Os salões literários – por Elen Biguelini
Por uma razão pessoal recentemente a articulista se recordou dos salões literários da viscondessa de Balsemão.
“O que seria um salão literário?”, poderia perguntar o leitor. Era uma prática relativamente corriqueira nos altos níveis sociais durante o final do século XVIII e início do século XIX. Não é à toa que este período é chamado das “Luzes”. Era uma época de grande avanço social. O iluminismo é grandemente estudado por uma grande leva de historiadores importantes. Foi uma época em que apesar das dificuldades pela distância, redes de conhecimento eram criadas entre conhecidos de diversos países, de modo a repassar informações por meio de cartas, livros e jornais.
Os mais ilustres nomes mantinham ao seu redor outros ilustres. Os mais ricos se aproveitavam dos mais famosos intelectuais, os introduziam ao seu meio, e aproveitavam de seu conhecimento. Alguns ricos e poderosos eram eles próprios os intelectuais.
Neste meio surgiu uma nova posição para as mulheres. A diretora dos salões. Ou seja, aquela que organizava e coordenava os encontros entres os ilustres literatas, musicistas, poetas, intelectuais no geral, cientistas e mesmo artistas ou religiosos. Não sem talento, estas mulheres tinham suas próprias obras recitadas nestes encontros, ou tinham a enorme habilidade de coordenar os egos e amaciar os orgulhos.
Muitas foram famosas pelas suas grandes salas e encontros. Aquelas com os nomes mais reconhecidos são as francesas: A marquesa de Lambert, Madame d´Epinay (que teve entre seus amigos o próprio Rousseau), Madame Necker, Madame de Lespinasse e Mademoiselle de Scudery, entre outras.
Embora a maioria das chamadas ‘salonnières’ fossem francesas, alguns nomes femininos podem ser referidos em outros países. Em Portugal, uma destas era a viscondessa de Balsemão.
Esta ilustre senhora portuguesa, cuja morada pode ser visitada no Porto, o Palacete dos Viscondes de Balsemão, recebeu em sua casa nomes importantes do cenário literário. D. Catarina Micaela de Sousa César e Lencastre (1749-1824) escreveu peças de teatro e poesia. Construiu em sua casa um pequeno teatro para seu próprio uso. Ela geria a mais alta sociedade literária do Porto. Ela havia tido contato com os serões literários londrinos, durante uma viagem de seu marido, então embaixador de Portugal na Inglaterra, o que havia aberto seus conhecimentos e desejo de se expressar para o mundo.
Ela era conhecida como “a Safo Portuguesa” por sua capacidade poética.
A lembrança desta figura ilustre possibilitou uma nova série que a articulista pretende iniciar proximamente: uma listagem breve de figuras femininas como esta, que desbravaram terras previamente inabitadas por mulheres (ou melhor, raramente habitadas por mulheres, visto que algumas ao longo da história aparecem como membros ilustres da elite cultural).
(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
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