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Olimpiadas e “trad wifes” – por Elen Biguelini

Viva para “nossas ginastas, skatistas, judocas! Viva todos os competidores”

Em plena semana de notícias frequentes de mulheres vencedoras demonstrando seu poder, surgiu uma nova “trend” em sites como o Tiktok e o Instagram. Na verdade, esta tendência já vem crescendo, mas se tornou novamente discutida após uma americana ser entrevistada e defender absurdos dignos do século XIX.

Dizer-se “não feminista” parece moda entre algumas jovens. É o pós-feminismo da década de 90 voltando com tudo. Jovens mulheres que não conhecem (e por vezes se recusam a conhecer) a história das mulheres e não percebem que tudo aquilo que fazem agora, inclusive escolher viver dentro dos padrões de feminilidade do século XIX – ou aquilo que elas percebem como tradicional, mas que nunca foi tradicional – é uma escolha permeada pelos avanços do feminismo.

Se mulheres no passado não tivessem lutado pelo direitos de todas as mulheres, as jovens “esposas tradicionais” da atualidade jamais poderiam escolher julgar o movimento feminista, pois não teriam tempo ou voz para isso.

As novas “Bridget Jones” (símbolo ápice do pós-feminismo) decidiram que são superiores a outras mulheres por quererem ser subservientes, trabalharem no lar e “fazerem tudo do zero”. É quase uma ofensa às mães solteiras, às mulheres que precisam trabalhar pelo sustento da família e até aos homens que optam por cuidar da casa, aos homens que cozinham, aos pais solteiros.

Ao mesmo tempo, vemos mulheres baterem recordes e ganharem medalhas. Mulheres que por muito tempo foram proibidas de participar das Olimpiadas, que sofreram muito preconceito para poderem conseguir seguir suas carreiras – por vezes em atividades que a sociedade vê como masculinas, como o caso da mulher cis que a internet decidiu que não poderia ser uma mulher simplesmente porque ganhou uma luta, ainda que ela seja sim cis (ou seja, não é trans, como as notícias falsas propagam).

É um momento estranho para ser contra o movimento feminista. Afinal, como poderíamos torcer pelas mulheres esportistas se elas não poderiam nem pensar em ter uma carreira sem o auxilio das feministas e sufragistas do passado?

Mas felizmente o avanço veio. E temos a cada nova competição novos nomes para adicionar à lista de mulheres exemplares. São exemplos para as meninas que olham com carinho para a jovem que cai, machuca-se, levanta com força nos olhos e termina a batalha. Quantas novas ginastas, skatistas, lutadoras de judô este ano não poderá trazer para o país? Quantos novos sonhos não se criaram nesta semana?

E não apenas para as mulheres! Os jovens meninos também podem se espelhar nestas figuras. Podem perceber o quanto a força feminina é valida e poderosa. Com estes ganhos inimagináveis no passado, podemos criar homens que aceitam as mulheres como elas são, sem desejar as modificar ou prender. Serão homens melhores assim como as nossas meninas serão adultas melhores no futuro.

Viva nossas ginastas, nossas skatistas, nossas judocas! Viva todos os competidores das Olimpiadas! Todes são ganhadores, exemplos e fazem a todos nós orgulhosos!

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

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18 Comentários

  1. Resumo da opera. Padrão dá o tapa, esconde a mão e se faz de vitima. Mulher estava numa fazenda em Utah cuidando da fazenda e das redes sociais. Esquerdista vai e faz uma materia esculhambando. Este detalhe é omitido, mostra-se a reação como se fosse ataque.

  2. ‘Todes são ganhadores, exemplos e fazem a todos nós orgulhosos!’ Ganhadores são os que levaram ouro. Participar da Olimpiada já é um feito, outra coisa. ‘Todos’ não, porque autora não tem procuração para falar em nome de um monte de gente.

  3. ‘[…] que aceitam as mulheres como elas são, sem desejar as modificar ou prender.’ Como fazem as faministas de esquerda com as ‘trad wifes’?

  4. ‘ Quantas novas ginastas, skatistas, lutadoras de judô este ano não poderá trazer para o país?’ ‘Exemplos’ a parte. Globo, com devido grão de sal, publicou materia afirmando que a media salarial de um atleta no Brasil é 2 mil por mes. Lirismo sempre acima da realidade.

  5. ‘[…] se elas não poderiam nem pensar em ter uma carreira sem o auxilio das feministas e sufragistas do passado?’ Sim, são completamente lesadas, precisam da tutoria de terceiros.

  6. Participação de atletas trans nas competições é algo a ser debatido. Chance nenhuma de prestar atenção nesta ‘controversia’.

  7. ‘[…] como o caso da mulher cis que a internet decidiu que não poderia ser uma mulher simplesmente porque ganhou uma luta, […]’. Obvio que não. Foi desclassificada de uma competição da Associação Internacional de Boxe. Associação existe, não importa o que o Comite Olimpico acha ou deixa de achar. O resto é papinho de advogado(a), ‘devido processo’, o que ‘a documentação diz’. Sabemos que a Terra é redonda porque existem evidencias, não porque ‘a documentação diz que é’. Nenhum exame foi feito. Nesta hora algum(a) imbecil vai falar ‘preconceito’, a resposta é bem fácil: Edinanci Silva. Isonomia.

  8. ‘Mulheres que por muito tempo foram proibidas de participar das Olimpiadas,[…]’. Jogos Olimpicos modernos começaram em 1896. Primeira mulher a competir, uma suiça, o fez nos Jogos de 1900.

  9. ‘[…] mães solteiras, às mulheres que precisam trabalhar pelo sustento da família e até aos homens que optam por cuidar da casa, aos homens que cozinham, aos pais solteiros.’ A grande maioria não vai tomar conhecimento do assunto. Também não passaram procuração para terceiros falarem em seu nome.

  10. ‘É quase uma ofensa […]’. Quando ‘ficar ofendido’ dá poder a alguem o numero de ‘ofensas’ se multiplicam. Coisa básica.

  11. ‘As novas “Bridget Jones” (símbolo ápice do pós-feminismo) decidiram que são superiores a outras mulheres […]’. As feministas esquerdistas (existem feministas racionais, é bom lembrar) decidiram que são superiores a outras mulheres edecidiram que irão ‘salvar’ as outras determinando como devem levar a vida.

  12. ‘Se mulheres no passado não tivessem lutado pelo direitos de todas as mulheres, as jovens “esposas tradicionais” da atualidade jamais poderiam escolher julgar o movimento feminista,[…]’. Dãããããã! Não poderiam criticar o que não existe ou existiu, obvio. E não notariam diferença nenhuma, estariam, grandes chances, fazendo exatamente a mesma coisa que estão fazendo agora.

  13. Uma jornalista ianque, Megan Agnew, escreve para o Times de Londres, pede uma entrevista para fazer uma materia. Detalhe importante, quem procurou quem. A ex-concorrente no concurso Miss Nova Yorque aceitou. Resultado? Transformou a familia tradicional num estereotipo (vermelhos não tem talento, não se poderia esperar outra coisa) e ‘lacrou’: trata-se de uma ‘oprimida’ pelo marido (e o conjunto de ‘ideias’ de jerico que alguns consideram ideologia). A entrevistada considerou um ataque a familia dela e chiou. ‘Mas reclamou do cansaço e de outras coisas nos posts da rede social’. Como muitos fazem, desabafam nas redes.

  14. Ballerina Farm. Influenciadora. Nasceu Mormon em Utah. Saiu de casa com 17 anos para estudar ballet na Julliard, prestigiada escola ianque. Aos vinte e poucos conheceu um cara da mesma idade, filho de bilionario, Mormon, e casou. Ainda em treinamento engravidou. Encurtando a historia intalaram-se numa fazenda de 130 hectares em Utah, produzem leite. Tem 8 filhos e canais nas redes sociais.

  15. ‘[…] após uma americana ser entrevistada e defender absurdos dignos do século XIX.’ E o famoso ‘direito de expressão’. Também o direito de levar a vida como bem aprouver, não como os outros querem.

  16. Tempos estranhos. Mulher contra a o avanço dos direitos femininos. Vai entender um absurdo desses. Eu acho que é doença, um transtorno ou burrice mesmo. Masoquismo, vai saber.

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