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MWSA – por Orlando Fonseca

Faça o mundo pequeno outra vez – é o que Trump, após tomar um choque de realidade, em seu segundo mandato, está tentando. Isso porque o seu MAGA pode não ser o projeto que venha entregar em quatro anos. A sigla da mudança de estratégia, em inglês, seria essa aí que aparece no título (inventei agora: Make World Small Again), resquício dos anos em que os EUA exerciam uma política imperialista sobre os países da América do Sul, o seu quintal. Através de ações nada diplomáticas, e nos subterrâneos da vida política, com seu braço da CIA, impôs e depôs ditadores, condenou, absolveu, esgotou as fontes de recursos. Após a Segunda Guerra, nos tempos da Guerra Fria, fez-se polícia do mundo ocidental, usando em vão o nome da democracia. Agora, depois do 11 de setembro de 2001 (e depois de desastradas campanhas na Coreia, Vietnã, Afeganistão e no Iraque), bateu uma saudade das glórias pretéritas do grande império do Norte.

Não sei bem o poder que exerce o Salão Oval, aquele espaço que costuma abrigar os líderes mais poderosos do planeta, sejam eles bons da cabeça ou não. Nesse último caso, a Casa Branca pode potencializar capacidades delirantes de seus moradores temporários. O que temos visto com Trump dando canetaços naquele lugar pode muito bem nos deixar com um pé atrás (tem ao seu alcance o botão vermelho) que põe uma pulga atômica atrás da orelha de outros líderes mundiais. Vai daí que o Supertrump (que não canta nada, mas pensa que pode tudo) despacha ordens para governantes como se desse ordens aos seus ajudantes. Haja vista o cala-boca em Zelensky, o ultimato para Putin, carraspana nos países da OTAN, o tratamento ao Canadá (diz que é um estado americano). Agora vem com um tarifaço imposto ao Brasil, o qual terá início em agosto, não por razões econômicas, mas por pressão política de um seu apaniguado brasileiros de extrema direita. Ignorando completamente o sentido de soberania de outros países, só posso imaginar que seu propósito seja diminuir as nações para dar impressão aos seus correligionários de que o MAGA está dando certo.

Os EUA, após uma participação fundamental na Segunda Guerra, ocuparam o centro das decisões nas relações internacionais. Com a divisão do mundo em dois blocos, capitalistas e socialistas, exerceu forte liderança entre os regimes democráticos, impondo o dólar como moeda internacional. Com a queda do Muro, em 1989, declarou-se triunfante, até ser contido com o ataque simbólico às Torres Gêmeas no início deste século XXI. Desde então vem perdendo importância, de modo que outros blocos econômicos procuram se afirmar, dentro de uma lógica multilateralista, como é o caso do BRICS. Com saudade do imperialismo, Trump tem atuado, nestes primeiros meses, como se tivesse um diploma plenipotenciário, mas não para promover a paz e a concórdia no mundo. Em verdade, está é desorganizando as economias pelos continentes todos e desagradando os próprios americanos, correligionários ou não.

Para impor uma tarifa de 50% ao Brasil, argumenta em sua carta que os BRICS foram criados para prejudicar os EUA. Em suas entrevistas declara que “se eles realmente se formarem de forma significativa, isso acabará muito rápido”. E ainda tem repetido a ameaça de que os BRICS podem ser submetidos a uma tarifa de 10% “muito em breve”, em retaliação à tentativa do bloco em substituir o dólar como moeda padrão global. O Brasil é membro fundador do BRICS, criado em 2006 junto a Rússia, Índia e China. Desde então, a organização se expandiu para incluir África do Sul, Egito, Irã, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia, e mais uns 30 países aguardando na fila. Reagindo ao protagonismo brasileiro e, não contente com isso, Trump ordena uma investigação comercial, alegando práticas “desleais” que restringiriam o comércio americano: manda investigar o PIX, o etanol, programas anticorrupção e até o comércio da 25 de Março, em São Paulo. E o pior de tudo isso é que os saudosistas do bolsonarismo estão aplaudindo o desvario do Americano, como se não houvesse um atentado à soberania do país, o Brasil, do qual se dizem patriotas. Supertrump declarou à imprensa que “está fazendo isso porque pode”. God save us! De minha parte, estou convencido de que o propósito dele é diminuir as outras nações para que a sua pareça Grande Outra vez. Quem aceita isso sem resistência já começou a pensar pequeno para caber no figurino.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.

