Maio, 17 – por Orlando Fonseca

O aniversário de Santa Maria cai no final de semana, próximo sábado. Ou seja, nada mais sem graça que um feriado desses. Bom, mas já tivemos feriadões o suficiente em 2025. Agora sobram poucos até o final do ano. Enfim, mas como se trata de uma data significativa para a cidade, temos a semana toda para lembrar pontos importantes a comemorar, a celebrar ou aguardar por dias melhores, com expectativa.
Não somos uma cidade com autoestima elevada, daquele jeito que encontramos em outras comunidades, com gente disposta a brigar pelas qualidades do lugar (ao menos os bairristas). Não é difícil de os encontrar aqui nas redondezas. Devido à nossa localização, bem no centro de Estado, vimos se desenrolarem dois projetos de desenvolvimento que, historicamente, nos levaram a ser uma cidade de passagem. Primeiro veio a ferrovia, com os trens passando por aqui, na ligação da Capital com a fronteira oeste. Isso perdurou toda a primeira metade do século XX. A partir da metade do século passado, veio a primeira Universidade do interior do país, UFSM, também com gente chegando e indo embora. Sem falar que, por ser um ponto estratégico, a cidade cresceu com a vocação militar.
As vindas e idas desse povo tornam um pouco difícil criar aquele vínculo que transforma cidadania em bairrismo. Alguém pode observar que o cuidado cidadão é melhor do que o bairrismo, mas um pouquinho deste não nos faria mal. Sendo o que temos, precisamos seguir em frente, contando que os residentes (naturais ou temporários) desenvolvam algum afeto, fundamental para que se cuide do que é de todos. As calçadas, por exemplo, em muitos lugares da cidade, representam um sintoma desta falta de carinho pelo que é nosso. E o que é pior, isso salta aos olhos de quem chega, pensando que a cidade está feia. O que deveria saltar aos olhos é o que de bom está sendo feito.
Outro detalhe desta cidadania, construída ao longo do tempo, é que temos a memória fraca. Esquecemos com facilidade de fatos e personalidades que aqui nasceram ou viveram um tempo em nossa cidade. Gente que legou obras e valores importantes para o Estado, ou mesmo, para o país. Felipe D’Oliveira, por exemplo, personalidade literária mais importante dentre os santa-marienses, constante dos compêndios de história da literatura nacional. Temos um concurso que abrange todo os país e que dignifica o seu nome, contudo, o seu busto de bronze (um Brecheret legítimo) foi roubado da Praça e até hoje não se sabe de seu destino. E sequer se sabe de algum projeto para se repor a figura do poeta em sua erma. Um dos maiores nomes da MPB, Lupicínio Rodrigues, por aqui viveu, aqui compôs uma de suas mais conhecidas canções, “Felicidade”. Por aqui iniciou um modelo de composição que chamam de “samba de dor de cotovelo”, que fez escola e hoje se ouve no que chamam de “sofrência”. No entanto, sequer temos um Festival que dê relevância à obra deste compositor, que nos singularizou com sua passagem e sua arte.
Dia desses, a irmã reitora da UFN, ao receber uma homenagem na Câmara de Vereadores, falou em alto e bom som, que é preciso união para que a cidade possa dar impulso aos projetos de desenvolvimento – ela reclamava da falta de um aeroporto e do péssimo estado das estradas (que pioraram com as últimas chuvas). Faço coro à voz da reitora: precisamos construir uma relação mais consequente e eficaz com o futuro, em projetos consistentes. E para isso, como nos lembra a irmã, é preciso esforço conjunto. Eu diria que nem precisa ser bairrista, mas um tantinho de visão empreendedora que coloque a cidade nos projetos pessoais. Para isso, há de servir este feriado disfarçado de final de semana. Sou otimista com minha Cidade, e desejo felicidade em seu aniversário.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.
Resumo da opera III. Decadas atras, acredito que n’A Razão, Maximo, que dispensa apreesntações, escreveu um artigo se bem me lembro. ‘Com as velas e não com os ventos’. Oriundo de um livro chamado ‘As mais belas paginas da literatura árabe’. Aldeia precisa de rumo. Com as velas, não com os ventos.
Resumo da opera II. Santa Maria não tem identidade definida. Não tem ‘personalidade’. Quer se diferenciar copiando as outras cidades. Chama artificialidades de ‘projetos’. Não se conhece, não ve suas potencialidades e suas desvantagens. Vive se refugiando no passado que só é importante para ela propria. Politicos(as) ficam captando votos atendendo (ou fingindo atender) lobbies de nichos melhor organizados. Cidade precisa de um ‘sacode’.
Resumo da opera. Com gestão ‘Inovar é empulhar’ não se consegue grande coisa.
‘Eu diria que nem precisa ser bairrista, mas um tantinho de visão empreendedora […]’. Alguém que teve uma carreira no serviço publico falando em ‘visão empreendedora’ só não é mais engraçado do que alguém do juridico falando a mesma coisa! Kuakuakuakuakuakua!
‘E para isso, como nos lembra a irmã, é preciso esforço conjunto.’ Faltam lideranças. Diferente de ocupar cargos. A propria só é reitora porque galgou a hierarquia de uma ordem religiosa. Não é tentar depreciar, é ressaltar que é um planeta diferente.
‘Eu diria que nem precisa ser bairrista, […]’. Santamariense medio fora daqui fala que todos comem presunto de parma quando na realidade comem fiambre.
