Avisem a imprensa. Trump elegeu-se presidente dos Estados Unidos, e não do mundo – por Carlos Wagner
Parece que Donald Trump está ocupando há muitos anos o cargo de presidente dos Estados Unidos, tal é o volume de confusões armadas pelo republicano de 78 anos nessas meras duas semanas que se passaram desde a sua posse. O seu estilo de governar é o de uma “metralhadora giratória”, uma gíria das redações dos tempos das barulhentas máquinas de escrever para definir uma pessoa que briga o tempo todo com todo mundo. O carro-chefe das polêmicas são as deportações de imigrantes ilegais, que garantem as manchetes nos noticiários ao redor do planeta. Na sexta-feira (31/1), foi capa nos jornais que um enviado de Trump, Richard Grenell, estava em Caracas, capital da Venezuela, negociando com o presidente do país, Nicolás Maduro, a liberação de seis americanos presos e o recebimento de imigrantes venezuelanos que serão deportados. A maneira como a imprensa noticiou o assunto fez parecer que o governo americano estava dando um ultimato a Maduro. Alguém precisa informar a imprensa que Trump se elegeu presidente dos Estados Unidos, não do mundo. É sobre isso que vamos conversar.
Por que não se tratou de um ultimato o que aconteceu na Venezuela? Mas de uma negociação que foi favorável ao ditador venezuelano. Para começar, o fato de que os seis americanos faziam parte de um grupo de 150 estrangeiros que foram presos durante a polêmica reeleição de Maduro, acusados de vários crimes, entre eles de serem mercenários e agentes dos serviços de inteligência de seus países. Já na questão de receber venezuelanos deportados, foi um presente para o governo da Venezuela. Por quê? Parte deste grupo é gente da oposição venezuelana que está no território americano com “Status de Proteção Temporária (TPS)”, um benefício concedido pelo ex-presidente Joe Biden (democrata), 82 anos. Trump acabou com o TPS e vai deportá-los. É tudo que Maduro quer. Além disso, também serão deportados dois sobrinhos do presidente venezuelano que estão presos por tráfico de drogas e um dos seus amigos, Alex Saab, preso por lavagem de dinheiro. Trump postou na rede social X: “Acabei de ser informado que traremos seis reféns da Venezuela para casa. Obrigado a Ric Grenell e a toda minha equipe. Bom trabalho”. A oposição a Maduro está reclamando contra o fim do TPS. O segundo assunto mais polêmico da atual administração americana é a taxação das importações. No último sábado, Trump anunciou que taxou em 25% as importações de dois países vizinhos, o México e o Canadá, e em 10% as da China. Países como o Brasil “colocaram as barbas de molho”, um antigo dito popular que significa que se deve ficar alerta para um perigo iminente. Além da questão da taxação, Trump já renomeou o Golfo do México como Golfo da América, enfurecendo o governo mexicano, e guarda na gaveta outras ameaças, entre elas anexar o Canadá e a Groenlândia e retomar o controle do Canal do Panamá. Também sugeriu que os palestinos, que estão em guerra com Israel, fossem transferidos da Faixa de Gaza para o Egito. Uma sugestão que foi recebida com uma saraivada de vaias.
Acereja do bolo. Na noite de quarta-feira (29/1), um avião a serviço da American Airlines e um helicóptero Black Hawk, do Exército americano, se chocaram no ar em Washington, DC, matando 67 pessoas (64 no avião da American e três no helicóptero). Trump fez um comunicado de apoio às famílias das vítimas e aproveitou a oportunidade para acusar as administrações dos presidentes democratas Barack Obama (2009 a 2017), 63 anos, e Biden (2021 a 2025) de terem prejudicado o desempenho profissional das agências que cuidam do tráfego aéreo com a implantação de políticas de gênero para a contratação de controladores de voo. E assinou um decreto varrendo da administração federal as políticas de gênero. Indagado por um jornalista de onde tinha tirado a história da relação entre a política de gênero e a segurança do tráfego aéreo, ele deu uma resposta atravessada e mostrou-se irritado. A irritação de Trump me lembrou o seguinte. No seu primeiro mandato (2017 a 2021), a maneira dele agir com a imprensa, chutando as canelas dos repórteres, gritando aos quatro ventos que os jornais tradicionais “já eram” e atacando as minorias, causou surpresa entre os repórteres e comentaristas políticos. No final do governo, a imprensa descobriu que boa parte dos comentários do então presidente eram bravatas. E que as tentativas de colocar em prática medidas polêmicas tinham sido boicotadas pelos conservadores do seu partido aliados com os burocratas da máquina administrativa federal. A imprensa acumulou um considerável conhecimento do modo de Trump de agir durante o seu primeiro mandato. Chegou a hora de começar a usar este conhecimento para separar as bravatas das verdades. A grande dificuldade de fazer essa separação nos dias atuais é a aliança do presidente com o bilionário Elon Musk, 53 anos, dono do X, e o magnata Mark Zuckerberg, 40 anos, proprietário da Meta (Facebook, WhatsApp e Instagram), que colocaram as suas redes sociais à disposição de Trump para espalhar as suas mentiras contra seus adversários políticos.
Trump foi derrotado por Biden em 2020, quando concorreu à reeleição. Acompanhei as eleições americanas na época. O discurso de Biden foi mais eficiente que o do adversário. Mas Trump aprendeu com a derrota e no ano passado teve uma vitória expressiva sobre a candidata democrata, a então vice-presidente Kamala Harris, 60 anos. O principal argumento de Trump na defesa de suas pautas de extrema direita é acabar com a globalização da economia. O que seria uma volta ao passado. Quais as chances dele vencer? Muito difícil, porque os Estados Unidos são um dos construtores da globalização.
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(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.
SOBRE O AUTOR: Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 74 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.
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