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13 Comentários

  1. Resumo da opera. Brasil é o que é. Não vai ficar ‘maior’ nem base do grito e nem da ‘narrativa’. O resto é conversa mole para arrumar cabides, gastar a mais não poder e auferir ‘beiradas’. Simples assim. Já estão ‘fazendo o diabo’ por conta do pleito vindouro.

  2. ‘De minha parte, estou convencido de que o propósito dele é diminuir as outras nações para que a sua pareça Grande Outra vez. Quem aceita isso sem resistência já começou a pensar pequeno para caber no figurino.’ Pode achar o que quiser, não tem importancia nenhuma.

  3. ‘[…] não contente com isso, Trump ordena uma investigação comercial, alegando práticas “desleais” que restringiriam o comércio americano: manda investigar o PIX, o etanol, programas anticorrupção e até o comércio da 25 de Março, em São Paulo.’ Um balaio de gato para explicar o que aconteceu. PIX é conversa mole dos vermelhos, desinformação. Etanol porque querem empurrar o de milho ianque. Corrupção citam até o tratado. 25 de março é antigo. ‘Desleais’ porque, fato, Brasil tem tarifas preferenciais para outros paises.

  4. ‘[…] em retaliação à tentativa do bloco em substituir o dólar como moeda padrão global.’ Que o chanceler russo colocou na conta do Rato Rouco.

  5. ‘[…] argumenta em sua carta que os BRICS foram criados para prejudicar os EUA.’ Dolar deixar de ser padrão do comercio internacional é ameaça existencial. Não é coisa que se faça de hoje para amanha, mas é ameaça.

  6. ‘[…] dentro de uma lógica multilateralista, como é o caso do BRICS.’ Uma ova, quem manda é a China. Se ela sair o bloco não se sustenta.

  7. ‘ Agora vem com um tarifaço imposto ao Brasil, o qual terá início em agosto, não por razões econômicas, mas por pressão política de um seu apaniguado brasileiros de extrema direita.’ Sim, o Rato Rouco não abriu o bebedor de lavagem e não atacou o dolar. Não foi comemorar o fim da Segunda Guerra com Putin e inumeros ditadores. E não mandou Picolé de Chuchu para a posse do presidente iraniano.

  8. Alas, falam no efeito eleitoral que Agente Laranja teve no Canadá. Só que o Trudeau dançou. No Mexico apesar da propaganda resultdo não espantou. O que omitem é que os Carteis mexicanos ‘espirraram’ da Ianquelandia para o Canadá.

  9. ‘Haja vista o cala-boca em Zelensky, o ultimato para Putin, carraspana nos países da OTAN, o tratamento ao Canadá (diz que é um estado americano).’ Ucraniano é um peão e estava falando demais. Ultimato para Putin é para o Brasil também. Paises da OTAN não estavam cumprindo o tratado no que diz respeito ao gasto com defesa. Tratamento ao Canadá não é para ser levado a sério.

  10. ‘Não sei bem o poder que exerce o Salão Oval, aquele espaço que costuma abrigar os líderes mais poderosos do planeta, sejam eles bons da cabeça ou não.’ Primeiro, ocupante tem que defender os interesses que julga ser o dos ianques e também dos aliados. Segundo, o leque de preocupações é muito maior e o nivel de informação é absurdamente maior do que qualquer mané tupiniquim. Não se informa assistindo rede Globo.

  11. Entre a Segunda Guerra e hoje aconteceu muita coisa. Fim da Guerra Fria. Queda da União Sovietica e do Muro de Berlim. E o Comite Church no Senado Ianque. CIA ficou meio maneada. Muita coisa migrou para o Departamento de Estado. Foi assim que Hilary derrubou Kadafi. Foi assim que John Kerry trocou o governo pró-russo da Ucrania por um pro-Comunidade Europeia. Alas, Secretario de Estado é um cargo importante por lá, é o quarto lugar na linha sucessoria.

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