do contexto do jogo, daquilo que a gente pede, e hoje ele foi perfeito na fase ofensiva e na fase defensiva”, contou o comandante.

Em função dos problemas que viveu, o atleta vestiu o manto alvirrubro dentro de campo apenas em três jogos da temporada passada: na estreia da Divisão de Acesso contra o Guarani, de Venâncio Aires, em que balançou as redes; e nas partidas contra Bagé e São Gabriel. Para Franco, o gol marcado no domingo “é por tudo que ele passou. Acho que realmente saiu um peso dele. O grupo está muito feliz por ele. Não podemos deixar de falar da diretoria do clube, que deu toda assistência pro Jarro, deu um suporte extraordinário. Isso é louvável”, declarou.

O próximo compromisso do Inter-SM pelo Campeonato Gaúcho Série A2 já é nesta quarta-feira (19), três dias após a goleada. Os santa-marienses disputam o Clássico da Região Central diante do São Gabriel, às 19h30min, no Estádio Sílvio de Faria Corrêa, em duelo válido pela 9ª rodada do certame. O time da Baixada está em busca de uma vaga na primeira divisão do Rio Grande do Sul 13 anos após a última vez que fez parte da elite estadual.