Artigos

Mãos dadas e firmes para suportar o ódio em escala industrial – por Valdeci Oliveira

Recomeço de Trump: vem “ainda mais radicalizado, provocativo e negacionista”

A vida tem momentos em que se mostra realmente contraditória. A vitória e agora a posse de Donald Trump como o 47º presidente dos Estados Unidos é um claro exemplo. Na dita “maior democracia do mundo”, funcionários públicos que operam programas de diversidade, equidade e inclusão de mulheres, minorias e grupos étnicos quase sempre marginalizados estão sendo colocados em licenças remuneradas e sites governamentais que trabalham nesse sentido saíram do ar.

Não bastasse impor a ausência do estado nessas questões, busca, com o poder do cargo, fazer com que empresas e grandes conglomerados privados acabem com iniciativas de respeito e reconhecimento desses segmentos sociais no ambiente de trabalho ou apoiem iniciativas de ONGs que atuam com essas pautas.

A lista vai adiante e inclui a deportação de milhares de estrangeiros, principalmente de origem mexicana. O crime? Não estarem 100% regularizados, apesar de pagarem seus impostos e historicamente realizarem trabalhos sujos, brutais e pesados – e não necessariamente bem remunerados – para que a sociedade estadunidense se mantenha organizada e bem apresentável.

Neste sentido, para que se tenha uma pequena noção do que isso significa, recomendo um filme tragicômico chamado “Um dia sem mexicanos”, que se passa no estado da Califórnia. Em resumo, por um motivo não explicado, um dia os nascidos ou descendentes da terra de Zapata e Pancho Villa simplesmente desaparecem.

Assim, nas casas as pias se tornam depósitos de louça para lavar, jardins se transformam em terrenos baldios, o lixo nas ruas não é recolhido e nas fazendas as árvores ficam abarrotadas de frutas não colhidas, entre outros problemas, pois não há braços para realizarem “trabalhos que os americanos não querem fazer”.

Mesmo sendo classificado como fanfarrão, boquirroto, mentiroso e até mesmo palhaço – comparação injusta com os artistas que dão vida a esse personagem de alma ingênua -, o que preocupa é o caráter (ou falta dele) demonstrado a partir de suas falas e ordens executivas assinadas logo no primeiro dia de governo.

Não que sejam novidade, mas deixam claro que o recomeço da era Trump nos EUA vem num modelo ainda mais radicalizado, provocativo e negacionista. Nomear um antivacina para cuidar da Saúde é apenas um exemplo – coisa que assistimos por aqui e que colaborou enormemente para termos mais de 700 mil vidas ceifadas na pandemia.

A saída da Organização Mundial da Saúde acusando sem provas o organismo da ONU de roubo, o envio de milhares de soldados à fronteira com o México, a deportação em massa, o não reconhecimento dos direitos civis de crianças nascidas em solo estadunidense e a retirada do país do acordo climático de Paris – que se não era perfeito pelo menos buscava garantir à raça humana um horizonte com perspectivas reais de sobrevivência – se unem às ameaças de invadir ou anexar países e territórios conforme seu interesse.

Sem deixar dúvidas no mais raso analista de geopolítica, trata-se de indicativos que aprofundam ainda mais o fosso entre o civilizatório e o que desejamos em termos de relações sociais e humanas e tornam ainda mais evidente a ampliação do perfil nazifascista nesse seu segundo mandato, vide o simbolismo cruel da saudação feita pelo bilionário Elon Musk no dia da posse da nova gestão.

Para satisfazer a seus seguidores e ao seu próprio conceito de “mundo”, não há como não colocar em risco o direito à vida e imprimir o medo em milhares de pessoas, incluindo seus concidadãos que não possuem o sangue dos fundadores, amam de forma diferente do “tradicional” ou não seguem o Velho Testamento sem margem para interpretações.

A avaliação é que a sua vitória – não sem um traço de vingança – é vista por ele e seu grupo como uma carta branca para impor ao mundo e aos seus o radicalismo religioso, a xenofobia, o ódio em escala industrial, a eugenia unida a um darwinismo econômico e social via sanções econômicas, altas tarifas ou força militar.

Choca também o caráter lacaio, subserviente e antipatriota da comitiva de deputados de oposição ao presidente Lula que, numa clara demonstração de complexo de vira-lata, foram à posse, em Washington. Barrados, participaram de rega-bofes em retribuição ao apoio, pois, além da bajulação, defendem, inclusive, sanções comerciais contra o Brasil, país que, ao lado da América Latina, foi colocado por Donald Trump, durante entrevista com jornalistas estrangeiros, como sem serventia ou interesse.

O momento é de aglutinar forças em ações com vistas a barrar retrocessos e não dar campo ao obscurantismo, ao atraso civilizatório, à normalização da crueldade, à intolerância, à exclusão. O momento impõe um compromisso ainda maior de todos aqueles que lutam pela democracia, pela proteção ambiental, pela busca da inclusão e da igualdade e por um mundo mais humano e solidário. Torna-se ainda mais necessário que coloquemos em prática aquela máxima que nós, brasileiros e brasileiras, experimentamos não faz muito: ninguém solta a mão de ninguém.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo