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O individualismo, a caridade e as festas de Natal – por Elen Biguelini

Chegamos ao último mês do ano. Celebrações por todos os lados, festas da empresa, reunião com amigos.

Este mês é repleto de alegrias, reuniões com amigos que não vemos há anos, de caridade e atividades para o bem do próximo.

É muito bom ver os seres humanos se auxiliando, por meio de doações e presentes.

Todo dezembro lembramos da fragilidade humana. Independente da religião, as festas de final de ano acabam levando as pessoas a atitudes mais humanos, menos egocêntricas. Grupos se unindo para doar presentes a uma escola local, outros se reunindo com o propósito de organizar uma celebração para moradores de rua, demonstram que a sociedade não é de todo egoísta.

Desde o século XIX a sociedade passou a se tornar individualista. Recentemente, este individualismo chegou a níveis altíssimos. Certos grupos esquecem completamente da sua posição dentro da sociedade. Enquanto durante o século XVIII as pessoas se compreendiam como dentro de um todo (o que a história demográfica chama de família tronco), as sociedades mais contemporâneas colocam o individuo como o centro.

Isto é um avanço importante na história da humanidade. Os seres humanos passaram a focar mais naquilo que traz as felicidades individuais, aceitar mais as diferenças na sociedade (religião, cor, sexo, sexualidade, etc…), e permitir escolhas individuais que vão contra as regras sociais levando a mudança destas mesmas regras (tal como os padrões sociais de gênero, o racismo, etc). Assim, o surgimento do individualismo na sociedade acarretou em avanços sociais importantes.

Mas ao mesmo tempo, trouxe o egocentrismo e o egoísmo exagerados. Ao colocar o individuo acima de tudo, as pessoas passaram a ignorar que ainda fazem parte de um todo. Esquecem que enquanto elas tem muito valor, o outro também tem valor.

O individualismo unido ao capitalismo trouxe a fome. Não que nas sociedades anteriores não houvesse fome, pelo contrário, mas cabia ao grupo como um todo alimentar à todos.

Atualmente, no entanto, com a distancia cada vez maior entre as classes sociais, parece que alguns só lembram da existência dos outros durante o mês de dezembro.

Como dito acima: é muito bom ver que a sociedade não se esqueceu de seus desafortunados. Mas gostaríamos de ver estas mesmas atitudes durante todo o ano e não apenas como ações pontuais em uma data comemorativa.

Cabe a todo a sociedade perceber que o indivíduo é sim importante, mas o todo também o é. Ignorar aos necessitados ao longo do ano e se reunir apenas no mês de dezembro pra ajudar ao próximo não celebra o Natal, apenas demonstra cada vez mais esquecemos o que é ser humano.

Perpetuemos, então, este sentimento de caridade para todo o ano, e não apenas durante o mês de dezembro.

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

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3 Comentários

  1. ‘levando as pessoas a atitudes mais humanos, menos egocêntricas’. ‘ demonstram que a sociedade não é de todo egoísta.’ ‘Mas ao mesmo tempo, trouxe o egocentrismo e o egoísmo exagerados.’ ‘O individualismo unido ao capitalismo trouxe a fome. ‘

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