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Popcorn, ice cream e o alto custo de eleger extremistas – por Valdeci Oliveira

Uma versão patriótica “sui generis”, com a bandeira dos Estados Unidos

Qualquer pessoa com um mínimo de discernimento sobre como as relações pessoais, profissionais, políticas ou entre nações são construídas deve estar se perguntando como alguém como Donald Trump pôde se tornar, pela segunda vez, o presidente da maior potência militar do planeta, uma das maiores no aspecto econômico e cujo modelo de vida é alardeado como exemplo a ser seguido pelo chamado “mundo livre”. E essa mesma pessoa também se pergunta como que brasileiros, vendo seu país ser afetado pelas recentes decisões do mandatário da Casa Branca, o defendem, culpando o Brasil, na figura do presidente Lula, por tais desmandos.

No primeiro caso, o óbvio explica: foi pelo voto e por uma série de pequenos detalhes que, somados, acabaram lhe beneficiando – polarização política, falsas narrativas, impunidade de seus atos criminosos e, vá lá, alguns deslizes estratégicos dos dirigentes Democratas que, neste caso, ressalvo, não justificariam, sozinhos, a vitória da extrema-direita estadunidense e tudo o que ela representa. Já no segundo, mesmo tendo muita boa vontade, não se chega a algo racional – até porque inúmeros exemplos nos mostram que seria pedir demais. Por aqui chamamos isso de “viralatismo” e “sabujice”. Ou quanto pior, melhor.

O fato é que o mundo está com uma “batata quente” nas mãos, que se apresenta na forma do clássico valentão do colégio que rouba o lanche ou os trocados dos menores e que só retorna à sua covardia quando encontra pela frente alguém do seu tamanho. Para além das referências alimentares, os protocolos que guiam as relações exteriores indicam que as lideranças mundiais precisam fazer isso com inteligência, diálogo e negociação, sem, com isso, abrir mão das suas respectivas soberanias.

Aliás, justamente o que o presidente Lula e a nossa diplomacia vêm defendendo. Ir para o confronto direto só interessa ao radicalismo, aos “pregadores” do caos, a quem, na versão verde e amarela do trumpismo, defende que a Ditadura brasileira não matou o suficiente, que tentou um golpe de estado e sempre busca a “Terra do Tio Sam” quando quer fugir das suas responsabilidades políticas e, como vem se demonstrando, criminais.

Mostrar lucidez num momento em que a nau dos insensatos está solta – e que muito provavelmente ficará à deriva ou levará a todos para o centro do redemoinho – ainda parece ser o melhor remédio. E, dentro dessa conjuntura, é preciso também levar em conta a espetacularização e os arroubos midiáticos feitos por um boquirroto, que, na primeira reação chinesa, diz, demonstrando a falta de seriedade em seus atos, ser amigo do seu presidente e que acredita num acordo.

Sim, Trump é boquirroto como também é perigoso.

Justificar atos tresloucados dizendo que seu país tem sido explorado há anos por outras nações é desconhecer ou negar a História, é ignorar que, independentemente do morador da Casa Branca, seus inquilinos sempre colocaram os interesses dos EUA acima de qualquer coisa, inclusive sobre vida alheia fora das suas fronteiras.

Mas os problemas criados com a volta do bilionário à chefia dos EUA também refletem muito na sua política doméstica, algumas com duros reflexos às pessoas de outras nacionalidades, vide as deportações em massa, cancelamentos de vistos e prisões de estudantes estrangeiros pelo simples fato de defenderem o fim do morticínio em Gaza.

Por aqui, temos assistidos pasmados a “caça” a funcionários públicos, que supostamente seriam contrários às políticas da nova gestão, e as demissões em massa de trabalhadores federais para economizar um punhado de dólares, mesmo que isso signifique jogar à lona o funcionamento de áreas como a saúde e a educação.

Temos acompanhado as perseguições a juízes que, no cumprimento da lei, se posicionam contra os desmandos vindos de cima. Ou a proibição, na “Terra da liberdade”, de profissionais da imprensa realizarem seus ofícios porque os veículos onde trabalham se negam a chamar o Golfo do México, assim descrito desde o final do século 16, de “Golfo da América”.

E nos choca ver que a mão pesada do novo governo, digna de constar nos manuais de qualquer ditadura, também foi colocada sobre os grandes escritórios de advocacia, proibindo seus profissionais de entrarem em prédios públicos ou fecharem contratos federais caso venham a defender causas contra sua administração. Diante disso tudo, parece ser “café pequeno” os gestos nazistas feitos por Elon Musk, prontamente normalizados e naturalizados pelos seguidores de Trump, lá e aqui.

Ao ver esse quadro, nos revolta o silêncio dos “patriotas” brasileiros, que não somente idolatram e bajulam Trump como apoiam suas medidas econômicas contra o Brasil, pois na visão deles o grande prejudicado será o presidente Lula, mesmo estas afetando séria e negativamente nossa agricultura, nossa indústria e nossos empregos.

A eleição de Trump nos mostrou que o “patriotismo” verde e amarelo tem as cores da bandeira dos EUA.

Para essa versão patriótica “sui generis”, tudo não passa de “popcorn and ice cream”.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

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Um Comentário

  1. Cortina de fumaça. PT não consegue governar o pais e fica fazendo oposição na Ianquelandia. Paulo Teixeira culpou o Agente Laranja retroativamente pelo aumento dos alimentos. Culpa, não custa repetir, é sempre dos outros. Mimimi orquestrado não pode faltar. Resumo da opera. Pode continuar assim, para mim ‘funciona’.

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