Enquanto brincam de boneca, a realidade sangra – por Giuseppe Riesgo
“É o retrato de um tempo em que a ilusão vale mais que o contato verdadeiro”

O Brasil parece viver um paradoxo inquietante: enquanto milhares de crianças enfrentam abandono, violência e abuso diariamente, parte da sociedade se mobiliza em torno de bonecas de plástico tratadas como se fossem bebês reais.
Nos últimos dias, muito se falou sobre as chamadas “bebês reborn”. Bonecas hiper-realistas que adultos vestem, alimentam, passeiam e até registram como se fossem filhos. Para muitos, isso parece apenas uma excentricidade sem consequências. Mas o que isso revela é um traço mais profundo – e preocupante – da nossa sociedade: estamos cada vez mais inclinados a substituir relações humanas reais, complexas e desafiadoras por simulações seguras, silenciosas e sob total controle.
É o retrato de um tempo em que a ilusão vale mais que o contato verdadeiro.
Enquanto isso, na vida real – aquela que dói e não cabe no feed filtrado das redes sociais – o que vemos é uma tragédia em curso. O número de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes explode ano após ano. Meninas entre 10 e 14 anos engravidam após serem violentadas. Crianças crescem sem assistência, sem acolhimento, sem futuro. Mas isso não vira manchete, não gera comoção, não mobiliza debates no parlamento ou projetos de lei relâmpago.
É como se o país estivesse mais disposto a “proteger” bonecas de silicone do que seres humanos em carne e osso.
Não me espanta que as pessoas busquem alguma forma de consolo em tempos tão desumanos. Mas é profundamente simbólico – e alarmante – que uma boneca receba mais cuidado, mais atenção e mais empatia do que uma criança violentada e esquecida pelo Estado.
Essa inversão de prioridades diz muito sobre a falência moral que enfrentamos. E mais: revela como o aparato político muitas vezes se ocupa de pautas periféricas enquanto ignora o essencial. Cuidar de bonecas não exige coragem, não cobra responsabilidade, não pressiona os sistemas de proteção social. Cuidar de crianças reais, sim.
Se a sociedade não for capaz de encarar sua própria omissão com seriedade, vamos seguir caminhando rumo à barbárie – só que fantasiados de afeto, embalados no conforto de relações fictícias.
A vida real exige presença, enfrentamento e compromisso. Boneca nenhuma vai resolver isso.
(*) Giuseppe Riesgo é secretário de Parcerias da Prefeitura de Porto Alegre e ex-deputado estadual pelo partido Novo. Ele escreve no site às quintas-feiras
Resumo da opera IV. ‘Novo’ só no nome, a politica que praticam é velha.
Resumo da opera III. Em certas camadas da população as mulheres adiam a maternidade ou até optam por não ter filhos(as) por motivos profissionais. Isto leva a um grande numero de mulheres em idade fertil tendo uma unica crianças. Pois bem, para uma população ser estavel dizem os espertos que a media deveria ser de 2,2 crianças por mulher. Isto terá impacto social no futuro.
Resumo da opera II. Outra minoria substitui a prole por pets. Mas o hype agora não é este.
Resumo da opera. Politico pregando moral de cuecas policiando a sociedade e ‘prescrevendo’ comportamentos. Deve estar sobrando tempo na prefeitura de POA.
Legislação permite adoção inclusive por pessoas solteiras, basta atender os requisitos.
Nos ultimos dias também se falou muito no bebe ‘rouborn’.