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Fascismo, o retorno – por Orlando Fonseca

A ascensão da extrema direita e como reagir ao retrocesso institucional

Acostumado a uma vivência ligada à educação e à literatura, fico abismado com as contradições dos simpatizantes de ideias da extrema direita, no Brasil, seria por uma memória curta ou falta de leitura mais atenta da história?

Semana passada, mais especificamente, no dia 30 de junho, o Exército comemorou a partida dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, que foram lutar em território italiano, na Segunda Guerra. E a FEB foi lutar contra quem, combater o quê? O fascismo, justamente uma força política que representa, emblematicamente, o ideário da extrema-direita.

E é muito significativo, se não urgente, que se pense nisso, quando na Europa se levantam forças da extrema direita, Trump está na iminência de (mesmo condenado ou preso) ser eleito nos EUA e a Conferência Conservadora em Balneário Camboriú, reunindo Javier Milei e Bolsonaro. Não esquecendo o desastre que o governo deste último (indiciado no roubo de joias), cujos simpatizantes fizeram uma intentona fascista, fracassada, em 8 de janeiro de 2023.

Em 2 de julho de 1944, teve início o transporte rumo à Itália do primeiro contingente da FEB, responsável pela participação do Brasil ao lado dos Aliados (Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos). Eram chamados de pracinhas, porque não eram militares de carreira. E foram, justamente, enfrentar e eliminar um regime que se aliou ao nazismo de Hitler.

Portanto, é inquietador que simpatizantes do grupo político que governou o país de 2019 a 2022, que formaram acampamentos na frente dos quartéis Brasil afora, quisessem comprometer as forças armadas para um embate com todas as cores do fascismo.

Saudosos da ditadura militar, atentaram contra a democracia, clamaram pelo expediente da força, pedindo a volta do AI 5, o fechamento do Congresso e o aniquilamento de opositores. Hoje, pedem anistia para gente que tentou perturbar o cenário político, em Brasília, e preparar terreno para que recursos antidemocráticos fossem tomados. Em flagrante contradição com o esforço dos expedicionários da FEB.

Para os que não leram ou não prestaram a atenção na vasta literatura e no acervo de obras cinematográficas sobre o tema, indico alguns filmes como “O ovo da serpente”, de Ingmar Bergman; “Saló ou os 120 dias de Sodoma”, de Pasolini; “Os meninos do Brasil”, de Franklin J. Schaffner; “A onda” de Dennis Gansel e “Ele está de volta” de David Wnendt.

Há uma vasta lista de obras literárias, mas indico: “Isso não vai acontecer aqui” – Sinclair Lewis; “A segunda pátria”, de Miguel Sanches Neto, “O Rei das sombras”, Javier Cercas e uma pequena obra com uma consistente definição desse regime, “O fascismo eterno, de Umberto Eco.

Passei estas últimas semanas lendo o romance do italiano Valerio Massimo Manfredi, “O refúgio”, sobre as agruras da miséria e da perseguição dos Camisas Pretas, milícia formada para defender o todo-poderoso Mussolini: ali se vê todas as estratégias maléficas do fascismo, como mentiras, ataques físicos aos adversários, julgamentos sumários, com linchamentos e incêndios criminosos. (Gentileza do meu amigo Ronaldo Lippold que me emprestou o livro).

Neste momento, no qual se percebe a ascensão da extrema-direita na Europa, vitória nas eleições na Itália, no parlamento francês, sem contar com o domínio já posto na Hungria e Polônia. Uma notícia alvissareira vem do Reino Unido, com a vitória esmagadora do Partido Trabalhista, que volta ao poder. Nossa democracia brasileira, em uma longa convalescença, após mais de duas décadas de ditadura militar, vive de sobressaltos.

Para que se possa estabelecer um ciclo político virtuoso no país, é preciso sobretudo investimento na educação. Só o conhecimento é capaz de evitar contradições como a que vemos na celebração da FEB lutando contra o fascismo e os simpatizantes deste clamando para as Forças Armadas tomarem o poder; no vandalismo bolsonarista que destruiu as sedes do Três Poderes da República em Brasília, no dia 8 de janeiro.

Vemos aí um discurso retrógrado, influenciado pelo obscurantismo conservador e fundamentalismo evangélico. É preciso ficar atento aos sintomas de uma recaída, quando se ouvem os apelos pela volta do totalitarismo, nacionalismo exacerbado, descrença nas instituições democráticas, manutenção dos privilégios da elite. Quanto mais se demora em enquadrar judicialmente os vândalos e seus líderes, mais se mostram fortalecidos e prontos para voltar a fazer o que fizeram até 2022.

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13 Comentários

  1. Resumo da opera final. Não basta somente ganhar eleições, é necessario ‘entregar’. Não so mimimi e show de luzes e espelhos. Não só promessas para o futuro. O nivel de descontentamento é muito alto na Europa e nos EUA. As coisas estão na base ‘este não resolveu, vamos tentar os outros’. Exceção da França talvez, ao menos temporariamente. ‘Vamos nos ferrar por um ideal tendo fé que no futuro vai melhorar’. Não vai, faltam condições objetivas. Mais facil a decadencia chegar no ponto sem volta. As vezes demora para cair a ficha, ninguém vive no mundo das ideias. Ou seja, é só cruzar os braços e esperar.

