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Escárnio – por Leonardo da Rocha Botega

Provas não deixam dúvidas: o 8 de janeiro “não foi um passeio no parque"

As últimas semanas foram marcadas pela intensificação da tentativa de emplacar o projeto que anistia os condenados pelo levante golpista de 8 de janeiro de 2023. Uma tentativa que tem ganhado ares de sobrevivência política para a extrema-direita, sobretudo, diante da transformação em réus do ex-presidente Jair Bolsonaro e de boa parte da cúpula de seu derrotado governo.

A proposta de Anistia ganhou corpo depois do fracasso da avalanche de mentiras produzidas pelo bolsonarismo, visando tumultuar as investigações sobre a construção do plano golpista. Felizmente, a verdade acabou prevalecendo. A quantidade de provas produzidas pelos próprios mentores do golpismo não deixa dúvidas: o 8 de janeiro, como bem disse o ministro Alexandre do Moraes, “não foi um passeio no parque”.

O 8 de janeiro, tampouco, foi um ato de “velhinhas com a Bíblia na mão”. Não! O 8 de janeiro foi o ápice da tentativa de construção de um projeto de poder autoritário que, derrotado nas urnas, não conseguiu se impor como vontade geral. As chamadas de extraterrestres salvadores, as rezas para pneus e os apelos à intervenção das Forças Armadas foram apenas performances desta tentativa nada inocente.

Não existe inocência quando pessoas deixam as suas casas e viajam quilômetros para atacar os principais símbolos da democracia brasileira. Tampouco existe inocência em quem carrega faixas pedindo “Intervenção Militar” ou afirmando que os ditadores do pós-1964 “mataram foi pouco”. Não há inocência! Não há inocentes! Todos sabemos o que faziam no campo político os presos oriundos de nossas cidades.

Basta um mínimo de bom senso para reconhecer que os presos do 8 de janeiro, condenados ou não, em sua maioria, são pessoas que se radicalizaram com a mobilização de ressentimentos e ódios produzida pelo bolsonarismo. Pessoas que passaram a perceber a política apenas nos últimos anos e da pior forma possível: como extermínio do outro, como negação da diversidade, como potencialização da pulsão de morte.

Enquanto estas pessoas buscavam a redenção da descrença na derrota eleitoral, os mentores do golpe se escondiam como ratos covardes. Ratos covardes que tinham a certeza da vitória do golpismo. A estúpida certeza de quem produziu milhares de provas contra si. Provavelmente, com o intuito de futuramente expor como demonstração de atos de bravura na guerra pela destruição da democracia.

Bravura, porém, vai mais além do que terminar mensagens com a palavra “selva”. Bravura, em um país autoritário como o Brasil, é lutar pela democracia. Bravura é defender a condenação de quem atentou contra a principal construção nacional das últimas décadas: o Estado democrático de Direito. Bravura é ter a coragem de denunciar que anistiar radicais antidemocráticos não é pacificação.

Pacificação é ampliar os espaços democráticos. Pacificação é dar voz à pluralidade de lutas por direitos em uma sociedade que historicamente as tentou silenciar. Anistia para quem tinha por objetivo silenciar mais uma vez estas vozes é escárnio. É debochar de milhares de brasileiros e brasileiras que, desde os primeiros momentos, condenam o real significado do 8 de janeiro. Democracia é algo sério! Tentar destruí-la também! 

(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).

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