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O tempo, ainda há tempo – por Orlando Fonseca

“Há o que se fazer para fugir da fatalidade climática - apontam os estudos”

Mas só chove e chove e chove… Tivemos um saldo de verão no meio do inverno, agosto chegou e com ele as chuvas de novo. No Rio Grande do Sul, por este tempo, o ditado deve ser: não se fala em garoa na casa atingida por enchente. Para nos confirmar de que os tempos são outros, que apesar de estarem acontecendo os jogos olímpicos em Paris (onde a beleza perdura em todos os cantos), apesar das negações de quem prefere ignorância à ciência, ou de quem quer faturar milhões, as mudanças climáticas são uma realidade.

A adversativa no início do texto é para fazer este parêntese necessário na rotina: alguma coisa precisa ser pensada com a perspectiva de mudanças de atitude. Se em outros tempos tínhamos as quatro estações bem definidas, nesta região mediterrânea da América Latina, estamos em uma esquina climática e somos atingidos por todos os lados.

E as previsões não são nada boas, aliás, diria, assustadoras para o povo gaúcho. Ao longo do mês passado, uma manchete despejou terror na expectativa de quem aguarda a primavera para ver dias melhores. Ao mesmo tempo que criou um ambiente de debate e polêmica nos meios científicos.

Segundo a matéria (dublê de profecia apocalíptica), o Brasil terá regiões que, simplesmente, se tornarão inóspitas até o fim deste século. A ameaça vai mais longe: já antes de 2050 os efeitos dos extremos climáticos serão devastadores. 

Um estudo recente feito Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA mostrou que nos próximos 50 anos haverá diversas regiões que ficarão inabitáveis no Planeta, incluindo algumas em nosso país. Nos últimos cinco anos, houve o registro das temperaturas mais elevadas. Segundo o padrão de extemos climáticos comuns, não se trata de um aumento de temperatura linear, mas os cinco anos mais quentes ocorreram desde 2015. O trabalho científico foi baseado em dados obtidos por satélites, e forneceram uma visão crítica do que está por vir.

O Rio Grande do Sul pode enfrentar impactos como aumento da temperatura, alterações nos regimes de chuvas, intercalados por extremos de secas e enchentes. Esses fenômenos podem afetar a disponibilidade de água, a agricultura, a saúde pública e a infraestrutura. Têm sido frequentes por aqui a presença de intensos fenômenos meteorológicos, como ciclones e ondas de calor, desafiando a capacidade de resposta das autoridades e produtores.

Isso não é exclusividade do nosso Estado, bem entendido, mas temos de nos preocupar com a parte que nos toca neste relatório da NASA. As mudanças afetam a agricultura e a sustentabilidade de ecossistemas terrestres e aquáticos. Portanto, áreas que dependem da agricultura de subsistência são particularmente vulneráveis, ameaçando a segurança alimentar.

Há o que se fazer para fugir da fatalidade climática – pelo que apontam os estudos. Ainda temos tempo de buscar a adaptação e a implementação de medidas de mitigação: investimentos em infraestrutura resiliente, políticas de gestão de recursos naturais, programas de conservação ambiental e medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Buscar o desenvolvimento sustentável, e a economia verde, com adoção e uso de energias renováveis e a proteção de ecossistemas importantes. Um planejamento urbano para a resiliência das cidades, melhorando a qualidade do ar e da água, promovendo o acesso a espaços verdes e infraestrutura de transporte sustentável.

Mas nada disso terá efeito se não houver um efetivo engajamento comunitário, através da educação ambiental e a participação cidadã. Não sou eu quem está dizendo, são os estudos que apontam estas possibilidades. A nós, que não fizemos parar de chover nos primeiros erros (como diz a canção) temos de trazer de volta o sol. A cada manhã, cumprir uma pequena parte neste projeto de produzir grandes coisas em favor de nossa casa, nosso Planeta, nosso pedaço de existência no Rio Grande do Sul.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.

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6 Comentários

  1. E o negacionismo nosso de cada dia, e são muitos, inclusive e reinteradamente, por aqui, passando pano. Compreensível, pra quem tem dinheiro, o aquecimento ou o resfriamento se resolve com um moderno e caro equipamento. Os preços altos, o dinheiro compra. Talvez as eternas férias em ilhas paradisíacas, fiquem prejudicadas, mas nada que uma balada chique e regada a abusos, de toda ordem, não acalmem o coração de um negacionista rico. E segue o baile.

  2. Resumo da opera III, o retorno. Discutir problemas em tese é barbada e ‘empurrar’ medidas de cima para baixo geralmente dá alguma m. Jogos Olimpicos. Resolveram fazer ‘sustentabilidade’. Menu dos atletas incluindo mais opções vegetarianas, pouca carne (muito mal passada), etc. Atletas de muitos países chiaram e não foi pouco. Empresa de catering correu comprar mais carne e ovos para suplementar a proteina. Resultado foi ‘opções vegetarianas’ no lixo.

  3. Resumo da opera II, a missão. Previsões anteriores davam conta que não haveria gelo no Artico até 2013/2014. Ilhas da Polinesia desapareceriam em 2015. Cientistas diziam que o aumento medio de temperatura do planeta, não fossem tomadas medidas, subiria 1,5º C. Aparentemente já aconteceu. Previsões furadas não ajudam, favorecem as teorias da conspiração.

  4. Resumo da opera: tirando o lirismo ‘vamos comer côcô de colherinha e ser felizes’, tudo será verde e sustentavel no marketing; planejamento urbano para o que já existe não tem fundamento; ‘engajamento comunitario’ é só par dar risada.

  5. ‘Ainda temos tempo de buscar a adaptação e a implementação de medidas de mitigação: […]’. Texto aceita tudo, principalmente de quem não sabe do que está falando. Resumo: tudo o que foi citado não vai rolar.

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