
Por Samara Wobeto (Com foto de Evandro Bertol) / Da Agência de Notícias da UFSM
Análises de solo funcionam como exames médicos que buscam identificar doenças. No caso da terra, a intenção é descobrir a qualidade e as necessidades do solo para o cultivo de plantas. O projeto de extensão dos Programas de Pós-Graduação em Ciências do Solo (PPGCS), em Agrobiologia (PPGAgroBio) e em Química (PPGQ) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) realizou um trabalho de coleta e análise de solo na Serra Gaúcha, em cidades atingidas pelas enchentes de maio de 2024. Nos municípios de Pinto Bandeira, Bento Gonçalves e Veranópolis, os pesquisadores coletaram amostras em áreas de deslizamento de propriedades rurais dedicadas à fruticultura.
Allan Kokkonen, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Solo (PPGCS) e integrante do projeto, explica que as análises comuns revelam dois padrões distintos: os solos de áreas nativas, que tendem a ser muito ácidos e apresentam baixa disponibilidade de nutrientes, tornando-se menos adequados para o cultivo; e os solos de áreas já cultivadas, nos quais geralmente se identifica a necessidade de reposição de adubação ou fertilização.
No caso da Serra Gaúcha pós enchente, os pesquisadores identificaram ainda um terceiro tipo de solo, que mistura características de áreas nativas e cultivadas. No deslizamento de terra, tanto as áreas que perderam quanto as que receberam sedimentos passam por uma grande transformação. O material deslocado pode conter solo, pedras e outros elementos, tornando o cenário imprevisível. “É uma completa surpresa, um tiro no escuro. A gente não sabe o que vai encontrar ali”, destaca Allan. Para o pesquisador, na comparação com exames de sangue, é como se a análise mostrasse uma doença nova, que ainda não tem padrão de tratamento.
Os resultados mostram que as áreas degradadas não perderam grandes quantidades de nutrientes, mas apresentaram um aumento na acidez. Esse problema, porém, pôde ser facilmente corrigido com aplicação de calcário, permitindo que muitas áreas já estejam aptas para o cultivo. “Esse foi um resultado que a gente não esperava: essas áreas de deposição têm fertilidade relativamente boa para a maioria dos nutrientes”, ressalta Allan.
No entanto, para o pesquisador, o maior problema diz respeito à qualidade ou saúde do solo, ou seja, não se trata apenas de analisar os nutrientes, mas também a estrutura. Os pesquisadores perceberam que os solos analisados tiveram perda de matéria orgânica. Allan explica: “É aquele material que tem origem orgânica, formado por microorganismos que vieram de plantas decompostas”. Allan ressalta que a matéria orgânica tem várias funções importantes. “Ela é responsável por dar estrutura e agregação ao solo, o que é crucial, pois é essa estrutura que facilita a retenção de água”, detalha. Essa característica auxilia em períodos de seca, em que a água é mais escassa – como o que o Rio Grande do Sul enfrenta agora.
Um segundo ponto é que a matéria orgânica oferece nutrientes para a planta, principalmente nitrogênio, um dos mais importantes para o fornecimento de energia. “Provavelmente esses solos que perderam muita matéria orgânica – e foi bastante a quantidade perdida – vão ter um volume de micróbios, de fungos e de bactérias muito pequenos. E eles são benéficos”, especifica Allan.
Além disso, de acordo com o pesquisador, a matéria orgânica também pode interagir com o ambiente. “Ela é feita basicamente de carbono”, afirma. Ou seja, quando está no solo, permite que ele funcione como dreno de carbono, que se converte em energia para o desenvolvimento das plantas. “Quando se perde ela, provavelmente foi liberada na forma de gás. Ou seja, toneladas e toneladas de carbono que estavam na matéria orgânica, estocadas no solo, foram para a atmosfera”, conclui. Para Allan, essa perda transforma os sistemas agrícolas de drenos em emissores. “Aquela área de deslizamento emitiu bastante carbono, o que a gente sabe que vai potencializar as mudanças climáticas e o efeito estufa”, destaca.
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