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FUTEBOL. Torcidas-organizadas garantem apoio ao Inter-SM na disputa pelo acesso à elite gaúcha

“Comando Vermelho” e “Fanáticos da Baixada” são o suporte na arquibancada

Torcida-organizada “Comando Vermelho” fica situada no setor central da arquibancada lateral (Foto Renata Medina/Inter-SM)

Por Pedro Pereira

No Estádio Presidente Vargas, o Inter de Santa Maria tem a chance de confirmar o retorno à elite do Campeonato Gaúcho após 13 anos neste domingo (28), com uma vitória em cima do Pelotas. Há um tabu a favor do Alvirrubro: a equipe não perde jogos em casa desde o dia 18 de junho de 2023 – e muito deste sucesso na Baixada se dá pela presença do torcedor.

A última derrota que os santa-marienses sofreram foi para o Santa Cruz, na época comandado pelo técnico Daniel Franco – atual treinador do time -, pela fase de grupos da Divisão de Acesso. Para a decisão deste fim de semana, todos os aproximadamente seis mil ingressos já foram vendidos. Logo, independente do resultado, este capítulo da história do clube será marcado pela forte presença dos apoiadores – entre eles, as torcidas-organizadas “Comando Vermelho” e “Fanáticos da Baixada”.

“Fanáticos da Baixada” teve representantes em todos os jogos do Inter-SM na Série A2 deste ano, em casa e fora (Foto Reprodução)

Tudo pelo Inter-SM

Frederico Bragatto, membro do Comando Vermelho, frequenta o Estádio Presidente Vargas desde a infância, há quase 20 anos. William Mesquita, representante da Fanáticos da Baixada, começou a acompanhar o Alvirrubro de forma presencial desde 2016. Apesar de “atuarem” em grupos diferentes, o objetivo é o mesmo: dar suporte à equipe vermelha e branca do Coração do Rio Grande.

Bragatto revela que o Comando Vermelho foi criado em meados de 2005 através de uma turma de amigos que sempre apoiou o Inter de Santa Maria do mesmo local – na arquibancada lateral, ao meio. Antes das partidas, os integrantes se encontravam nos arredores do estádio para beber cerveja e fazer churrascos e decidiram oficializar estas reuniões. “Desde que eu me conheço por gente, eu vou à Baixada”, contou o torcedor, que começou a ir aos jogos com o falecido pai.

Naquele mesmo ano nascia a Fanáticos. Mesquita conta que a torcida-organizada foi formada por um grupo que assistia a todos os confrontos atrás da goleira, na arquibancada da “linha de fundo”. A associação surgiu com o ofício de dar suporte ao Inter-SM e, na Série A2 de 2024, esteve presente nos 17 confrontos disputados até aqui.

Para Bragatto, o elenco que hoje defende a agremiação santa-mariense é impressionante, declarando que “há muitos anos não se via um grupo tão qualificado no Presidente Vargas”. “A atual temporada do Inter tem encantado bastante não só pelo futebol apresentado, mas pelo empenho dos jogadores dentro do campo, se doando e realmente vestindo a camisa. Fora de campo também. Não temos mais jogadores que vêm para Santa Maria aproveitar a noite e ficar devendo dentro de campo, com preguiça. O torcedor percebeu isso, entendeu a seriedade dos jogadores, a garra e, além disso, a qualidade do grupo e agora tá apoiando o time”, alegou o representante do Comando Vermelho.

Na mesma linha, Mesquita crê que o Alvirrubro nunca esteve tão pronto para voltar à elite do Rio Grande do Sul como neste ano, entre as 13 temporadas desde o último rebaixamento. O destaque, na sua opinião, é a maneira que o clube se estruturou: “temos uma direção que sabe o que quer e um elenco qualificado para brigar por coisas grandes”. O membro da Fanáticos afirma que, caso a equipe triunfe sobre o Pelotas, ainda não tem dimensão de como será a realidade.

“Já vivo Inter-SM todos os dias, sem exceção. Eu não sei nem qual vai ser minha reação depois do apito final no domingo com a gente de volta à elite. Acho que todos nós merecemos. São longos 13 anos jogando a segunda divisão, nos frustrando todo ano e sempre renovando as expectativas para o outro ano. A nossa volta é merecida”, evidenciou o torcedor.

Maré Vermelha, inativa hoje, foi a torcida formada por pessoas LGBT+ (Foto Reprodução)

Bragatto além de acreditar na conquista da vaga à Série A, confia no título: “vamos ser campeões da Divisão de Acesso”. Para recepcionar a equipe antes do duelo contra os pelotenses, a Fanáticos está fazendo uma “vaquinha online” visando a compra de fogos de artifício e sinalizadores. Caso o leitor queira contribuir, a chave pix é a seguinte: [email protected].

Maré Vermelha para sempre

Inativa atualmente, a Maré Vermelha é uma das maiores torcidas-organizadas de todos os tempos do Inter de Santa Maria. Fundado na metade final da década de 1970, o grupo foi formado por pessoas da comunidade LGBT+ que, na época, procuravam atividades seguras de lazer em Santa Maria e encontraram o futebol como refúgio. Eduardo Bortolotti, historiador formado pela Universidade Franciscana, teve a iniciativa como tema de seu Trabalho de Conclusão de Curso e, por meio disso, passou a frequentar a Baixada Melancólica.

A ideia surgiu através de um bate-papo com colegas e professores do curso de História. Um dia, falaram sobre a prática do esporte na cidade, remetendo ao passado, citando a Maré e destacando a falta de trabalhos sobre a associação. “Uni o útil ao agradável”, contou Bortolotti, que tinha como única experiência no Estádio Presidente Vargas um jogo que assistiu com seu pai.

A pesquisa iniciou em 2015 e foi apresentada em 2021. Em setembro deste ano, contudo, na Feira do Livro de Santa Maria, o historiador lançará oficialmente o livro “Torcida Organizada Maré Vermelha: uma trajetória de resistência nas arquibancadas de Santa Maria – RS”. Desde 2017, é presença constante das partidas na Baixada.

“Estou sempre por lá. Tento ir em todos os jogos, sou sócio, compro camisetas, sou bem torcedor mesmo”, disse Bortolotti, que revelou ter uma coleção de cerca de 80 uniformes alvirrubros. Sobre o acesso neste ano, o escritor se define como esperançoso e convicto de que a diretoria fez um bom trabalho contratando atletas como os atacantes Michel e Wilson Júnior, em 2023, e o goleiro Rafael Copetti, neste ano.

“A expectativa agora é que a gente acabe com a maldição contra o Pelotas na Baixada. O sentimento de 2018 (quando os pelotenses ascenderam à elite em cima do Inter-SM) ainda tá vivo, aquela humilhação que a gente passou. Vai ser um jogo tenso, bem pegado. Espero que a gente jogue o que a gente sabe, que o técnico Daniel Franco passe tranquilidade para os jogadores, bote a bola no chão, jogue futebol e amasse o Pelotas em casa”.

Embora acompanhe o Alvirrubro há sete anos, Bortolotti é empático com seus colegas torcedores: “é difícil. Eu comecei a torcer em 2017, tem gente que torce há muito mais tempo que eu e não merece mais isso. A segunda divisão humilha o torcedor, humilha o time. Tem que sair disso de uma vez, subir e se manter na Série A para, depois, tentar voos maiores”. A bola rola às 15h.

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