  2. Resumo da opera III. Alemanha não esta bem. Idioma turco já é oficial em partes do pais, existe até imprensa autorizada a utilizar o dito cujo. Infraestrutura decaiu. Para conseguir internet via fibra otica a espera é de anos, em alguns lugares a velocidade é inferior a alguns lugares do Brasil. Tudo mas decisões dos gestores publicos.

  3. Resumo da opera 2. Na França problemas que já estavam resolvidos voltaram. Inflação. As mulheres já não podem andar sozinhas na rua de noite, em alguns lugares até de dia (não só Paris, Nice, Lyon, etc). Roubos de celulares dependendo do lugar parece o RJ. Alimentação da população está piorando devido aos preços. Pais esta quebrado, todos prometeram reverter a mudança que Macron fez nas aposentadorias. Problema é que não se sustenta.

  4. Resumo da opera. Utilização da boa e velha estrategia do medo. Juntando com o leninismo, ‘Acuse-os do que você faz, chame-os do que você é’. So que isto tem perna curta. Porque os problemas não se resolvem no discurso e nem nas ideias. E bonito ser ‘a favor da migração’ porque mimimi. Ja existem mais de duas mil mesquitas no Reino Unido. Mais de 500 na grande Londres, acompanhadas de mais de 100 tribunais da Shariah. Mais de 1,3 milhão de muçulmanos. Perto de 500 igrejas de denominações diversas foram ‘descomissionadas’ por falta de fieis. Os serviços publicos estão ‘pela boa’, o NHS serviu de modelo do SUS, agora está no mesmo nivel praticamente. Midia coloca culpa no Brexit, pandemia e guerra da Ucrania não ajudam ideologicamente, ficam de fora.

  5. ‘Para que se possa estabelecer um ciclo político virtuoso no país, é preciso sobretudo investimento na educação.’ Ciclo virtuoso é historia, só que da Carochinha. Educação é chavão. Todo governo diz que vai cuidar da educação e da saúde. Estao como a casa pode oferecer. Imbecis tentam chamar gasto de investimento como se alterasse alguma coisa. Na maioria das vezes é dinheiro jogado no ralo do mesmo jeito. Dinheiro jogado em cima do problema sem muito ‘penso’. A classe politica não pode ser chamada de mediocre, falta muito para chegar lá. Pensam mais nos proprios problemas, na proxima eleição do que na sociedade. Alas, governo abriu a porta para quase 6 mil vagas em cursos de medicina. Com beneficios para ‘cumpanheros’ donos de instituições particulares. Vai ser a uberização da saúde. Objetivo de alguns analfabetos funcionais, ‘não sei como medico ganha tanto’. Em Cuba ganham menos que um garçom.

  6. ‘[…] no qual se percebe a ascensão da extrema-direita na Europa, vitória nas eleições na Itália, no parlamento francês, sem contar com o domínio já posto na Hungria e Polônia.’ Parlamento frances ficou com a extrema-esquerda e o centro.

  7. ‘[…] estratégias maléficas do fascismo, como mentiras, ataques físicos aos adversários, […]’. Quanto a mentira não precisa ir longe, há programas de debate com vermelhos mentirosos de plantão por ai. Ataques fisicos? Um Boné Vermelho, membro da ‘segurança’ do Rato Rouco, não atacou fisicamente um professor aposentado na UFSM? Quando ocupava a reitoria Burmann? Não é caso isolado, basta catar no Google. Tem até degola de Brigadiano na Praça da Matriz.

  8. ‘Hoje, pedem anistia para gente que tentou perturbar o cenário político, em Brasília, e preparar terreno para que recursos antidemocráticos fossem tomados.’ Leitura da historia não pode ter saltos por falta de argumentos. Em 2017 aconteceu greve da PM no Espirito Santo. Em 2011 os bombeiros do RJ ocuparam o quartel general da corporação e as escadarias da AL daquele estado. Uma figura estava entre as lideranças, o Cabo Daciolo. Fascista? Não. Evangelico sim. Ja esteve no Avante, Patriota, PL, PMB (Partido da Mulher Brasileira), PL, PDT, PSOL e agora Republicanos. Sem prejuizo de leis estaduais, Temer, presidente em exercicio (governo Dilma, a humilde e capaz), promulgou lei em junho de 2016 anistiando policiais e bombeiros de 19 estados e DF por conta de movimentos paredistas.

  9. Brasil é Brasil. ‘Em flagrante contradição com o esforço dos expedicionários da FEB.’ Que majoritariamente foram deixados ao ‘Deus dará’ na volta.

  10. ‘Saudosos da ditadura militar,[…]’. Que aconteceu por conta da Guerra Fria e da ameaça comunista que era real. Não pouca gente aqui fez treinamento em Cuba e na China. A ‘leitura da historia’ pode ‘dar saltos’ pela falta de argumentos?

  11. Trump, Milei e Cavalão. Coincidencia, todos os adversarios que podem ameaçar eleitoralmente os vermelhos são ‘fascistas’. Que coisa não é?

  12. ‘E a FEB foi lutar contra quem, combater o quê? O fascismo, justamente uma força política que representa, emblematicamente, o ideário da extrema-direita.’ Na volta derrubaram Getulio. Que anos depois abraçou o populismo e seus seguidores ‘migraram’ para a esquerda. O PTB virou PDT e o lema do Duce ‘Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado’ sobreviveu. Tanto que foi adotado pelo PT. ‘[…] falta de leitura mais atenta da história?’. Bem isto daí.

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