‘[…] precisamos construir uma relação mais consequente e eficaz com o futuro, em projetos consistentes.’ Quais projetos, os empurrados de cima para baixo pelas patotinhas? Vide o fiasco da ESA. Bairrismo: ‘não tem para ninguém, estamos em primeiro lugar’. Censura padrão, não se podia criticar o que era dito. Sai o resultado. Claramente terceiro lugar. Culpa dos outros, claro, politicos da terra são ‘perfeitos’ (no caso a nulidade do Possochato). Não veio por causa da ‘politica’. Não existiam deficiencias no projeto da urb. Mesmo muito tempo depois ainda comemoravam o problema das licenças ambientais no lugar escolhido (como se não pudesse ocorrer aqui também) e ‘vendiam’ para a população que a escola ainda poderia vir para ca. Mesmo ficando em terceiro.
Estradas são necessarias, 287 vai melhorar. Não acredito que tenha muita influencia nos rumos da cidade. Mesmo se tivesse o prazo para conclusão não ajuda, a curva demografica vai bater na cidade antes, principalmente nas faculdades.
Aeroporto é necessário, mas não está no horizonte. Governo Péssimo vai insistir na base aerea. Setor aéreo está em crise ainda por cima.
Sem falar no ‘O que deveria saltar aos olhos é o que de bom está sendo feito’. Maior população de bobos alegres do pais. Coisa de quem come côcô de colherinha. Com o minguinho levantado.
‘[…] é preciso união para que a cidade possa dar impulso aos projetos de desenvolvimento […]’. Quais? A ‘cidade das faculdades’ gosta de uma ‘colinha’. ‘Precisamos de um carnaval igual ao de Uruguaiana’. ‘Precisamos de uma estatua da Medianeira igual ao Cristo Protetor’. ‘Precisamos de um distrito empulhativo igual ao de Floripa’. ‘Precisamos de turismo igual ao de Gramado’.
‘No entanto, sequer temos um Festival que dê relevância à obra deste compositor, […]’. A Tertulia já não é o que era antigamente. Um festival destes teria toda chance de virar quermesse ou motivo para colocar dinheiro no bolso da classe artistica local que é bastante, no geral, meia boca.
Lupicinio teve o destino de todo musico. Inicio, sucesso (maior ou menor), mudança do gosto popular, nicho e fim. Simples assim. A moda agora é funk carioca (uma degeneração do Miami Bass, altamente comercial), sertanejos universitários, sertanejo pop, etc. Também altamente comerciais. Sertanejo raiz, samba e seus subgeneros, chorinho, estes estão completamente nichados. Como o rock nacional. Que ja foi bastante comercial como o axé.
‘[…] o seu busto de bronze (um Brecheret legítimo) foi roubado da Praça e até hoje não se sabe de seu destino.’ Se não fosse noticiado ninguém daria falta. Além disto era só um busto, não constava no melhor da obra do autor. Não é caso isolado, estatua de Drummond de Andrade, que era mais famoso que Felipe, quando não é pichada tem os oculos roubados. Em plena Copacabana.
‘Felipe D’Oliveira, por exemplo, personalidade literária mais importante dentre os santa-marienses, constante dos compêndios de história da literatura nacional.’ Se a obra dele não caisse no vestibular da UFSM durante muito tempo seria totalmente irrelevante. Numero de leitores cai no pais há decadas. Alas, no planeta. Caso da poesia é pior.
‘As calçadas, por exemplo, em muitos lugares da cidade, representam um sintoma desta falta de carinho pelo que é nosso.’ As patotinhas querem uma cidade que não cabe no bolso da maioria da população. Este é o veredito. Nesta hora algum(a) imbecil vai encontrar exceções, casas ‘bacanas’ com calçadas detonadas. Outros, ignorantes, não conseguem captar a noçao de que patrimonio não é fluxo de caixa. Quem já passou na calçada de uma faculdade de direito sabera que as empresas, por exemplo, não quebram por falta de patrimonio e sim por falta de caixa para honrar os compromissos.
‘Sendo o que temos, precisamos seguir em frente, contando que os residentes (naturais ou temporários) desenvolvam algum afeto, fundamental para que se cuide do que é de todos.’ Em muitas cidadezinhas do interior, sem faculdades e sem muitas escolas, a coisa é publica é cuidada com muito mais capricho. Cultura? O tamanho ajuda, as pessoas mais ou menos se conhecem todas?
‘As vindas e idas desse povo tornam um pouco difícil criar aquele vínculo que transforma cidadania em bairrismo.’ Santa Maria tem algo como 30 mil estudantes universitarios. Maioria é daqui mesmo. Mas se fossem todos de fora representariam 11% da população. Se quase 90% não vão nem vem de onde surge a falta de vinculo? Outra lenda urbana. No ‘qualitativo’ qualquer coisa é ‘verdade’.
‘[…] veio a primeira Universidade do interior do país, UFSM, […]’. Obra do Dr. Mariano. Criou um ‘ecossistema economico’ fortemente calcado no comércio. Que degenerou em acomodação, ‘foi sempre assim e continuará a ser assim’ e decadencia. Enfase na ‘acomodação’.
‘[…] historicamente, nos levaram a ser uma cidade de passagem.’ Cidade deixou de ser ‘de passagem’ com a decadencia das ferrovias. Pessoal antigamente passava em direção a Uruguaiana/Argentina. O Porto de Rio Grande não era grande, utilizava-se o de Montevideu. Com a mudança do fluxo de pessoas, avanço das rodovias e transporte aereo, decadencia da metade sul, diminuição da densidade demografica na metade sul, a cidade tornou-se ‘de estadia temporária’.
‘Não somos uma cidade com autoestima elevada, daquele jeito que encontramos em outras comunidades, com gente disposta a brigar pelas qualidades do lugar (ao menos os bairristas).’ Santamarienses têm, fora daqui, a fama de serem gabolas. ‘Qualidade’ esta que é incentivada e funciona como uma especie de ‘controle social’ pelas patotinhas.