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Interesses Pessoais e o Coletivo: Uma Tensão Permanente – por Marionaldo Ferreira

A vida em sociedade é marcada por uma constante tensão entre interesses pessoais e os interesses coletivos. Ainda que o discurso público frequentemente invoque o bem comum, é inegável que por trás de quase toda decisão — seja ela individual ou institucional — existe um conjunto de interesses pessoais ou de grupos específicos. Essa constatação, longe de ser cínica, é apenas uma leitura realista da natureza humana e das estruturas de poder.

Mesmo as escolhas que parecem neutras ou espirituais, como a eleição de um papa, não escapam a essa lógica. O conclave, embora envolto em ritos e tradições seculares, é também um momento de negociação intensa entre diferentes blocos da Igreja, cada um defendendo uma visão de mundo, uma teologia e, muitas vezes, interesses geopolíticos. O eleito, nesse contexto, é quase sempre o resultado de uma convergência de interesses de grupos influentes.

No campo político, os interesses pessoais tendem a suplantar os coletivos quando os mecanismos de controle, transparência e participação são frágeis. A nomeação de cargos, a distribuição de recursos e a elaboração de políticas públicas muitas vezes refletem muito mais os desejos de manutenção de poder, vantagem e influência do que a busca pelo bem-estar da maioria.

É preciso, no entanto, reconhecer que os interesses pessoais não são necessariamente ilegítimos. Eles se tornam problemáticos quando não dialogam com os interesses da coletividade ou quando se impõem a ela de maneira autoritária, corrupta ou desleal. O desafio ético, portanto, é construir espaços de equilíbrio, onde o legítimo interesse de um indivíduo ou grupo esteja sempre em relação dialética com o interesse público.

Uma sociedade madura politicamente é aquela que reconhece a existência dos interesses e os canaliza por meio de instituições justas e transparentes. É aquela que entende que, mesmo sendo o coletivo uma abstração, ele se realiza na medida em que os interesses individuais se convertem em ações responsáveis, solidárias e comprometidas com o bem de todos.

(*) Marionaldo Ferreira é servidor aposentado da UFSM. Tecnólogo em Processos Gerenciais, Especialista em Administração e Marketing, Psicanalista em formação e tem, também, MBA em Gestão de Projetos. Seus textos são publicados nas madrugadas de segunda-feira.

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Um Comentário

  1. Furou o pneu do carro. Para que o veiculo transite é necessário que exista um minimo de ar comprimido dentro do pneu. Logo temos que trocar o pneu do carro.

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