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No debate da alimentação, a turma da “fila do osso” não é referência – por Valdeci Oliveira

Depois da fake news que inundou a internet semanas atrás sobre taxação do Pix – que mostrou ter sido criada nos porões da guerra digital informacional -, a bola da vez é o preço dos alimentos. Assim como na mentira sobre o pagamento instantâneo espraiada por políticos e apoiadores que orbitam em torno do bolsonarismo, a turma agora ostenta bonés condicionando “comida barata” a um Bolsonaro de volta a um dos postos mais nobres da política nacional. Usam de um assunto sério, que envolve diversos fatores – estiagem ou excesso de chuvas, ambiente externo e jogo especulativo – para lacrar nas redes e tirar dividendos políticos, mesmo que nunca tenham tido real preocupação com o tema, seja quando governaram o país seja em suas respectivas atuações legislativas. Vide o Brasil na época deles, que voltou ao Mapa da Fome, viu famintos brigando por descarte de ossos e presenciou mercados vendendo espinhaço de peixe ou bandejas com pés e pescoços de galinha para engrossar e dar gosto a sopas à base de farinha.

E assim como a desinformação do Pix, essa mesma turma, que defendeu o uso da cloroquina no tratamento da covid (o que tirou a vida de muita gente) e criou absurdos como o kit gay, a mamadeira com bico sexualizado e o iminente fechamento de templos e igrejas e os jogou todos sobre as costas do presidente Lula, agora esconde a realidade e tenta colocá-la no mesmo patamar das melhores teses do terraplanismo.

Mais do que uma “guerra de bonés”, o fato é que o modelo com a mensagem fake usado pela turma do ódio foi uma “resposta” ao criado pelo governo com a frase “O Brasil é dos brasileiros”, visto como provocação pelo setor mais extremista hoje da política nacional, que costuma adornar a cabeça com modelos exaltando, em inglês, um suposto retorno à força e pujança da “águia do norte”. Aliás, uma postura apropriada ao tamanho da bajulação e reverência que demonstram ao novo mandatário estadunidense, cuja política de perseguição a imigrantes, taxações comerciais, ocupação de países e bravatas mil fazem o deleite da direita extremada enquanto apavoram o mundo civilizado.

Essa turma é tão “preocupada” com a alimentação dos brasileiros e brasileiras que, na Reforma Tributária, votou contra a isenção dos produtos da cesta básica e se posicionam contrários à retirada de alimentos ultraprocessados (substituídos por tipos mais saudáveis) dessa mesma cesta em favor dos gigantes da indústria alimentícia.

Essa turma é tão “preocupada” com a alimentação dos brasileiros e brasileiras que decidiu mostrar isso em 2020, no segundo ano do seu governo, com o fechamento de 27 unidades armazenadoras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o que impactou no longo prazo no abastecimento dos produtos básicos consumidos pela população de baixa renda e enfraqueceu drasticamente a capacidade do governo em manter estoques regularizadores para enfrentar a alta de preços.

Essa turma é tão “preocupada” com a comida do nosso povo que, no período em que “davam as cartas”, a inflação dos alimentos foi maior, não importando o índice ou viés escolhido para medir os números. Se nos últimos dois anos ela foi de 7,6%, nos dois primeiros da administração anterior ela estourou em 27,4% e 22% nos últimos 24 meses daquela gestão. Ou seja, é patente que esse pessoal não tem condições de cobrar ou dar lição a quem quer que seja, a não ser com narrativas fraudulentas. O caso das carnes é outro bom exemplo. Em 2019, primeiro ano de Bolsonaro, o aumento foi de 32,40%; em 2023, primeiro ano sob Lula, fechou com uma redução de 9,37%. E se, em 2024, a elevação foi de pouco mais de 2 pontos percentuais em relação ao segundo ano da gestão passada, ela se deveu a redução da oferta (bezerros foram mantidos por produtores no pasto à espera de preços melhores), o clima ( seca e enchentes), dólar (que encareceu os insumos e tornou o produto mais atraente para os importadores estrangeiros) e o aumento da renda da população (baixo desemprego e valorização do salário mínimo), que fez com que as famílias, mais que merecidamente, ampliassem o seu consumo.

Quem quiser ir mais a fundo sugiro a leitura de um levantamento feito pelo Instituto de Economia da Unicamp, que revela o poder de compra do salário mínimo em relação aos alimentos nos governos Lula e Bolsonaro. Enquanto o primeiro foi o responsável pelas políticas de aumento real e ampliação da compra, o segundo registou quedas na aquisição de cestas básicas, leite, arroz e feijão em 26%, 17%, 24% e 41%, respectivamente.

E enquanto os do “boné com a frase fake” votam contra a taxação das grandes fortunas e são refratários a isentar quem recebe R$ 5 mil em troca de taxar um pouco mais quem ganha acima de R$ 50 mil, o presidente Lula tem estudado, de forma aprofundada e com muito diálogo com especialistas no tema, medidas para tornar mais atrativo o novo Plano Safra, reduzir alíquotas de importação e concertação de acordos negociados junto a grandes produtores, distribuidores e atacadistas. Tudo para construir alternativas concretas diante do tema. São escolhas políticas que mostram o que cada um realmente é.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

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