O último refúgio da palavra: o desafio de escrever como gente – por Amarildo Luiz Trevisan
Escrever com alma, sentimento... “é mais do que desafio. É ato de resistência”
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Em tempos de endeusamento da Inteligência Artificial, será que não está na hora de iniciarmos um movimento de valorização daquilo que ainda nos faz essencialmente humanos? Chamemos de Inteligência Natural, se quisermos dar um nome com apelo contemporâneo. A resposta, ao menos para mim, é positiva.
Outro dia, conversando com um colega da universidade, ele me disse algo que ficou ecoando na minha cabeça: “A vida inteira fui ensinado, incentivado pelos órgãos de controle acadêmicos e agências de pesquisa, a escrever como uma máquina. Tudo impessoal, objetivo e frio.” Ele fez uma pausa, pensativo e completou: “Agora não sei o que fazer, se a própria máquina já faz isso por mim.”
Essa reflexão me provocou um incômodo silencioso. O que fizemos da escrita? O que fizemos de nós mesmos? Quão falho foi – ou é – o nosso modelo de formação que nos ensinou a valorizar a neutralidade e o distanciamento, como se o ato de escrever devesse ser uma operação asséptica, desprovida de alma? Pois hoje, essa suposta virtude foi tomada de nós por algoritmos que executam com precisão o que passamos anos tentando dominar: a frieza e a objetividade.
Heidegger, em sua filosofia da técnica, já nos alertava que o destino da humanidade poderia ser justamente este: viver sob a égide da técnica, capturados pela ilusão de que o progresso tecnológico é o ápice da existência. Será? O ato de escrever estaria condenado a ser uma atividade mecânica, repetitiva, vazia, como tantas músicas que escutamos hoje em dia, onde a fórmula substitui a emoção?
Mas há um ponto de inflexão aqui. Talvez algo ainda dependa de nós. O ato de escrever como gente — com falhas, hesitações, contradições e, sobretudo, com emoção — talvez seja a nossa última resistência. Porque, se não cuidarmos disso, corremos o risco de cair em um abismo ainda mais profundo do que Heidegger previa: a “pobreza da experiência”, como diagnosticou Walter Benjamin. Uma vida em que a experiência é substituída por dados, e o sentir, por simulações.
Além disso, é importante lembrar que a própria questão das Big Techs não é neutra, fria e objetiva. Basta observar o destaque dado aos CEOs dessas empresas na posse de Donald Trump, com figuras como Elon Musk comemorando o ‘retorno do rei’. Esse tipo de posicionamento revela que, mesmo no universo tecnológico, há interesses, ideologias e narrativas que moldam as decisões e influenciam a sociedade de forma profunda.
Diante desses cenários, meu amigo e eu chegamos à conclusão, em nosso diálogo, de que o ideal de “escrever como gente” é, mais do que nunca, um ato de resistência. É um esforço consciente para preservar o que nos torna humanos em meio à avalanche de algoritmos e fórmulas pré-programadas. Escrever com alma, com sentimento e com reflexividade é afirmar nossa humanidade em um mundo cada vez mais automatizado.
Escrever como gente é mais do que um desafio. É um ato de resistência.
(*) Amarildo Luiz Trevisan é professor do curso de Ciências da Religião e do PPGE/UFSM.
Em tempo. Série de ficção cientifica Star Trek. Um dos antagonistas são os Borg, um conjunto de seres ciberneticos, meio gente, meio maquina, com uma ‘mente grupal’ chamada ‘O Coletivo’. O bordão deles é ‘Resistance is Futile’. Uma espécie de tecno-comunistas.
Resumo da opera. UFSM é comemorada como a ‘primeira Universidade Federal no interior do Brasil’. Finado Doutor Mariano utilizou-se de mundos e fundos para trazer o mundo para o interior. Hoje a luta é para isolar o interior do mundo.
‘[…] e que o ideal de “escrever como gente” é, mais do que nunca, um ato de resistência.’ O narcisismo habitual. Pouca gente le tanto um como outro. CEOs vão dormir na pia mascando bombril de preocupados. ‘Ato de resistencia’, sério? Kuakuakuakuakuakua!
‘Basta observar o destaque dado aos CEOs dessas empresas […]’. Marxistas tem o ranço de avaliar tudo pelo lado economico. O grupo citado é gente com (maior ou menor) talento para organizar recursos humanos e financeiros para alcançar objetivos. Coisa que a classe politica não tem. Alas, a não ser que o objetivo seja ‘se dar bem’.
A realidade está dada, os fatos estão ai. O que Heidegger e Benjamin achavam ou deixavam de achar não importa. O mundo não vai mudar de direção só por conta de filosofos mortos.
A corrida ‘armamentista’ da inteligencia artificial acelerou e também o impacto nas diversas sociedades.
Resposta, uma das, de Sam Altman ao lançamento chines foi o anuncio de ‘super agentes de inteligencia artificial com nivel de doutor’. Em ingles ‘Ph.D.-level super-agents’. Logo em seguida foi lançado o Deep Research. Pessoal que ‘pesquisa’ em humanas, sociais, sociais aplicadas, tornou-se obsoleto. Provavelmente tudo que não for aplicado ou necessite de intervenção no mundo fisico (engenharias, fisica aplicada, quimica, etc.) deu mais um passo em direção a extinção.
‘[…] a escrever como uma máquina. Tudo impessoal, objetivo e frio’. A profissão é esta, o trabalho pelo qual o ‘colega’ é pago é este.
‘[…] , a escrever como uma máquina. Tudo impessoal, objetivo e frio.’ Comte fundou a sociologia. E a ‘religião da humanidade’. Uma ‘ciencia que estude a sociedade’. Abriu a porteira das ‘humanas’. Chavão diz que ‘todas as ciencias aspiram ser como a matematica’. Logo a formalidade é algo a ser esperado. Problema é que a academia virou uma burocracia especializada em produzir artigos. E também ferramenta politica. Por isto esta em discussão mundo afora.
Inteligencia artificial. Vermelhos comemoraram o lançamento chines noutro dia. Não entenderam o que estava acontecendo (grande surpresa!). Ação da Nvidia, uma Big Tech caiu de pouco mais de 18 dolares para 14,5. Já está quase 16 de novo. Em fevereiro de 2024 estava perto de 7 dolares. Apesar do hype não era ‘tudo disto’.
O mimimi dos vermelhos. O de sempre. Ou melhor, a infantilidade de sempre. Noutro no ‘Sarau Eletrico’ (disponivel no (YouTube), ultimo antes do recesso deste ano, episodio dedicado ao aniversário da LPM, foi feita uma leitura de Bukowski. Do livro ‘Escrever para não enlouquecer’. Carta a editores de 1973. “Ouçam, entendo o que querem dizer, mas Notas de Um Ser Humano é afetado demais. […] Provavelmente, na historia, mais mal foi causado por caras pensando que eram seres humanos do que qualquer outro troço. Quero dizer, fiquemos longe do sagrado e talvez, com um pouco de sorte, possamos virar sagrados. Empenho e dedicação não parecem resolver. Além disto, o bem e o mal, o certo e o errado estão sempre mudando; é um clima mais do que uma lei (moral).”