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JORNALISMO. O “erro” do repórter preso foi estar do lado de dentro. Mas ele fez o que Caco Barcellos faria

O “Clube do Bangue-Bangue”. Sem esses fotógrafos malucos, não se saberia tanto dos massacres dos governos racistas sul-africanos
O “Clube do Bangue-Bangue”. Sem esses fotógrafos malucos, não se saberia tanto dos massacres dos governos racistas sul-africanos

Por MOISÉS MENDES, no seu blogue na internet (*)

O lado certo

Não conheço Matheus Chaparini, o repórter preso quando da desocupação do prédio da Secretaria da Fazenda, na quarta-feira. Mas conheço seu chefe, o grande Elmar Bones, diretor do jornal Já, o cara que ajudou a mudar a cara da imprensa gaúcha nos anos 70 com a Folha da Manhã.

Matheus fez na quarta-feira o que qualquer jornalista de campo gostaria de fazer. Acompanhou uma ação policial de dentro da baleia. Estava misturado a estudantes e policiais na hora de desocupação. Percebe-se, pelo vídeo que fez, que se posiciona sempre ao lado dos estudantes. Por isso acabou preso como um deles.

É um detalhe importante. Se estivesse ao lado dos policiais, não levantaria suspeitas. Em situações de conflito como aquela, o jornalista está, quem sabe na maioria das vezes, ao lado dos policiais. Nas mais variadas circunstâncias (como em guerras e intervenções violentas em favelas, por exemplo), repórteres ficam na retaguarda, atrás da polícia.

O erro cometido por Matheus, na visão da Polícia e da Brigada, pode ter sido este: ele estava onde estavam os estudantes, porque deve ter entrado com a turma do protesto, para acompanhar tudo de perto.

Se agiu errado, grandes jornalistas (vou citar um, Caco Barcellos, que começou como repórter do Elmar na Folha), de texto, de áudio e de imagem, cometem esse erro com frequência. E sem esse “erro” não existiria uma das grandes façanhas do jornalismo.

Estudantes de jornalismo devem ler sobre o Clube do Bangue-Bangue (quatro fotógrafos malucos que atuaram nos piores momentos dos conflitos entre brancos e negros na África do Sul, nos anos 90). Muitos acham que eles não devem servir de referência de como cobrir conflitos, porque passavam dos limites, mas sem eles não saberíamos quase nada dos massacres provocados pelo governo racista.

E eu vou dar um exemplo, em outro estágio, com outras circunstâncias, com personagem local. O repórter Rodrigo Lopes, da Zero, foi jornalista infiltrado quando conseguiu entrar na embaixada do Brasil em Honduras, em 2009, onde estava asilado o ex-presidente Manuel Zelaya. Poderiam ter dito, como fizeram com Matheus, que Rodrigo era da turma de Zelaya.

O que importa, no caso de Matheus, é que ele conseguiu o que o repórter busca sempre. Ficou perto da trincheira do alvo policial, e não sob a proteção da BM. Matheus fez o certo, naquele cenário, e isso não será constatado daqui a alguns anos, como lição a ser aprendida. Constata-se agora. É fato. Matheus foi repórter. Inspire-se em Caco Barcellos, para seguir no exemplo (poderiam ser muitos outros), e vá em frente.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O jornalista Moisés Mendes, ex-Zero Hora, mantém seu blogue (cujo subtítulo é “A pretensa neutralidade no jornalismo é uma das grandes farsas da humanidade”) e também escreve para outras publicações, como o jornal eletrônico do Sinpro-RS (Extra Classe)

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3 Comentários

  1. @brando
    Comparações estapafúrdias e cenários dantescos mostra à qualidade dos comentarista, no caso.
    Jornalista militante( outra descoberta), que me cai os butiá do bolso.

  2. Acontecido daqui uns tempos será esquecido.
    Agora imagine a seguinte cena: polícia militar dá batida numa residência qualquer em POA. Encontra balanças de precisão, droga embalada, droga para embalar. Prende quatro pessoas. Na delegacia um dos “apreendidos” se identifica como “jornalista”. Como é que fica? Ele estava “cobrindo o fato” ou usou a “profissão” como álibi?
    O mesmo vale para o “jornalista” que é militante.

  3. Acho que ninguém questiona estar misturado…o que acho errado foi omitir se jornalista para ser preso e agora apelar para o coitadismo.
    Tem que bancar o risco que correu.

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