O nó na garganta que não desata – por Giuseppe Riesgo
“A morte de Théo precisa doer em todos nós, não só hoje, mas sempre”

Pode-se tentar buscar um motivo, mas não existe. Não há explicação, não há lógica, não há justificativa. O que aconteceu em São Gabriel não é só um crime, é uma ferida aberta no peito de quem ainda sente. O pequeno Théo, de apenas cinco anos, jogado de uma ponte pelo próprio pai. Pai. Palavra que deveria carregar segurança, que deveria ser porto, e que, neste caso, se tornou sentença de morte.
Eu não sou pai, mas sou filho. E no meu pai tenho uma referência de amor, proteção e caráter. Foi ele quem me ensinou que um homem não abandona, não fere, não destrói. Que ser pai é cuidar, não matar. Tento imaginar a dor desse menino, a confusão na sua cabecinha ao ser traído por quem deveria ser seu abrigo. E não consigo. É horror demais. O mundo parou por um segundo quando soubemos. E depois veio a raiva. A indignação. O nó na garganta que não desata. Porque não é só a história de Théo que se perdeu, todas as famílias que se desfazem, todos os valores que se esfarelam no ar sem que ninguém segure.
Nós nos perguntamos onde foi que erramos. Em que curva do caminho trocamos o essencial pelo descartável. Deixamos de proteger o que mais importa para idolatrar vazios. A família foi virando uma palavra antiquada, um conceito questionável, um peso. E agora pagamos o preço da desordem, da inversão, da negligência. Quem deveria cuidar, destrói. Quem deveria ser amparo, abandona. O que se espera de um pai é que seja líder, exemplo, que ensine valores e conduza sua família com amor e firmeza. Mas isso só é possível quando há um alicerce. Quando há base. E essa base sempre foi a família estruturada, a educação enraizada em princípios e a fé como guia.
Não é coincidência que, à medida em que esses pilares são atacados, tragédias como essa se tornem mais frequentes. A escola já não ensina responsabilidade, ensina relativismo. A cultura já não fortalece a família, mas tenta desconstruir. Deus foi colocado para fora de tudo, e no vácuo deixado pela ausência da fé, cresce a violência, o egoísmo, a degradação dos laços mais sagrados. É confortável culpar o sistema, a falta de leis, a impunidade. Mas e se a verdade for pior? E se estivermos adoecendo por dentro? Enfraquecer a família é enfraquecer tudo. É abrir espaço para que a dor vire rotina, para que o horror seja só mais uma notícia que esquecemos amanhã. Temos de parar e barrar esta agenda que busca destruir tudo em nome de uma falsa modernidade.
Não pode ser assim. A morte de Théo precisa doer em todos nós, não só hoje, mas sempre. Precisa nos empurrar para a ação. Para proteger o que resta. Para não deixar outra criança ser levada por essas águas da escuridão. A justiça precisa ser feita. Mas além dela, precisamos resgatar o que nos trouxe até aqui. O que nos fez humanos. O que nos fez gente. O que nos ensinou que amor e responsabilidade andam juntos. Que Théo não tenha partido em vão. Que sua lembrança nos lembre quem somos, antes que seja tarde demais.
(*) Giuseppe Riesgo é secretário de Parcerias, da Prefeitura de Porto Alegre, e ex-deputado estadual pelo partido Novo. Ele escreve no site às quintas-feiras.
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