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Técnica de mentir de Trump será usada pela extrema direita em 2026 no Brasil – por Carlos Wagner

Que influência a eleição do republicano Donald Trump, 78 anos, terá nas eleições presidenciais do Brasil em 2026? Aposto que a maior influência será a tecnologia para consolidar mentiras como se fossem verdades no discurso utilizado para enfrentar os adversários. É sobre isso que vamos conversar. O nosso papo começa em 2020, quando Trump disputou a reeleição contra o democrata Joe Biden, 82 anos. Biden venceu porque o seu discurso foi mais eficiente. Usando o linguajar dos colegas repórteres que fazem a cobertura das lutas de boxe, ele conseguiu colocar Trump nas cordas do ringue e derrubá-lo. Vou citar uma das ocasiões que o republicano “foi para as cordas”. Aconteceu no primeiro debate na TV. Trump interrompeu tantas vezes o candidato democrata e o moderador do debate, Chris Wallace, que em certo momento, irritado, Biden gritou: “Você pode calar a boca, cara?” E mais adiante chamou o seu adversário de “palhaço”. Trump sentiu o golpe e comportou-se no restante do debate. Na ocasião, em outubro de 2020, escrevi o post O dia em que Biden foi o rei da Espanha. E Trump foi Hugo Chávez. Estava me referindo ao episódio ocorrido durante a 17º Conferência Ibero-americana, em 2007, quando o então ditador da Venezuela, Hugo Chávez (1954–2013), interrompeu tantas vezes os conferencistas que o rei da Espanha, Juan Carlos I, 87 anos, gritou: “Por que no te callas?” O xingamento acalmou Chávez.

Em 2024, Biden começou bem a campanha para a reeleição. Em um discurso no dia 7 de março, no Capitólio, o congresso americano, defendeu os valores da democracia e lembrou que, em 6 de janeiro de 2021, Trump incentivou os seus seguidores a invadirem aquele mesmo Capitólio para impedir que os deputados e senadores ratificassem a vitória eleitoral do democrata. Na invasão, cinco pessoas foram mortas, centenas ficaram feridas e dezenas acabaram presas. As imagens da invasão percorreram o mundo. Em 12 de março de 2024, escrevi o post O presidente Biden pendurou no pescoço de Trump as imagens da invasão do Capitólio. Foi um bom começo de campanha para os democratas. Mas, em junho, no primeiro debate na TV entre Trump e Biden, o democrata sofreu uma pane mental e se estabeleceu no seu partido uma discussão para substituí-lo. No início da segunda semana de julho, Trump levou um tiro na orelha direita, disparado de um fuzil AR-15 por Thomas Matthew Crooks, 20 anos, que foi morto pelo Serviço Secreto. Além do ferimento em Trump, os tiros mataram uma pessoa e feriram outras. Algumas semanas depois, Trump jogava golfe em West Palm Beach, na Flórida, quando foi preso e acusado de tentativa de homicídio Rya Routh, 58 anos, um pequeno empresário que estava posicionado com um rifle para disparar contra o republicano. Em agosto, o partido Democrata e Biden concordaram que a vice-presidente Kamala Harris, 60 anos, seria a candidata que enfrentaria Trump nas urnas.

No começo, o discurso de Kamala entusiasmou e conseguiu emparelhar a disputa. Enquanto o republicano repetia as mesmas mentiras, que era desmentidas pelos jornalistas nos debates na TV, a democrata tinha um discurso que falava dos grandes problemas nacionais americanos. No final, venceu Trump. Qual foi o segredo da sua vitória? Ele aprendeu a lição da derrota para Biden, em 2020. Na ocasião, o seu discurso misturava problemas reais com mentiras. Em 2024, ele eliminou os problemas reais e deixou só as mentiras. Vou citar duas: que os imigrantes ilegais estavam comendo os gatos e os cachorros das famílias americanas. E que os países aliados dos Estados Unidos estavam explorando os americanos. Um acordo feito com o bilionário Elon Musk, dono do X, e com o magnata Mark Zuckerberg, 40 anos, proprietário do Facebook, do WhatsApp e do Instagram, garantiu as plataformas de mídias sociais para distribuir e consolidar as mentiras pelos quatro cantos do mundo.

Acontribuição da eleição de Trump para a disputa presidencial no Brasil, em 2026, será a consolidação, pela extrema direita, das mentiras no discurso político. Não vou ficar citando teses sobre o assunto. Vou direto ao exemplo. Lembram-se da história do Pix? No início do ano, o governo decidiu que os bancos teriam que comunicar à Receita Federal quando os usuários do Pix gastassem acima de R$ 5 mil mensais. Logo surgiram fake news dizendo que o governo iria cobrar taxas sobre o Pix, entre outras mentiras. Só para se ter uma ideia da lambança que as mentiras causaram, uma postagem do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), 28 anos, no seu perfil no Instagram, teve mais de 300 milhões de visualizações. No vídeo, o deputado levanta dúvidas sobre as intenções do governo com a fiscalização do Pix. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, deu mil e tantas explicações, garantindo que não se tratava de imposto. As explicações governamentais foram enterradas por centenas de fake news. Fica a pergunta. Uma história como esta pode decidir o segundo turno das eleições presidenciais de 2026? Tem potencial para mexer com os eleitores. Aqui cabe um comentário. Até então um acontecimento inesperado, como um escândalo, tinha potencial de virar uma eleição. Com esta nova realidade não existe mais o inesperado. Mas o escândalo programado.

Estou com 75 anos, mais de 40 na lida de repórter e fiz muita cobertura de eleição. Por lidar com conflitos agrários, crime organizado nas fronteiras dos países vizinhos e migrações internas, sempre estive muito atento à política. Sei que a mentira e o exagero fazem parte do discurso político desde que o mundo é mundo. Faz parte do jogo. Mas o que vem por aí é algo totalmente novo. No caso do Brasil, existe a Justiça Eleitoral para tratar do assunto. O que citei na nossa conversa não são especulações. Mas resultado de uma atenta observação dos fatos que estão acontecendo e viraram notícia nos jornais. Costumo repetir que na disputa política não existe nada de definitivo. As coisas mudam de rumo conforme sopram os ventos. Neste momento há uma supervalorização da mentira na construção do discurso político. O vento pode mudar.

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 74 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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Um Comentário

  1. Se a ‘Técnica de mentir de Trump será usada pela extrema direita em 2026 no Brasil, quais os numeros que irão sair no sorteio da Mega Sena da semana que vem? É uma piada!

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