O Estado é laico – por Elen Biguelini
“PL do Estupro apenas defende estupradores. E religião não cabe na discussão”
Esta semana levantou novamente uma questão que volta e meia retorna à tona: o aborto.
Independente de religião, o governo deve perguntar a médicos e se basear em fatos e números quanto a TODAS as questões. O estado É laico.
A laicidade é parte importante da democracia. Isto porque, quando uma religião é escolhida por um Estado, grande parte da população perde direitos.
Se sua religião lhe proíbe ou obriga a algo, isto não quer dizer que isto valha para seu vizinho, ou aos amigos de seus filhos, ou a seu colega de trabalho. É devido a isso que o Estado não pode ter uma religião. Pois ao ter uma religião, o Estado fica impedido de defender as outras religiões.
Porque, então, um debate que deveria ser relacionado a saúde e a segurança perpassa pela religião?
As feministas de segunda vaga já diziam: “o privado é político”. Isto porque tudo aquilo que acontece no privado pode ter repercussões políticas. O abuso sexual é relativamente privado, mas merece uma discussão política (e sem espaço para religião).
Chegamos, então, ao debate da semana: o “PL do Estupro”, que pretende equiparar o aborto ao assassinato.
Dizer que o aborto é um desejo da grande maioria das mulheres é absurdo. Dizer que ser estuprada e carregar a criança por 9 meses, com 274 dias de lembranças do horror vivido, seguido de outras incontáveis ocasiões de terror, também é absurdo.
Se uma jovem de 13 ou 14 anos, que sofreu uma violência, for presa por 20 anos por ter tentado sobreviver (e neste caso, o aborto É sobrevivência), enquanto seu estuprador sofrer apenas um terço da pena, estaremos diante de uma ENORME injustiça.
O “PL do Estupro” defende apenas estupradores. Criminaliza vítimas e destrói a vida de mulheres.
Religião não cabe nesta discussão. Porque o Estado É LAICO. Mas infelizmente, em pleno século XXI, parece que vivemos em um mundo no qual a laicidade do governo parece diminuir dia-a-dia.
(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
PL lembra o caso do aborto realizado em SC. Feto tinha 22 semanas. Gerou até CPI por lá.
Grande cortina de fumaça. PL não tinha nem relator(a). Se fosse aprovado até os finalmente cairia no STF. Serviu para tirar de foco o noticiario ruim para o governo. Antes que virasse bola de neve.