Por Homero Pivotto Jr / Da Assessoria de Imprensa do Coletivo TV OVO
De um projeto de oficinas de vídeo na zona oeste de Santa Maria ao reconhecimento como um dos primeiros Pontos de Cultura da cidade. Em seus 29 anos de história, a TV OVO saiu da casca e tornou-se referência de coletivo e de produção audiovisual. Sempre ativa, a iniciativa fundada em 12 de maio de 1996 é norte para jovens e adolescentes interessados em aprender os processos de uma produção para as telas, bem como referência pela atuação constante em filmes, séries e no registro da memória santa-mariense.
O envolvimento da equipe em diversas edições do festival Santa Maria Vídeo e Cinema (SMVC) – seja colaborando ou com trabalhos inscritos nas mostras -, bem como em outras mostras nacionais, e a aprovação em editais de fomento, balizam a importância que tem a TV OVO hoje.
“O mais bacana desses 29 anos da TV é o amadurecimento que a gente vai notando. Parece que tem fases, como no crescimento de uma pessoa mesmo. Agora, chegando quase nos 30 anos e olhando para trás, percebo que foi um caminho legal, cheio de realizações, e que ainda tem projetos grandes pela frente”, destaca o jornalista Marcos Borba, que participou da primeira turma de oficinas e segue até hoje como integrante da TV OVO.
A programação de aniversário inclui exibições de duas produções recentes feitas dentro da Oficina de Audiovisual do Núcleo de Cultura, Arte e Cidadania (NUCAC), promovida pela TV OVO na Nova Santa Marta (periferia de Santa Maria). As ações ocorrem no Cineclube da Boca, no prédio 67 da Universidade Federal de Santa Maria (programação completa no fim do texto).
A saber: “De Jovem para Jovem” (mostra a vida de dois adolescentes que têm experiências distintas de mundo) e “Vida em Projeto” (sobre dois jovens que compartilham experiências de como um projeto social de arte e cultura mudou suas vidas). Além disso, o coletivo trabalha em uma série documental sobre o bairro Nova Santa Marta, no curta “Morada” – que retrata histórias vividas na Casa do Estudante Universitário situada no campus (CEU II) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a maior moradia estudantil do gênero do Brasil – e na série “Rock do K7” (projeto que mistura documentário e ficção para falar sobre 10 bandas gaúchas).
Outra novidade é o lançamento do primeiro longa-metragem. Chamado “Quando a Gente Menina Cresce”, o filme acompanha um grupo de garotas que vive a transição da infância para adolescência em uma escola pública na periferia de Santa Maria, sentindo mudanças no corpo, medos, desejos e vivendo a expectativa da chegada da primeira menstruação.
Desde o início, na Vila Caramelo, quando gestada em meio ao movimento das rádios e TV’s comunitárias, a TV OVO pautou sua atuação cultural na educomunicação e na coletividade. Essa postura rendeu reconhecimento nacional por meio dos prêmios Escola Viva (2007), Selo Cultura Viva (2007), Ponto Mídia Livre (2010), Selo e Prêmio Cultura Viva (2011), Ponto de Memória (2013) e Culturas Populares (2019).
Reforça ainda a relevância da entidade, o fato de ter se tornado, em 2004, Ponto de Cultura – honraria cedida pelo Estado (Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura) para entes que desenvolvem atividades culturais. A certificação possibilitou parcerias, acesso a recursos financeiros e mais visibilidade para projetos
– O que percebo de mais bacana é o reconhecimento que a TV OVO tem, tanto na comunidade onde nasceu quanto no Estado e no país. Um dos pontos altos dessa caminhada foi a certificação como Ponto de Cultural, em 2004, possibilitando dar seguimento ao projeto e permitindo uma troca muita rica de experiências com pares de outras partes do Brasil – avalia o professor da rede municipal de ensino Paulo Tavares, idealizador da TV OVO e, hoje, integrante da equipe.
Lar do audiovisual
Atualmente, a TV OVO está sediada em uma área anexa ao casarão histórico (construído em 1916) na esquina das ruas Floriano Peixoto e Ernesto Beck. O espaço, adquirido pelo jornalista Marcelo Canellas e com escritura doada à TV em 2016 – como presente pelas duas décadas de serviços prestados – será um complexo cultural em breve (saiba mais aqui). A proposta em andamento prevê transformar o local e o galpão no mesmo terreno em um centro voltado às artes, com ênfase para o audiovisual.
No primeiro andar do sobrado está previsto um café para sediar a socialização de saberes, debates e mostras durante o happy hour. No mesmo piso, deve ser montada a Biblioteca do Audiovisual Sérgio de Assis Brasil (importante nome do segmento na região centro do Rio Grande do Sul), com acervo de livros e filmes de acesso gratuito para a população. Ainda no primeiro nível da edificação, o objetivo é alocar o museu da imagem e do som, com materiais brutos feitos pela TV OVO ao longo dos anos – e que é constantemente atualizado. Já no segundo andar, a ideia é uma sala de cinema com programação contínua voltada para lançamentos nacionais.
O Sobrado Centro Cultural pretende fomentar o estudo, a discussão e a produção audiovisual também no prédio anexo. Nele, além de o segundo andar abrigar a futura sede da TV OVO, o terceiro conta com área para oficinas, workshops e coworking. No primeiro piso, a intenção é fazer um estúdio para produções de cinema e TV, que também pode ser utilizado para espetáculos, shows e saraus. E, no subsolo, outros dois estúdios menores estão nos planos: um para pequenas produções audiovisuais e outro voltado para a produção sonora.
A primeira etapa das melhorias estruturais, aprovada pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC) do Rio do Grande do Sul, está concluída. Essa parte contemplou reforma interna do casarão. Recentemente, foi aprovada na Lei Rouanet um projeto para finalizar o projeto, o que inclui recuperação da parte externa do sobrado e a construção do anexo. Interessados em contribuir com a captação de recursos podem entrar em contato pelo e-mail [email protected].
História que daria filme
A TV OVO tem uma trajetória que renderia um bom roteiro, principalmente pelo lado social. Em seus quase 30 anos, desenvolveu inúmeros projetos e oficinas em comunidades periféricas e escolas públicas. Foram realizadas ações de formação, cineclube e núcleos de vídeo comunitário nos projetos Ponto de Cultura Espelho da Comunidade, em Santa Maria, e Pontão de Cultura FOCU em Pontos de Cultura do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Também merece registro o projeto Por Onde Passa a Memória da Cidade que, desde 2008, resgata a história de pessoas, ruas, bairros e distritos de Santa Maria.
O tempo também permitiu a TV OVO construir pontes por meio de parcerias com TV Brasil, Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Canal Futura e TVE-RS. Há mais de uma década, a TV OVO atua em projetos pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC) de Santa Maria voltados para a produção de documentários a respeito da memória local.
Já são mais de 40 produções sobre culturas populares, saberes tradicionais, histórias de ruas, bairros, distritos e toda a sua gente. O currículo da TV OVO contempla ainda oficinas de realização audiovisual em escolas municipais, colóquios e workshops para ampliar o conhecimento e fortalecer a cadeia audiovisual.
Merece destaque, também, o trabalho junto à Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss de Santa Maria (AVTSM), no qual a TV OVO colaborou na organização de espaços de discussões sobre a tragédia e registrou o desenrolar da busca por justiça. De parte desse processo, foi produzido o documentário Depois Daquele Dia (2018), dirigido por Luciane Treulieb, licenciado para o Canal Brasil em janeiro de 2023, e a série Boate Kiss: a tragédia de Santa Maria (2023), com direção de Marcelo Canellas, para o Globoplay.
O coletivo abordou ainda a temática indígena com produções premiadas. Em 2020, lançou o documentário Mbya Arandu – Saber Guarani (2019), produzido por alunos da escola indígena Mbya Yvyrai’Ijá Tenodé Verá Miri, da aldeia Guarani Mbyá – Tekoá Guaviraty Porã, que percorreu os festivais FECEA – Festival de Cinema Escolar de Alvorada/RS, Arquivo em Cartaz – Festival Internacional de Cinema de Arquivo, Festival de Cinema Estudantil de Guaíba e foi premiado como melhor documentário no prêmio especial do júri do Festival Curta Taquary, de Taquaritinga do Norte.
Com o mesmo mote, foi realizado outro documentário: Quando te Avisto (2020), que trata sobre a presença indígena em Santa Maria e propõe uma reflexão da relação do homem branco com os povos originários. Dirigido por Denise Copetti e Neli Mombelli, a obra concorreu na Mostra de Curtas Gaúchos do 48º Festival de Gramado. O filme também integrou a mostra do Festival Alter do Chão 2020 e, em 2021, recebeu prêmio de melhor filme do júri popular da 14ª edição do Visões Periféricas e levou menção honrosa do 5º CineSerra. O trabalho foi vencedor do SMVC em 2022 nas categorias: Melhor Curta e Melhor Trilha Sonora Original, para Marcelo Schmidt, da Mostra Sinprosm de Curtas-Metragens de Santa Maria e Região. Quando te Avisto percorreu cerca de 15 festivais em nível nacional.
Programação de Aniversário 29 anos TV OVO no Cineclube da Boca (prédio 67 da UFSM)
14/05 – Projeto NUCAC Nova Santa Marta
“De Jovem Para Jovem” – https://youtu.be/t6oEIOeHawQ?feature=shared
De Jovem para Jovem explora a vida de dois jovens moradores da Nova Santa Marta, que têm duas experiências distintas. O cotidiano é traduzido em reflexões que perpassam a adolescência, as dificuldades e os sonhos dessa fase da vida.
“Vida em Projeto” – https://youtu.be/Pv65__YFvZs?feature=shared
No filme Vida em Projeto, vamos conhecer Pedro e Ingrid, dois jovens do bairro Nova Santa Marta, que compartilham suas experiências sobre como um projeto social de arte e cultura mudou suas vidas. Os estudantes relatam como o acesso a atividades artísticas e culturais os ajudou a desenvolver habilidades, autoestima e novas perspectivas.
21/05 – Pré-estreia “Nova Santa Marta – Cidade de Madeira e Cidade de Concreto”
Madeira – Bruno, filho de uma das lideranças do bairro da Nova Santa Marta, continua sua jornada em busca da história de formação da comunidade. Mesmo depois de estabelecida, a ocupação segue unida em luta por melhores condições.
Concreto – No terceiro e último episódio da série, Bruno Martins, cria da maior ocupação urbana organizada da América Latina, registra e reflete sobre o passado e o futuro do bairro Nova Santa Marta. A luta continua!
28/04 – Pré-estreia “Morada”
Eduarda vive seus últimos dias de casa do estudante na Universidade Federal de Santa Maria. Observando o apartamento em que mora, descobre um papel amassado dentro de um buraco na parede com data de 1989. Movida pela curiosidade e pelas diversas narrativas de jovens que atravessam aquele local em busca dos seus sonhos, ela inicia uma jornada de si e de quem poderia ser aquele pedaço de papel com vestígios de uma história no tempo.
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