
Texto de Bettina Gehm / Reproduzido do jornal eletrônico Sul21
Após 70 dias de circum-navegação pela costa da Antártica, os pesquisadores da UFRGS que participaram da expedição estão de volta ao Brasil com notícias pouco animadoras. As amostras de neve coletadas no Polo Sul ainda estão sendo examinadas, mas já é possível afirmar que o derretimento das geleiras está acelerado e deve aumentar de velocidade na próxima década.
As consequências podem ser sentidas em Porto Alegre, a 3.600 quilômetros da Antártica, em desastres como as enchentes de maio de 2024 – e que devem passar a acontecer com mais frequência. Os dados levantados ao longo da expedição foram apresentados no dia 3 de fevereiro.
A principal questão que moveu os 57 pesquisadores, do Brasil e mais sete países, foi descobrir qual a contribuição do manto de gelo da Antártica para o aumento do nível do mar e como ele vai afetar as costas até o ano de 2100.
“Temos trabalhado com cenários de 28 a 110 centímetros de aumento do nível médio do mar. A Antártica, no momento, contribui com 15 milímetros por década”, afirma o professor de Geografia Polar da UFRGS que liderou a expedição, Jefferson Cardia Simões. “Todos os cenários indicam que isso vai aumentar já na próxima década”.
Entre as conclusões preliminares da exposição, os pesquisadores detectaram a formação de córregos de derretimento sobre geleiras e plataformas de gelo. Além disso, o oceano Austral apresenta redução da salinidade, ficando mais ácido, principalmente perto da crosta de gelo. Mais ao norte da Antártica, as geleiras estão derretendo com maior intensidade e observa-se o fenômeno de “esverdeamento”, que se dá pela expansão dos campos de musgos.
O climatologista Francisco Eliseu Aquino, que participou da expedição, explica que os oceanos de gelo da Antártica refletem diretamente nas cidades gaúchas, por exemplo. O temporal que ocorreu em Porto Alegre em janeiro de 2016 foi um dos primeiros casos de evento extremo que teve a Antártica como motivadora.
“A enchente de maio de 2024, assim como as de setembro e novembro de 2023, são condicionadas à intensidade de uma frente fria específica. O dia mais quente da história foi 22 de julho de 2024, graças às ondas de calor no entorno da Antártica, ou seja: a massa de gelo, no auge do inverno, não conseguiu arrefecer o planeta como sempre o fez. Por consequência, vivemos eventos extremos que se repetirão. Em 30 anos deve se repetir o maio de 2024, lamentavelmente”, afirma Aquino.
Mas existe uma questão ainda não respondida pelos pesquisadores: o quão dinamicamente estáveis são as partes do manto de gelo que têm sua base abaixo do nível do mar? Ou seja: o objetivo é descobrir como as geleiras submersas se comportam diante das variações climáticas, além dos processos de sedimentação resultantes e seus impactos.
Simões lembra que a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera aumentou mais de 40% nos últimos 180 anos. “Se não conseguirmos segurar esse aumento em mais 20% ou 30%, ainda vamos ter um aumento de 3 graus na temperatura global. Se não conseguirmos, pode passar de 5 graus, e nesse caso não sabemos como o sistema climático vai se comportar. O clima dá saltos, e tem pontos de mudanças rápidas que podem desestabilizar todo o sistema”, afirma.
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