Por Clarisse Amaral (com Fotos de Laurent Keller) / Da Agência de Notícias da UFSM
“Nunca me puxaram a orelha por errar. Quero que vocês tenham a liberdade de fazer o que vocês acreditam ser melhor”. É com essas palavras que o pintor, desenhista, escultor e professor, Juan Humberto Torres Amoretti, descreve, para os alunos do curso de Artes Visuais da UFSM, a construção da sua carreira e, principalmente, a criação e execução do mural “500 Anos de Invasão da América” (1992). Após 32 anos do término do projeto original, a obra localizada no muro do Teatro Caixa Preta, que compõe o Centro de Artes e Letras (CAL), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), passa por um processo de revitalização, que realiza a repintura, com a orientação de seu autor.
A iniciativa partiu, em um primeiro momento, da Coordenadoria de Cultura e Arte, em diálogo com o artista. A partir daí, teve apoio e financiamento do Centro de Artes e Letras (CAL), da Pró-Reitoria de extensão (PRE) e por fundos do Grupo do Teatro Caixa Preta. A partir dessa decisão, o professor, pintor e desenhista, Altamir Moreira, foi convidado a coordenar a revitalização. Altamir já tinha realizado o projeto de pintura do mural de homenagem às vítimas da Kiss. A repintura do mural do Teatro Caixa Preta funciona por meio de um Projeto de Extensão, e os participantes são, em sua maioria, alunos do curso de Artes Visuais, bolsistas e voluntários, além de ex-alunos do CAL.
As atividades deveriam ter iniciado em 2023, entretanto, por questões organizacionais, o trabalho iniciou-se no final do primeiro semestre deste ano. O cronograma de tarefas que envolvem a revitalização é organizado em turnos. Atualmente, 7 pessoas trabalham entre manhã e tarde, durante os dias da semana. Em alguns momentos, Amoretti, idealizador e pintor da obra, conduz oficinas para auxiliar os envolvidos a tentar reproduzir -e sentir- sua visão artística, além de avaliar o trabalho realizado, conduzindo, sobretudo, a reprodução de cores mais parecida com o original. A conclusão do projeto está prevista para o final deste ano.
500 Anos de Invasão da América: uma obra com D.N.A latino
Em uma das oficinas ministradas por Amoretti para os participantes do processo de revitalização do mural do Caixa Preta, o autor ressaltou o quanto essa obra foi importante, tanto para seu crescimento como artista, como para o momento em que a UFSM passava. “O muro do Teatro Caixa Preta era vandalizado constantemente naquela época, por isso, eu propus essa ideia ao reitor da época, que quis executá-la e, assim, foram cerca de 150 projetos até ela sair do papel”, comenta.
Ao relembrar o processo de criação da obra, Amoretti ressalta que precisou prender gizes em taquaras de 6 metros para conseguir desenhar o esboço da pintura e todas as etapas de produção do mural foram realizadas com escadas. Atualmente, a equipe conta com ferramentas próprias para a execução do trabalho, como uma plataforma elevatória, uma maior quantidade de tintas – e de maior qualidade, já que, ao invés de utilizar tinta acrílica, utiliza-se esmalte acrílico – a sua disposição e utensílios mais adequados para a execução do trabalho.
O Mural, segundo as palavras do coordenador da revitalização, Altamir Moreira, é ousado, pois possui um “título questionador da narrativa histórica oficial dos livros escolares da época”. Ao revelar essa impressão em um dos textos que abre o Catálogo de Murais da UFSM, Moreira ressalta o quanto a construção do Mural, desde seu título, apresenta uma outra perspectiva desse evento histórico, substituído a palavra “descobrimento” -amplamente utilizada nos livros escolares e nos estudos em História da América Latina na época em que a obra foi realizada (1992)- por “invasão”, transformando o espaço público da Universidade em algo mais do que apenas belo, mas questionador e político.
Além disso, Amoretti utiliza figuras nesse Mural inspiradas por deuses peruanos que contribuem ainda mais para a mensagem disruptiva da obra. Sobretudo, Mama Oclo (filha da Lua) e Manco Capac (filho do Sol), divindades que eram localizadas na Ilha da Lua e na Ilha do Sol, respectivamente, e eram responsáveis por apontar a localização para um novo império.
Juan Humberto Torres Amoretti
Amoretti nasceu em 1946, em Lima, no Peru. Iniciou sua carreira ao estudar Desenho e Pintura na Escuela Nacional Superior Autónoma de Bellas Artes, aos 18 anos, em sua cidade natal. Depois de finalizar sua formação, Amoretti trabalhou com publicidade, após esse período, no Ministério da Educação do Peru como desenhista, fazendo cenários e maquetes. Essa experiência o ajudou a projetar e executar seu primeiro mural: “500 Anos da Invasão da América”.
Chegou ao Brasil em 1974, e lecionou na UFSM entre 1975-2008. Influenciado pela cultura peruana, suas obras também carregam referências do Impressionismo – que tem como característica a ausência de demarcações claras e a intenção de que a obra seja apreciável no todo, e não no detalhe. A partir de 1984, o artista passa a investir na figura realista e suas obras são vistas em murais da UFSM. Três murais estão localizados no campus da Universidade….”
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Pois então. Ficar velho tem disto. Lembro de passar de onibus e ver o Amoretti pintando esta bagaça.