De mestre e de carinho – por Orlando Fonseca
No começo desta semana, temos a comemorar o Dia do Professor, uma data que remonta ao Brasil Império, quando, através de um decreto de D. Pedro I, organizou-se o Ensino Elementar. Foram criadas então as escolas de primeiras letras (como se referia à alfabetização e ao letramento), além da regulamentação do salário dos professores. Muita coisa mudou de 1827 para cá, e não apenas pela passagem da monarquia para a república. Mas uma coisa ainda carece de atenção de todos os brasileiros, tanto administrações públicas como cidadãos (pais e tutores em especial): a educação e o trabalho de professores e professoras. Por isso, neste dia em que a gurizada tem um feriadinho para comemorar, e os responsáveis em pensar o que fazer com os tais, ao longo do dia, é preciso refletir sobre o tema, considerando que ainda estamos em um período eleitoral (segundo turno, em nossa cidade).
Em vista de como a responsabilidade pública com a educação se organiza no Brasil, cabe ao município tratar da fase inicial do processo educativo. Ainda que haja uma corresponsabilidade federal, com a distribuição de fundos para a educação básica, cabe ao administrador municipal a manutenção das escolas, a contratação de professores e o funcionamento do sistema. Para a maioria dos candidatos ao posto de prefeito, o tema está em destaque na propaganda eleitoral. Inclusive, a legislação prevê a vinculação de receitas na ordem de 25% para a educação, sob pena de crime de responsabilidade fiscal. Logo, esse é um momento em que agentes públicos postulantes aos cargos nas diversas esferas do poder (prefeitos e vereadores) colocam a educação como prioridade em seu rol de propostas e agenda política. Evidentemente que a maioria desconhece o que é preciso para tornar isso realidade, por isso, dentre os lugares comuns de suas plataformas há sempre aquela que se chama: “valorização dos professores”. No entanto, o que se vê de um modo geral é o tratamento de educadores como mero número nos orçamentos apertados, e isso não é um fenômeno municipal, porque ocorre tanto no nível estadual quanto no federal.
Não considero que a questão salarial seja o fator preponderante na escala de valores para que aquele que se dedica ao ensino se assuma como “mestre” e seja tratado com o “carinho” que o filme de 1967 tornou provérbio. Ao longo dos anos em que exerci a profissão, embora tendo o título de doutor, prefiro ser reconhecido como “mestre”, pelo significado sublime que esse tem. Em nenhum momento de minha carreira, dentro e fora da universidade, ocorreu-me de ensinar menos ou com menor cuidado, por não receber a justa remuneração. E ao longo da jornada, sei que muitos colegas agem assim também. Nas vezes em que participei de movimentos pela valorização salarial, jamais perdi a dimensão que este título tem – para mim, para meus alunos e para os que me contrataram. Isso, contudo, não me isenta de considerar a responsabilidade que têm administradores públicos em tratar os profissionais da educação com dignidade. Além disso, os programas de governo, em que a prioridade esteja bem definida, é importante que os eleitores reconheçam o que, efetivamente, os candidatos e candidatas têm feito para merecer um voto de confiança (ainda há segundo turno).
Não é difícil perceber, nos dias atuais, uma relativização do significado que o título de “mestre” assumiu na escola ou na universidade. Qual a sua importância, pois historicamente se trata de um incômodo orçamentário para os gestores? Qual a sua posição na sociedade se alunos desconsideram a sua autoridade e o agridem? Qual a sua relevância, se os usuários de tecnologia de informação lhe conferem pouca (ou nenhuma) autoridade de cátedra? Se fosse realizado, no Brasil de hoje, um filme que se chamasse “Ao Mestre com carinho”, não teria o mesmo impacto emotivo daquele filmado no século passado. Na tradução brasileira, tanto a palavra “mestre”, quanto a palavra “carinho”, na mesma frase, fazem pouco sentido nos dias atuais. Aliás, pensar ainda em termos de “carinho”, beira o disparate, para não dizer o ridículo. Contudo, convoco alunos, pais e políticos a colocarem o homenageado no devido lugar de respeito que merece. O Brasil, nossa cidade, a democracia agradecem.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.
Resumo da opera. Sistema de ensino tupiniquim precisa de uma reforma. Deixar as raposas cuidarem do galinheiro não resolve. Teria que ser algo no genero da Missão Francesa na USP da decada de 30. Trazer gente de fora. Especialistas em educação daqui são muito atrasados, dogmaticos, ideologicos, bitolados e donos da verdade para mudar alguma coisa. Alas, situação lembra o Coalhada, personagem do Chico Anysio. Não jogam nada, majoritariamente, e querem massagem.
Alas, tem muita gente por ai que defende um absurdo como ‘não importa que o sistema de ensino produza maus medicos, maus veterinarios, maus agronomos, maus engenheiros e maus advogados; importante é que produza “cidadãos/cidadãs conscientes e engajados”‘.
Alas, ‘democracia’ agora é colocada em todo lugar, não importa o contexto.
‘[…] embora tendo o título de doutor, prefiro ser reconhecido como “mestre”,[…]’. ‘[…] convoco alunos, pais e políticos […]’. ‘ O Brasil, nossa cidade, a democracia agradecem.’ Ego incomensuravel.
‘Qual a sua posição na sociedade se alunos desconsideram a sua autoridade e o agridem?’ Agressões não são tão comuns. Se os docentes querem dar aula como sempre fizeram é um problema. Não querem se adaptar. Passando informações que são disponiveis em qualquer celular. O que é ensinado e como é ensinado deveria sofrer adaptação. Mas daí vão pedir mais dinheiro e mais folga.
‘[…] ocorreu-me de ensinar menos ou com menor cuidado, por não receber a justa remuneração.’ Alguns fazem, a maioria é na base do ‘é o que a casa tem para oferecer’. ‘Faz de conta que eu ensino, façam de conta que aprendem’. Ninguém reprova e todo mundo fica contente.
‘[…] seja tratado com o “carinho” que o filme de 1967 tornou provérbio.’ O filme é baseado numa autobiografia. O autor odiou o filme. Para começo de conversa achou muito ‘sentimental’.
Salario inicial dos professores estaduais, inicial, é algo como 4800 reais (acredito que brutos). Em SM os proventos variam, há quem ganhe 7 mil (liquidos), outros 4. Depende de gratificações. Ha quem ganhe perto de 3 mil (liquidos), os temporarios e estatutarios com 25 horas por semana. Nesta hora aparece o ‘Japão e França pagam mais’. Paises desenvolvidos pagam mais porque são desenvolvidos ou são desenvolvidos porque pagam mais? O custo de vida por lá é maior ou menor? Eles tem o tanto de férias que existe aqui? Alas, salario médio no Brasil é pouco mais de 3 mil reais (44 horas, bom lembrar).
‘[…] tratamento de educadores como mero número nos orçamentos apertados,[…]’. Não tem como gastar dinheiro que não existe.
‘[…] a legislação prevê a vinculação de receitas na ordem de 25% para a educação, […]’. O conceito de ‘educação’ é ‘ampliado’, coisas que pouco ou nada a ver tem com a area entram nesta rubrica.