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Tá russo! – por Orlando Fonseca

A coisa ficou Russa, o clichê vira ameaça real, com a nova postura do neo-tzar. Diante das movimentações de Zelensky na busca de apoio para se manter em guerra, Putin anunciou mudanças em sua doutrina nuclear. Já no Oriente Médio, o clima está cada vez mais aquecido e ameaçador de uma guerra total. O Hezbollah confirmou, neste sábado, a morte de seu líder Hassan Nasrallah, e disparou o alerta de retaliação contra Israel. As forças de Israel, por seu lado, avisam que estão preparadas para atacar em um front cujo cenário abrange o Líbano e o Irã. As coisas estão cada vez mais complicadas, para um observador comum, do outro lado do Atlântico, vislumbrar um mundo em paz. Os mais desavisados até dão de ombros, acreditando não ter nada com isso. Acontece que, se a coisa ficar mais russa do que está, para onde é que se corre?

Desde a guerra fria, nos já longínquos meados do século passado, as grandes potências vêm revisando de tempos em tempos os protocolos que têm impedido, até o momento, uma escalada bélica nuclear. Sob a doutrina vigente até agora, já revisada pela última vez em 2020, a Rússia se dispunha a pôr em uso seu arsenal nuclear, apenas como resposta a ataques que pudessem colocar a “própria existência do Estado” em perigo. Algo, digamos muito grande, quando pensamos no território russo. No entanto, o que se percebe agora é uma mudança se considerarmos um “ataque conjunto”. Ou seja, Putin indicou que, se a Ucrânia atacar a Rússia utilizando armamento fornecido por Estados Unidos, Reino Unido ou França, essas potências ocidentais poderão ser vistas como coautoras do ataque. E aí, galera inocente, aumentam as chances de Moscou mirar os seus mísseis diretamente para esses países. E as circunstâncias para um retaliação nuclear aumentam, com o anúncio putinesco de que as novas regras também se aplicam a Belarus, país aliado.

Os especialistas e organismos internacionais nos fazem refletir: estamos em perigo? Para alguns, Putin pode estar blefando, o que faz parte do jogo político da guerra. Agora, meus amigos, se ele estiver falando sério, há um risco – reconhecido por Washington – de que o conflito possa se transformar na Terceira Guerra Mundial. Bom, isso temos ouvido desde aquele período mencionado acima, quando alguns de nós eram criancinhas, e parecia ameaça de mãe, diante de alguma façanha arteira. Especialistas, no entanto, afirmam que o risco imediato de uma escalada nuclear permanece baixo. Embora Putin esteja dando uma de garnizé russo, os EUA e seus aliados ainda não autorizaram o uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia dentro do território russo.

O conflito entre Israel e Hezbollah já dura décadas, mas a intensidade dos recentes confrontos gerou temores de uma escalada regional. Segundo a agência Reuters, as Forças Armadas de Israel estão em alerta máximo, preparando-se para um possível confronto mais amplo, que poderia envolver também o Irã e outras forças aliadas na região. Mas estes eventos, manchetes dos últimos dias, estão longe de ser os únicos: atualmente há mais de 50 conflitos armados no mundo, incluindo 10 de grande escala. Em 2023, o mundo alcançou o maior número de conflitos armados desde 1946; no ano passado, foram 59 conflitos notificados, 28 localizados na África, segundo pesquisa do Instituto de Investigação da Paz, de Oslo. “Esse crescimento torna cada vez mais difícil para atores como grupos humanitários e organizações da sociedade civil melhorarem a vida das pessoas”, afirma Siri Aas Rustad. Ou seja, como família humana, estamos mais próximos da guerra do que da paz. Longe, portanto, de uma expectativa idealista de convívio fraterno e justo. Logo, o que precisamos é atualizar, como humanidade, a doutrina do diálogo e da diplomacia, investindo com eficácia no fortalecimento da democracia. Caso contrário, aumentará o risco de aventuras bélicas ao redor do nosso planeta, sem rota de fuga.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.

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17 Comentários

  1. Em tempo II, a continuação. Imperio Romano entrou em decadencia, os ‘barbaros’ invadiram e Roma nunca mais se recuperou. Tivemos uma idade média. Nada que uns mil anos não resolvam. Sem ameaça de guerra nuclear, crise climatica, mudança de matriz energetica, etc. De qualquer maneira é cruzar os braços, ser rotulado de xenofobo e esperar os resultdos. Alas, unica defesa da democracia por ai é ‘Churchill falou que é o pior sistema tirando todos os outros’. Como gostam de apelo a autoridade e chavões. Mostra ‘capacidade’.

  2. Em tempo II, a missão. Deixando os problemas cognitivos e o mau-caratismo de lado, vamos para as falácias. ‘Todos somos migrantes e só os indigenas são autoctones’. Questão de escolha arbitraria de datas. Primeiros humanos cruzaram uma ponte de gelo no Alaska há uns 15 mil anos atras. Final do século XIX e inicio do XX aconteceram migrações para as Americas. Organizada, legal. Em 1924 os ianques passaram lei limitando as imigrações. O filme Gangues de Nova Iorque não saiu do nada. Por aqui em 1906/1907 passaram uma lei para deportar migrantes que causavam problemas. Era generica mas focava nos anarquistas que causavam confusões. A falácia é marxista, a historia se repetiria. No futuro os recem-chegados contribuiriam para o ‘desenvolvimento da nação’. Vies naquela epoca era crescimento, agora é decadencia, totalmente diferente o contexto. Alemanha andou fechando as fronteiras. Também andam fechando fabricas da Volkswagen.

  3. Em tempo. Nem toda cidade tem Alcoolicos Anonimos, mas toda localidade tem as bestas conhecidas. Cortina de fumaça do horario de verão. Não acabou porque ‘um amigo do outro presidente não gostava’. Terminou porque com a inundação de condicionadores de ar o pico de consumo mudou. Com a seca e ondas de calor no centro do pais andou mudando de novo, um dromedario, um pico antes do meio-dia e outro perto de 3 horas da tarde. Economia divulgada pela imprensa é 400 milhões. Só em viagens ao exterior Rato Rouco gastou 164 milhões ano passado. Boato é que voltara, gostem ou não, problema fisiologicos ou não (inclusive para os adolescentes), depois das eleições. Ja estaria decidido.

  4. Resumo da opera. Predestinação da historia de Marx é furada (se lembro bem chupinhou do Hegel). O sonho de um governo mundial (comunista segundo alguns) com a Assembleia da ONU como um parlamento mundial foi para o beleléu. Conselho de Segurança que servia para evitar uma guerra entre as superpotencias já não funciona a contento (o resto da ONU é perfumaria). FMI e OMC já não tem mais força. Cerejas do bolo: Ianquelandia em decadencia e economia chinesa dando um freio de arrumação.

  5. ‘Logo, o que precisamos é atualizar, como humanidade, a doutrina do diálogo e da diplomacia, investindo com eficácia no fortalecimento da democracia.’ Imunidade da insignificancia de novo. Não ‘precisamos’ p#rr@ nenhuma. Humildade é tão grande que sabe do que a ‘humanidade’ precisa. De novo, irrelevante.

  6. ‘[…] uma expectativa idealista de convívio fraterno e justo.’ ‘Olha como sou legal, tenho valores “fofos”!’

  7. ‘Ou seja, como família humana, estamos mais próximos da guerra do que da paz. ‘ Que mané ‘familia humana’, familia são os consanguineos proximos.

  8. “Esse crescimento torna cada vez mais difícil para atores como grupos humanitários e organizações da sociedade civil melhorarem a vida das pessoas”. Muito dinheiro, muito mesmo, foi enviado para Gaza para ‘melhorar a vida das pessoas’. Virou armamento e uma rede de tuneis.

  9. ‘[…] atualmente há mais de 50 conflitos armados no mundo, incluindo 10 de grande escala.’ O que esta sendo tratado como o fim da ‘pax americana’. Interessante é que as tecnologias migram. Uso de drones começou no Iemen. Migrou para a Ucrania e agora já está na mão dos traficantes dos morros do RJ.

  10. Alas, soco na fuça é pedagogico. Certos participantes de ‘debates’ deveriam aprender. Malucos não faltam nas ruas.

  11. ‘Embora Putin esteja dando uma de garnizé russo,[…]’. A imunidade da insignificancia. Se houvesse relevancia e possibilidade de acordar de manha com um supositorio de polonio implantado no lugar adequado certas coisas não seriam escritas.

  12. ‘Os especialistas e organismos internacionais nos fazem refletir:[…]’. Maior parte é chute. Especulação. Algumas são até viaveis. Ucrania é uma guerra por procuração entre OTAN e Russia. Israel é uma guerra por procuração entre USA e Irã. Alguns diziam que Bibi estava espichando a guerra para se manter no poder. Agora ja se fala em destruição do Hamas, do Hezbollah, intervenção da China e retomada dos acordos de Abrahão. Resumo parcial é que tiram conclusões demais baseados em poucas informações. No caso da Russia não temos acesso ao que diz o outro lado, censura. Do lado de lá so viria ‘propaganda’, ficamos com a propaganda ianque somente.

  13. Guerra da Ucrania tem causas que são convenientemente ‘esquecidas’. Envolve um acordo verbal de não expandir a OTAN para leste. Foi desrespeitado. No inicio do conflito havia possibilidade de acordo de paz mas Boris Johnson, dentre outros, convenceram Zelensky a peitar os russos. Acusações de nazismo de parte a parte que ‘não colaram’. Resultado é que a Ucrania esta devastada. A curva demografica do pais foi para o espaço (a dos russos também). Serão necessarios recursos num eventual acordo de paz. A divida ucraniana (que produzira muitos bilionarios) não será pequena. Alas, depois da Segunda Guerra Mundial o Reino Unido terminou com uma divida externa perto de 760 bilhões de libras, ao redor de um trilhão de dolares.

  14. ‘Os mais desavisados até dão de ombros, acreditando não ter nada com isso.’ Coisas fora de controle acontecem independente de preocupação. Mas cada um joga seu tempo fora como bem lhe aprouver. Preocupar-se com os problemas mundiais é um bom refugio para esconder-se dos problemas locais e pessoais.

  15. ‘As coisas estão cada vez mais complicadas, para um observador comum, do outro lado do Atlântico, vislumbrar um mundo em paz.’ Problema do ‘observador comum’, o resto do planeta não tem nada a ver com as expectativas irreais de qualquer pessoa.

  16. Israel, o Mossad particularmente, mostrou que ainda tem muitos recursos. Pagers e walkie-talkies. Operação de muitos anos, montar uma empresa, conseguir o licenciamento, montar uma base de clientes e uma fachada convincente. O assassinato de um dirigente do Hamas no Irã foi proporcionado por integrantes da Guarda Revolucionaria.

  17. ‘[…] com a nova postura do neo-tzar.’ Há um video na web onde o proprio fala sobre esta questão. Russia passou grande parte da historia sob governos autocraticos. Tentou implantar uma democracia representativa e virou o caos. Se extrapolarmos isto para a China a chance de uma guerra civil por lá e o desmantelamento do pais não é absurdo.

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