Artigos

Madame Manon Roland – por Elen Biguelini

Madame Roland, nascida Jeanne Marie Philipon tem seu nome marcado na história do mundo por ter sido uma das revolucionarias que posteriormente vieram a falecer na guilhotina durante a Revolução Francesa.

Nasceu em Paris em 17 de março de 1754, filha de um gravurista parisiense de nome Gatien Philipon (ou Philipou) e de sua esposa Marguerite Bimont. Foi a única de sete filhos a sobreviver a vida adulta. Interessada pelos estudos, aprendeu latim com um tio frade e aos oito anos já lia Plutarco, posteriormente conhecendo também a obra de Fenelon, Montesquieu, Voltaire e John Locke. Logo, teve uma educação superior a da grande maioria das mulheres do período, assim como uma inteligência acima da média até mesmo para outras jovens meninas sábias do período. Além da filosofia, também se interessou por outras temáticas da literatura bem como a música e a pintura.

O interesse pelo conhecimento era tal, que aos 11 anos pediu para ser colocada em um convento, a congregação Augustina da Notre-Dame. Neste local fez amizade com jovens senhoras também intelectuais, com as quais manteve correspondência durante sua vida.

Mas com a morte de sua mãe, a jovem retorna a casa paterna. É então que entra em contato com a obra de Rousseau, que se torna seu mentor.

Uma estada breve nos palácios de Versailles, assim como as leituras filosóficas da obra rousseista, criam as bases de um reação violenta aos maus tratos da classe aristocrática para com a classe burguesa. Filha de um homem rico, ela consegue observar o descaso e até mesmo o ódio demonstrado pela aristocracia para com todos aqueles que não fazem parte de seu grupo. Isso forma as bases de uma revolucionaria fervorosa.

Em 1776, após negar o pedido de muitos pretendentes, a jovem conheceu um economista que compactuava com suas opiniões, era seu futuro marido, Jean Marie Roland de Platière (1732-1793). Manon, como era conhecida, casou-se em 4 de fevereiro de 1780, sem o consentimento paterno, visto que seu pai se opunha a união e ela já tinha mais de 26 anos, o que legalmente permitia a união sem o aval da família. Não fora por amor que resolvia se casar, mas juntamente como forma de se libertar do poder paterno.

Durante os séculos XVIII e XIX, as mulheres eram vistas pela sociedade como esposas e filhas, não tinham um papel independente. Sem pai ou marido não tinham liberdade perante a sociedade, mas com pai ou marido, eram dependentes destes. Assim, o casamento lhe permitiria sair da casa paterna e, possivelmente, ter escolhas próprias. Mas não era uma vida feliz, visto que ainda era mantida sobre uma tutela masculina – agora do marido.

Ela encontrou na política uma forma de se expressar perante o mundo, auxiliando o marido a subir em sua carreira. Em 1791, durante os inícios do período revolucionário francês, instituiu em Paris um Salão literário. Defendia a igualdade e recebia tanto girondinos como jacobinos e montanhenses, embora ela própria se identificasse com o primeiro grupo.

Antes mesmo de iniciar seu salão, já escrevia textos político filosóficos em periódicos franceses. Era assim uma figura conhecida por todos revolucionários.

Era conhecida como a Musa do partido Girondino. Em sua casa se encontravam os mais altos líderes do grupo, enquanto seu marido era Ministro do Interior.

E então, o mesmo local no qual muitos se encontravam para discutir possíveis futuros para a nova republica francesa, foi onde a encontraram quando o grupo Girondino caiu do poder. Seu marido fugiu, ela foi presa e sua casa foi selada em 30 de maio de 1793. Viveu um período de tortura e dor. Em certa ocasião, foi solta e presa novamente em menos de uma hora. Ficou cerca de 5 meses na Conciergerie, um palácio de justiça convertido pelos revolucionários em prisão, que fica na “Isle de Cité” em Paris, em frente à Notre-Dame.

Respeitada pelos guardas e por outros presos no local, era-lhe permitido escrever. Assim, de sua estada na prisão revolucionaria, a autora escreveu até mesmo uma Memória, dedica a sua filha Eudora.

Poucos meses depois faleceu na guilhotina, perante os olhos dos franceses que tanto defendera, em 9 de novembro de 1793. Após a morte da esposa, Jean Marie cometeu suicídio (possivelmente conhecendo que seria também guilhotinado se fosse encontrado).

Teria afirmado “Oh! Liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome!” em seus últimos minutos de vida.

Obra:
Diversas cartas entre 1767 e 1793. Podem ser encontradas na Biblioteca Nacional Francesa, Gallica.
Suas Memórias podem ser encontradas na Biblioteca Nacional Francesa, Gallica : em https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k6213070j/f13

Referências:
“Madame Roland”. Página da Wikipedia em francês. Acesso via: https://fr.wikipedia.org/wiki/Manon_Roland
“Manon Roland”. In. “Women in the french Revolution”. Na Livraria do Congresso Americano. Aceso via: https://guides.loc.gov/women-in-the-french-revolution/manon-roland
Bergés, Sandrine. “Vive Madame Roland”. Acesso via: https://aeon.co/essays/manon-roland-revolutionary-philosopher-and-housewife
Leitão Bandeira, Lourdes. “Salões culturais abertos por figuras femininas: O salão ‘Univeristas Gratie’”. Lisboa: Carvalho e Simões Lda, 2006. Pp. 110-111.
Ludovino, Célia; Carvalho, Maria Olga. “Madame Roland, uma educação burguesa no século XVIII”. Trabalho para a disciplina de História e Filosofia da educação. Universidade de Lisboa. Aceso via: https://webpages.ciencias.ulisboa.pt/~ommartins/images/hfe/momentos/mroland/index.htm

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo