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Netanyahu e a aposta na guerra – por Leonardo da Rocha Botega

Nos últimos meses, crescem “as contestações internas e externas ao governo”

Mais uma vez o governo de Benjamin Netanyahu atacou o Irã, aumentando ainda mais a escalada dos conflitos e a violência no Oriente Médio. O governo israelense já havia atacado a Embaixada do Irã na Síria, em abril de 2024, e a própria capital iraniana, Teerã, em outubro do mesmo ano. Todos os ataques foram seguidos de ataques retaliatórios por parte do Irã.

Desde os ataques promovidos pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 e a intensificação das ações israelenses na Faixa de Gaza, o governo Netanyahu, em sua obsessão por assassinar os líderes dos grupos inimigos (o Hamas, os Houthis, o Hezbollah e a Guarda Revolucionária do Irã), já atacou a Síria, o Líbano, os territórios palestinos, o Iêmen, além do próprio Irã, ou seja, cinco nações diferentes.

O novo ataque israelense recebeu como justificativa “parar o fortalecimento do arsenal nuclear por parte do Irã”. Recentemente, a Agência Internacional de Energia Atômica da ONU acusou o Irã de violar, pela primeira vez em quase 20 anos, as obrigações de não proliferação nuclear. O governo iraniano havia anunciado que, diante da escalada dos conflitos na região, aumentaria a produção de urânio enriquecido.

O governo de Israel utilizou da acusação formal feita pela AIEA contra o governo do Irã para promover novamente uma ação contra o seu principal rival regional. Benjamin Netanyahu buscou na condenação por um órgão internacional uma forma de legitimar sua verdadeira aposta: a intensificação do genocídio do povo palestino e a elevação para outros patamares dos conflitos regionais. Tudo isso em seu pior momento político.

Nos últimos meses, as contestações internas e externas ao governo Netanyahu cresceram. No plano internacional, o premier israelense, além de ter contra si um mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional, passou a receber fortes criticas de chefes de Estados aliados, sobretudo, pelo assassinato de milhares de crianças palestinas e o impedimento da entrada de Ajuda Humanitária em Gaza.

Ao mesmo tempo, inúmeros grupos e movimentos sociais ligados a pauta dos direitos humanos têm promovido massivos protesto no mundo todo condenando os crimes de guerra cometidos pelo governo de Israel. Entre esses crimes está o recente sequestro e prisão em águas internacionais dos doze passageiros da Embarcação Madleen que levava comida, remédios e próteses infantis para a população palestina em Gaza.

Internamente, Netanyahu tem visto seu governo ser, mais uma vez, fortemente contestado pela população israelense. No dia 7 de junho, uma semana antes do novo ataque ao Irã, as ruas de Tel Aviv foram tomadas por milhares de manifestantes exigindo um cessar-fogo após 20 meses de ações contra os palestinos e uma saída negociada para a libertação dos reféns ainda mantidos na Faixa de Gaza.

Um dia antes, o ex-ministro da Defesa israelense, Avigdor Liberman, acusou o governo de Israel de estar armando milícias rivais ao Hamas na Faixa de Gaza. Em declaração ao canal israelense Ch. 12 News, Liberman alertou que a ação fortalecia um grupo “equivalente ao Estado Islâmico em Gaza”. A denúncia tomou por base uma afirmação feita pelo próprio Netanyahu em suas Redes Sociais.

Além desta denúncia e dos grandes protestos promovidos pela sociedade civil israelense, Netanyahu ainda teve que enfrentar um pedido, rejeitado, de dissolução do parlamento e, consequentemente, convocação de eleições antecipadas. O estopim do pedido foi o apoio do governo a um projeto que pretende acabar com a isenção do alistamento militar obrigatório para os judeus ultraortodoxos.

A maioria dos grupos de judeus ultraortodoxos são contrários a necessidade do Estado de Israel, por razões históricas (possuíam liberdade religiosa na Palestina) e por conta de sua moral religiosa (a volta de Moisés não necessita de um Estado). Apesar de ter sido rejeitada, a proposta que daria fim ao governo contou com 53 dos 61 votos necessários à aprovação, entre estes alguns de parlamentares “aliados” de Netanyahu.

