DestaqueSanta Maria

CIDADE. Cultura, educação, política… O que impede Santa Maria de possuir um plano de arborização?

Secretaria de Meio Ambiente prepara projeto para arborizar o município

Novo Plano de Arborização de Santa Maria terá como foco a promoção de soluções sustentáveis para a arborização da cidade a fim de proporcionar melhor qualidade de vida e resiliência climática. Foto João Alves / Prefeitura / Arquivo

Por Maiquel Rosauro

Esta terça-feira (11) promete ser terrivelmente quente em Santa Maria. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê uma temperatura mínima de 26ºC e máxima de 39ºC. Ou seja, um dia tão escaldante quanto foi essa segunda-feira (10). Contudo, para especialistas, o conforto térmico da cidade poderia ser suavizado se a cidade tivesse mais árvores.

O Plano de Arborização Urbana e Rural do Município (Lei Municipal 3287/90) prevê que “as mudas de árvores deverão ser plantadas durante os meses de maio, junho, julho e agosto de cada ano”, divididas em três categorias: pequenas (até quatro metros de altura), médias (de quatro a seis metros de altura) e grandes (mais de seis metros de altura).

A legislação diz até quais espécies devem ser plantadas, como hibisco e louro, no caso das árvores pequenas; quaresmeira rosa, canafístula e espirradeira, entre as médias; enquanto que paineira, alecrim-de-campinas, flamboiã, paneira e pau-brasil estão entre as opções para as grandes espécies.

Com uma legislação que existe há 35 anos, seria de se imaginar que as ruas de Santa Maria fossem tomadas por túneis verdes como acontece com algumas vias de Porto Alegre. Porém, a realidade é bem diferente da teoria. Há ruas, sobretudo, na área central com quase nenhuma árvore.

E para piorar a situação, há um deserto de dados sobre o assunto. 

Previsão do Inmet para Santa Maria, nesta terça-feira (11). Imagem Reprodução

Novo plano de arborização
O Site questionou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente sobre quantas árvores foram plantadas em cada ano, desde 2017, quando teve início o primeiro governo de Jorge Pozzobom (PSDB). A pasta não soube responder, mas disse que está trabalhando em um novo plano de arborização.

“Em relação à solicitação de dados sobre a arborização urbana em Santa Maria, a Prefeitura de Santa Maria informa que a Secretaria de Meio Ambiente (SMA) está trabalhando para um diagnóstico consistente e atualizado sobre o tema e que um inventário arbóreo abrangente e um sistema de gestão de dados moderno facilitará o planejamento e a implementação de ações eficazes. A pasta está empenhada em melhorar a gestão de dados sobre arborização urbana, bem como, está trabalhando para que, em breve, seja possível fornecer estas informações precisas e atualizadas”, diz a Secretaria em nota enviada ao Site.

Foto Carlos Roberto Santos da Silva / Arquivo pessoal

A pasta também informa que está em fase final de elaboração do termo de referência para a licitação que selecionará a empresa que será responsável pela elaboração do novo Plano Municipal de Arborização Urbana. 

“Ele (o novo Plano de Arborização) terá como foco principal a promoção de soluções sustentáveis para a arborização da cidade, visando a melhoria da qualidade de vida da população, resiliência climática e a preservação do meio ambiente como um todo”, informa a pasta.

A promessa é de que o plano seja implementado ainda este ano, com metas, diretrizes e ações específicas, levando em consideração as características da cidade, como clima, solo, espécies adequadas e distribuição espacial. O documento terá um mapeamento detalhado das áreas verdes existentes e um inventário arbóreo completo, que identifique as espécies presentes, sua saúde e necessidade de manejo.

O Poder Público também pretende conquistar o engajamento da comunidade para tirar o plano do papel, o que inclui ações de educação ambiental e parcerias com empresas e universidades.

“Com isso, Santa Maria deverá se tornar uma cidade mais arborizada, com diversos benefícios para a população e para o meio ambiente, como a melhoria da qualidade do ar, a redução do calor urbano, a promoção da biodiversidade e a valorização da paisagem”, diz a Secretaria de Meio Ambiente.

“A cidade não gosta de árvores”, diz professor
Mas se um plano de arborização já existe desde 1990, por que esse instrumento até hoje não foi colocado em prática? Para responder esta questão, o Site foi atrás do autor do projeto, o ex-vereador e professor de Ecologia aposentado da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), James Pizarro

“Esse plano não foi regulamentado até hoje. Desde que eu saí da Câmara (atuou no Parlamento entre 1988 e 1991), nenhum vereador assumiu a causa ecológica. Se você rever os debates dos prefeituráveis do ano passado e das eleições anteriores, vai ver que não surgiu uma questão sobre meio ambiente. A impressão que eu tenho é que a cidade não gosta de árvores. Eles derrubam qualquer árvore para visualizar um cartaz publicitário de uma loja”, avalia o professor.

Pizarro lamenta o fato de que Santa Maria possui faculdades de Engenharia Florestal e Agronomia, um Viveiro Florestal na UFSM, uma Estação Experimental de Silvicultura em Boca do Monte, além de uma grande quantidade de técnicos na área que poderiam contribuir para arborizar a cidade.

“Falta cultura e educação. Sem educação nada acontece. Qualquer mudinha de árvore ou flor que é plantada na rua as pessoas passam e levam”, relata o professor.

“Estamos atrasados”, afirma engenheiro ambiental
Em 2018, Pozzobom sancionou a Lei Complementar 118/2018, que dispõe sobre a Política de Desenvolvimento Sustentável e o Plano Diretor de Desenvolvimento Territorial do Município. Entre as ações para as áreas verdes está previsto promover a ampliação da arborização de vias públicas, canteiros centrais e praças. Porém, a ausência de dados impede uma avaliação desta política.

Foto Carlos Roberto Santos da Silva / Arquivo pessoal

Para o engenheiro florestal Carlos Roberto Santos da Silva, a falta de gestões públicas comprometidas com políticas ambientais impedem o conforto ambiental da cidade, uma vez que as árvores são mal conservadas seja em praças, parques ou passeios públicos.

“Outro fator que traz dificuldade para implantação de um plano de arborização são questões ligadas a cultura da população, que prioriza a impermeabilização do solo, inclusive dentro de seus lotes, retirando árvores e gramados existentes para colocação de algum tipo de pavimento, a fim de não precisarem fazer manutenção, como corte de grama”, relata Silva.

O especialista também aponta que Santa Maria erra por não ter políticas específicas para o setor.

“Na frente das edificações comerciais e residências, o problema é falta de políticas públicas mesmo, que planejem e implementem as espécies indicadas para melhorar o sucesso do projeto, com plantio e manutenção das árvores, com programas de conscientização ambiental para toda população, com incentivo a preservação de áreas verdes, a exemplo do “IPTU Verde”, como possui outras cidades”, explica Silva.

O engenheiro florestal avalia que, com as mudanças climáticas e o convívio de temperaturas acima da média, uma maior quantidade de árvores na cidade poderia proporcionar melhoria na qualidade de vida, como conforto térmico (sensação térmica), melhora da qualidade do ar, beleza paisagística, recreação e melhora na saúde física e mental.  

“Aquele ditado “todos gostam de sombra, mas poucos plantam árvores” nunca foi tão verdadeiro. Políticas ambientais e melhor gestão dos espaços verdes, esse é o mínimo esperado para o atual momento. Os efeitos das mudanças climáticas já nos atingem e, infelizmente, estamos atrasados”, afirma Silva.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo