Sorte, êxito e democracia na caminhada! – por Valdeci Oliveira

No meu primeiro artigo do ano, gostaria de desejar toda sorte e êxito na caminhada para os prefeitos e prefeitas, vices, vereadores e secretários que tomaram posse em 1° de janeiro. Esse ato, o da posse, costumo dizer, é uma espécie de “cereja do bolo” para quem passou poucos meses atrás por um processo que, na maioria das vezes, nada mais é que uma dura e desgastante disputa eleitoral – que envolve desde “caneladas” adversárias, solas de sapato em frangalhos, alguns quilos a menos ao final do processo e, com sorte, sem uma úlcera – e foi aprovado no “teste”. Na caminhada que venho fazendo há mais de meio século, passei por muitas delas e para diferentes cargos, nem sempre ganhando, mas, mesmo parecendo contraditório, sempre me sentindo vitorioso tamanho é o aprendizado.

Mas a vitória não é apenas dos homens e mulheres que comandarão as cidades gaúchas ou que terão assento nos respectivos Legislativos municipais. O sucesso, a conquista por meio do voto soberano, é de toda a sociedade, independentemente em quem se votou, se conseguiu ou não eleger seus representantes. Apesar do lugar comum, da frase clichê, estamos falando da verdadeira “festa da Democracia”, de sua consolidação, momento que representa um capítulo importante que compõe o intrincado e por vezes complexo processo de fortalecimento e ampliação da cidadania brasileira. Estamos a falar de uma Democracia que permanentemente precisa ser valorizada, cuidada e defendida por todos, seja de que partido for.

E ao cumprimentá-los, coloco à disposição dos escolhidos pelo povo o nosso mandato na Assembleia Legislativa – que na verdade não é meu, mas das forças sociais que o possibilitaram – para apoiar o trabalho das gestões municipais junto às suas comunidades, assim como na interlocução com os governos gaúcho e federal. E a partir de um debate transparente, buscaremos a concretização das suas pautas por meio da elaboração e envio de projetos que dialoguem com a realidade de homens e mulheres e que façam a diferença em seu dia-a-dia. Ao prefeito eleito da minha querida Santa Maria, as portas de meu gabinete, como de costume, nunca estarão fechadas, pois acima das nossas diferenças políticas está o interesse público, que deve ser a prioridade de todos os representantes populares.

Essa minha postura, que antes de qualquer coisa é minha obrigação enquanto sujeito político no cumprimento de um mandato eletivo, é também porque acredito piamente e sem a menor ponta de dúvida que, sem nunca abandonar nossas convicções, é com muito diálogo, paciência, perseverança e união de esforços que vamos melhorar a qualidade de vida, a sustentabilidade nas nossas cidades e gerar mais oportunidades à população, seja no campo do emprego, da renda, da saúde, do combate à fome, da educação e da participação social. E nesse rol de felicitações, meu cumprimento mais do que especial aos e às representantes do meu partido, o Partido dos Trabalhadores, que também assumem importantes tarefas nos municípios do RS, seja como prefeitos, vices ou vereadores ou vereadoras. Por fazer parte dessa “escola”, tenho total confiança na capacidade de luta e de trabalho de vocês.

E por todas as considerações explanadas, não posso deixar de registrar também minha tristeza, desconforto e séria preocupação com a fala daquele que, reeleito, será o responsável pela gestão da nossa maior cidade, o nosso símbolo político-administrativo que é a Capital de todos os gaúchas e gaúchas e que representa nacionalmente nossos valores, nossa cultura, nossa identidade. Em seu discurso de posse, entre tanto o que era preciso enfatizar, preferiu relativizar o valor da Democracia, justamente o sistema que permitiu a ele estar ali naquele momento. Ao afirmar, numa pretensa defesa da “liberdade de expressão”, que políticos e cidadãos podem defender ditadura sem serem responsabilizados por isso, o alcaide de Porto Alegre ignora a fundamental compreensão coletiva de que política se faz com alma e não com o fígado. Por seu raciocínio míope e chocante, também se poderia defender a volta da escravidão. Ou, como descreveu a filósofa alemã, de origem judaica, Hanna Arendt, o “mal absoluto e que não tem compromisso com a dignidade da pessoa humana”, o extermínio do diferente.

Os desafios, muitos, estão postos, batendo à porta de gestores e legisladores. E, depois de tantos exemplos que vivemos e assistimos nos últimos anos, não temos o direito de ignorar que somente com o exercício diário e constante da política com “P” maiúsculo é que chegaremos à desejável e necessária convivência entre diferentes.

Por fim, do fundo do meu âmago, desejo que os homens e mulheres eleitos para tão nobres cargos honrem cada voto recebido, cada olhar de confiança que alcançou seus olhos, cada proposta apresentada aos seus eleitores sem nunca esquecer que o objetivo maior é servir ao povo e não dele se servir.

Fazer isso já é meio caminho andado.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.