Desde o fático 7 de outubro de 2023, o governo Netanyahu nunca esteve tão isolado e contestado. Antes dos ataques do Hamas, o premier já vinha sofrendo massivos protestos denunciando suas tentativas autoritárias de interferir no poder judiciário. A investida contra Gaza salvou seu governo. A guerra contra o Irã tem este mesmo objetivo. Netanyahu, mais uma vez, usa a guerra para salvar o próprio governo.

(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).

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11 Comentários

  1. Resumo da opera III. Acéfalos com ‘mentes revolucionárias’. Se sair o Putin e Bibi o quê acontece? Ninguem sabe. Porque o possivel novo premier russo iria ter que lidar com a Ucrania. Pagar toda a conta da guerra é fora de questão. Depois do tanto de gente morta capitular impossivel. Mesmo que se submetesse a OTAN a situação ficaria instavel, os chineses ficariam ‘flanqueados’. Em Israel a mesma coisa. Sucessor de Bibi teria que lidar com Gaza e com os Iranianos. Iria terminar com os conflitos e todos viveriam felizes para sempre?

  2. Resumo da opera II. Enquanto se discute os conflitos não se discute IOF, contas publicas, rombo orçamentario, coleta seletiva de lixo em SM, o trem da alegria no Cabidão da Vale Machado, a Casa de Cultura que não termina, o Elefante Branco do Cabidão idem, o Centro de Eventos, a verticalização da cidade sem ruas, esgoto ou fornecimento de agua, etc. Ou o impacto da inteligencia artificial no mercado de trabalho dos tupiniquins, no ensino, assim por diante.

  3. Resumo da opera. Liberdade de expressão é garantida pela CF88. Mas há que cuidar para não perder tempo com ‘bagrinhos estrategicos’. Especialistas em oriente médio pululam. Vermelhos são contra o Estado de Israel, alguma asneira ligada ao ‘colonialismo’. Estão parados mentalmente há 50 ou 60 anos atras.

  4. Semana passada um bando de ‘genios’ resolveu fazer uma ‘Marcha para Gaza’. Foram para o Egito e acharam que iriam passar utilizando os mimimis de sempre. Todo mundo preso e passaportes confiscados. Apesar do conflito situações humoristicas proporcionadas pelos vermelhos não podem faltar. Dias antes Greta Thunberg tentou entrar na região de conflito por via maritima. Ativismo de boutique. Resultado: em ambos os casos nenhum, mas os militantes se autocongratularam da mesma maneira.

  5. ‘ Netanyahu ainda teve que enfrentar um pedido, rejeitado, de dissolução do parlamento e, consequentemente, convocação de eleições antecipadas.’ Logo ainda tem maioria.

  6. O mimimi é o mesmo ha anos. Fulanizam no Netanyahu. Como outros fulanizam a Ucrania no Putin. Narrativa é que ‘enquanto a guerra continuar ele não cai, logo a guerra tem que continuar’. Explicação simples para uma situação complexa. Protestos contra o sujeito são majoritariamente das familias dos refens. Maioria já deve estar morta.

  7. ‘A maioria dos grupos de judeus ultraortodoxos são contrários a necessidade do Estado de Israel, […]’. Ultraortodoxos são 13% da população de Israel. Minoria. Dentro deste grupo existem os que são contra.

  8. Iranianos tem apoio minimo na região. São persas e não arabes. São Xiitas. Como boa parte da população do Iraque. Se anunciassem possuir armas nucleares imediatamente a Arabia Saudita dar um jeito de arrumar as suas.

  9. Semana passada foi vazada uma estimativa que o Iran poderia produzir não menos que 8 e não mais que 20 artefatos nucleares em até 6 meses. Teste em menos de um ano. Faltando o processo de ‘miniaturizar’, veiculo lançador já possuem. Iran também estava para receber caças russos Sukhoi Su-35 de geração 4++, ou seja, quase quinta geração.

  10. O Agente Laranja estava tentando negociar com o Irã. Semana passada, dizem as más linguas, foi mandado as favas. Iranianos não iriam desistir de armas nucleares. Nunca desistiram, é verdade. O acordo com Obama foi para ingles ver. Burocratas acham que o mundo se resolve em gabinete.

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