A lista com (mais de meia centena de) mulheres autoras brasileiras – por Elen Biguelini
O longo trabalho sobre esse grupo específico de intelectuais dos anos 1.800
Há cerca de dois anos começamos a fazer semanalmente (ou quase semanalmente) pequenas ou mini biografias de autoria feminina brasileira. No total, foram cerca de 52 mulheres que nasceram no Brasil oitocentista e publicaram textos (por vezes com uma obra única, outras com vasta obra).
Este trabalho foi a continuação de nossa pesquisa de doutorado, na qual havíamos feito uma listagem de autoria feminina portuguesa oitocentista.
Começamos, há 2 anos, com uma lista angariada durante a pesquisa de doutorado, baseada em autores que já haviam feito listagens de autoria, por vezes feminina. Algumas destas autoras foram encontradas em catálogos de bibliotecas, e nada conhecíamos de sua biografia. Dentre estas, algumas permanecem incógnitas. No entanto, o avanço da pesquisa genealógica online, bem como o mais fácil acesso a periódicos por meio da plataforma online da Fundação Biblioteca Nacional, permitem que a pesquisa biográfica se torne muito mais fácil. Enquanto em décadas passada seria necessário o deslocamento para as bibliotecas mais distantes, ou horas em salas fechadas, atualmente podemos fazer as pesquisas no conforto de nossas casas.
Isso não diminui, no entanto, o trabalho árduo e lento de pesquisa, que perpassa muitas horas observando letras praticamente ilegíveis para olhos contemporâneos, em papeis destruídos e corroídos, tentando decifrar registros de nascimento, batismo, casamento e óbito. Ou ainda o lento trabalho de analisar o que é encontrado e confirmar a veracidade dos fatos.
“É mesmo esta autora que está aqui mencionada?”; “A autora não mudou de nome com o casamento?”; “Como encontrar registros se a obra foi mantida manuscrita?”; etc.
Todos estes questionamentos procuramos desvendar.
Mas a pesquisa de autoria feminina ainda precisa avançar muito. Quantos dados não teriam ficado perdidos após um casamento, visto que as mulheres trocavam seus nomes? Quantas famílias não esconderam a inteligência de suas filhas, visto que a educação e o conhecimento não eram prioridades para a formação feminina da época?
Quando Virginia Woolf afirma que foi no século XIX que as mulheres começaram a escrever, ela o fez pensando na atividade econômica relacionada a publicação. Muitas mulheres escreviam antes deste século. Mas, verdadeiramente, durante o oitocentos percebemos um ‘boom’ nos textos de autoria feminina, visto que ao terem maior acesso a educação formal (as escolas para mulheres começaram a surgir nesta época) tinham também mais possibilidade de ascender com a palavra escrita.
Algumas de nossas autoras foram mulheres casadas, cujos maridos aceitavam sua atividade escrita. Outras viúvas que utilizavam a escrita como forma de sustento. Mas notamos nestas autoras brasileiras algo que se diferenciou de nosso trabalho de doutorado, encontramos mulheres que tinham o ensino como profissão. Isto ocorreu provavelmente pois focamos nossa tese entre 1800 e 1850, enquanto aqui apresentamos nomes que tiveram a vida e obra posteriores a 1850. Demonstra, no entanto, que assim que puderam alcançar a educação formal nada pôde segurar as mulheres cujo talento até o século XIX tinha sido mantido fechado, escondido e compartilhado apenas entre familiares.
(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site
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