Mudanças no EAD – por Orlando Fonseca

Já tive uma defesa mais contundente do ensino a distância. Ainda no início deste século, quando começavam as discussões a respeito desta modalidade, participei de discussões em vários fóruns. Fui alimentando minhas argumentações na defesa, em vista de uma posição que assumi muito cedo na minha atividade no magistério: o ensino baseado no construtivismo. A partir da concepção de vários educadores, começando por Piaget, entendi que o protagonismo da aprendizagem é do aluno, de modo que, tanto faz estar na presença do professor, ou mediado por uma interface tecnológica. Não fosse assim, em meados do século passado, projetos como a forma impressa dos cursos técnicos, o Projeto Minerva, pelas ondas do rádio, ou ainda o Telecurso Segundo Grau pela TV não teriam efeito prático. Agora, diante das mudanças que o Ministério da Educação faz na regulamentação do EAD, eu me dou conta de que minha concepção do tema mudou drasticamente, em vista do que educadores e autoridades têm dito e feito a respeito do estrago que as horas diante de telas fizeram na mente de crianças e adolescentes.
Segundo esta nova regulamentação anunciada semana passada, os cursos da área de saúde (Medicina, Odontologia, Psicologia) e o Direito não podem mais ser 100% a distância. Isso também já estava estabelecido para as licenciaturas. Esta medida atende tanto ao que diz respeito às disciplinas práticas, quanto à facilidade que o EAD abre para que proliferem cursos sem as devidas capacidades de formação. No caso da formação de professores, o que se entende é que é crucial a presencialidade, quando se trata da formação intelectual de crianças e jovens. Como já é impossível afastar de todo o uso de tecnologias de telas, as horas diante dessas tende a se incorporar no modo de se adquirir o conhecimento. Logo, um ensino que vise estimular a formação humanística, torna urgente e imprescindível a presencialidade dos agentes: o educador e o educando.
Por um lado, a pandemia da Covid 19 acelerou a adoção de um modelo com o uso de equipamentos de comunicação, tanto para a forma híbrida da educação, quanto para as relações de trabalho, com o home office. Por outro, no entanto, aumentou as dificuldades de aprendizagem e produtividade, pela falta de interação pessoal. Crianças precisam da socialização da escola, do contato com a autoridade de saber dos mestres – o que estende o sentido do respeito ao conhecimento do outro, que começa em casa com os pais e tutores (ou deveria começar). Da mesma forma, precisam se relacionar com companheiros da mesma idade, para desenvolver o saudável convívio social.
Os indicadores estão aí para mostrar o quanto aqueles dois anos de distanciamento (2020-2021) atrasaram a formação dos alunos. As dificuldades de alfabetização na idade certa são um exemplo. Segundo dados divulgados recentemente, no RS esse índice voltou a cair depois de anos de estabilidade. Do mesmo modo, alguns jovens que chegam à universidade demonstram dificuldade de produzir raciocínio complexo, concentrar-se na apreensão de textos longos e em produzir uma argumentação, por conseguinte uma expressão acurada.
Humanidade se transmite melhor na presença, não resta dúvida. Ainda que não haja mais como retroceder no tempo, e afastar o uso das tecnologias de comunicação, de smartphones, computadores e tablets, é possível mitigar a deficiência nutricional que esta dieta intelectual apresenta. E a IA cada vez mais evolui, colocando em modo de atenção a Inteligência Natural no processamento da vida humana no planeta. Assim como as escolas aboliram o uso de celular em salas de aula, o MEC faz bem em regulamentar o EAD, para que os seres humanos envolvidos no processo passem mais tempo juntos, na construção de um saber que afirme com mais contundência o valor da humanidade.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.
Resumo da opera. Propaganda. Governo não quis comprar a briga da reforma da educação. Até porque não tem força para tanto. Negocio é empurrar com a barriga e tentar ganhar as proximas eleições. E marketar que está fazendo diferença.
‘[…] para que os seres humanos envolvidos no processo passem mais tempo juntos, na construção de um saber que afirme com mais contundência o valor da humanidade.’ Kuakuakuakuakuakua! Tem gente que chora e tem um orgasmo simultaneo ao ouvir ‘humanidade’! Kuakuakuakuakuakua! Infantil.
‘[…] o MEC faz bem em regulamentar o EAD,[…]’. Passação de pano. Governo fez quase nada para melhorar a situação.
‘E a IA cada vez mais evolui, colocando em modo de atenção a Inteligência Natural no processamento da vida humana no planeta.’ Youtube num canal noticioso ianque qualquer. Ex-professora desistiu de lecionar porque os alunos fazem tudo na IA, dão uma maquiada e vida que segue. Segundo ela quando são todos não tem muita solução.
‘Humanidade se transmite melhor na presença, não resta dúvida.’ A falacia é que os seres humanos precisam de aulas para serem o que são. Alunos e alunas saem de um caixa onde ficam completamente isolados vão para salas de aula e depois retornam. Acompanha outra falacia, para resolver todos os problemas da sociedade basta colocar na conta da educação. Como se os ‘educados’ não fizessem absolutamente nada de errado.
Obviamente existem um milhão de desculpas para tudo.
‘Do mesmo modo, alguns jovens que chegam à universidade demonstram dificuldade de produzir raciocínio complexo, concentrar-se na apreensão de textos longos e em produzir uma argumentação, por conseguinte uma expressão acurada.’ Não é um problema exclusivamente tupiniquim. Da França chegam noticias que nas escolas os alunos e alunas não tem mais que escrever, no maximo recebem tudo impresso. Da Ianquelandia alunos e alunas universitarios não conseguem ler livros. Chegaram no coitadismo academico, não se pode exigir muito. https://www.theatlantic.com/magazine/archive/2024/11/the-elite-college-students-who-cant-read-books/679945/
‘Segundo dados divulgados recentemente, no RS esse índice voltou a cair depois de anos de estabilidade.’ Estabilidade num nivel excepcional, bom ou meia-boca?
‘Os indicadores estão aí para mostrar o quanto aqueles dois anos de distanciamento (2020-2021) atrasaram a formação dos alunos.’ A relutancia em adotar novas tecnologias levou a adoção as pressas e a modo miguelao. Educação no pais está na mão dos educadores que são extremamente conservadores. Inclusive por não quere se incomodar, ter mais trabalho.
Elisa de Oliveira Flemer. Proibida de cursar engenharia civil na USP em 2021. Passou em 5º lugar, mas era oriunda do homeschooling. Uma empresa ofereceu um curso de curta duração na California e um estagio. Também um curso EAD numa universiade ianque. É um caso particular, mas demonstra a linha de montagem. Corpo discente recebe as mesmas aulas com muito pouca individualização. Explica-se pelo sistema e pelos recursos.
A linha de montagem não é vista como um caminho para aquisição de conhecimentos e habilidades. Visão burocratica, caminho para conseguir um papel que ‘prova’ que conhecimentos e habilidades existem. Formação na maioria descolada das realidades. Pedagogias mais preocupadas em formar ‘cientistas’ da educação do que professores(as).
‘Logo, um ensino que vise estimular a formação humanística, torna urgente e imprescindível a presencialidade dos agentes: o educador e o educando.’ Formação humanistica é a mais completa cascata. Quer dizer absolutamente nada. O ensino é executado no Brasil como linha de montagem. Educadores tem a necessidade de controle e de monitoração dos resultados. Educandos tupiniquins não têm a mesma disciplina que os asiaticos, por exemplo.
Para não ficar na afirmação vazia. ‘The science of effective learning with spacing and retrieval practice’. Revista Nature. 2022. Existem balaios sobre o mesmo tema. Mais atuais, obvio.
‘[,,,] em vista de uma posição que assumi muito cedo na minha atividade no magistério: o ensino baseado no construtivismo.’ Ou seja, não viu a Arca mas pisou no barro da enchente. Não é um problema particular, maioria dos que ensinam a ensinar quando não estão atolados até o pescoço na ideologia estão completamente ultrapassados por trinta ou quarenta anos de pesquisa. Não só na psicologia, também nas neurociencias.