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“Ninguém vai ver”: como a fiscalização ambiental chegou até o fundo do campo – por Ana Luiza Arigony

“Hoje, quem age com responsabilidade não teme o satélite”, fala a articulista

“Mas ninguém vai ver, foi lá no fundo do campo.”
Durante muito tempo, essa era uma frase comum – dita com a tranquilidade de quem acreditava que o interior gaúcho estava longe dos olhos da fiscalização.
Hoje, acreditar que ninguém vai ver é um risco muito grande.

A fiscalização ambiental não depende mais de quem denuncia.
Ela está no satélite, nas imagens de alta resolução e nos sistemas digitais que acompanham o território em tempo real.

Nos últimos anos, órgãos como FEPAM, Ibama e Ministério Público começaram a usar ferramentas de geoprocessamento que revelam o que antes ficava escondido no fundo do campo.


O MapBiomas Alerta, por exemplo, cruza dados de desmatamento com imagens de satélite e dispara alertas automáticos sempre que há mudança de coloração – sinal de possível intervenção ou supressão de vegetação nativa.

Essas imagens são públicas, precisas e implacáveis.
Mostram a área, o antes e o depois.
E essa comparação tem sustentado autuações e processos.

O mais preocupante é que nem sempre a imagem reflete o que realmente aconteceu.
Um solo mais exposto pode parecer desmate; uma pastagem renovada, supressão.

Por isso, documentar, licenciar e planejar cada intervenção é essencial.
São cuidados simples que evitam que um trabalho legítimo se transforme em dor de cabeça — ou processo.

E não pense que isso vale apenas para o campo.
Postos de combustível, transportadoras, construtoras, pequenas fábricas e grandes indústrias também estão sob esse mesmo olhar digital.
O drone, o satélite e o algoritmo alcançam o galpão da cidade com a mesma nitidez com que enxergam o potreiro.

O que antes era visto como um “detalhe ambiental” virou parte importante da gestão.
Manter licenças atualizadas, registrar o histórico das áreas e buscar orientação técnica antes de agir não é burocracia: é blindagem.
Quem faz isso evita multas, embargos e ainda reforça a credibilidade da propriedade e da empresa.

A era da “vista grossa” acabou.
Hoje, quem age com responsabilidade não teme o satélite – porque sabe que o que sustenta o futuro não é o que se esconde, mas o que se faz direito.

(*) Ana Luiza Arigony é advogada ambiental e mestranda em Engenharia de Produção pela UFSM. Ela escreve no site às terças-feiras

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2 Comentários

  1. Resumo da opera. Cacoete do mundo juridico, especialmente na aldeia. O mundo é ‘adivinhado’ esfregando a barriga numa mesa numa sala com ar condicionado. Se o mundo real não se enquadra na ‘teoria’ está errado. Outro cacoete: pessoal do jurídico entende de leis. Devia se limitar a isto. Para todo e qualquer outro assunto, para efeitos praticos, só têm o segundo grau. Simples assim.

  2. Resolução de uma foto de satelite é baixa. Alta resolução, para os civis, é 30 cm por pixel. O padrão é meio metro por pixel. Se um agricultor descartar irregularmente vasilhames de 2,4 D num fundo de campo nunca será responsabilizado.

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