Hitler e a natureza – por Maiquel Rosauro
Outro dia, na Netflix, assisti ao excelente Ele Está de Volta (Er ist wieder da), de David Wnendt, filme alemão baseado no livro homônimo de Timur Vermes. Na trama, o führer desperta em 2014, no mesmo local onde ficava o seu bunker em Berlim. Ele logo é confundido como um imitador perfeito e, após ser descoberto por um jornalista, torna-se sucesso imediato na televisão.
O filme tem momentos hilários, sobretudo, quando “Hitler” descobre que a Polônia ainda existe ou quando ele assiste TV pela primeira vez. Mas o melhor são as cenas gravadas com câmeras escondidas que mostram o encontro do ex-ditador com alemães em praças e ruas.
É claro que trata-se de uma comédia muito bem produzida, mas que em certo ponto se torna um filme assustador quando fica claro que o carisma e as ideias do führer ainda são capazes de despertar todo o rancor, ódio e racismo da sociedade. Porém, o que mais chamou minha atenção foi o fato de o Partido Verde ter sido a única sigla que, nos dias atuais, inspirou simpatia em “Hitler”. Segundo a sua lógica, defender a natureza é um ato patriótico, sendo o mesmo que defender o território alemão.
Saindo da sétima arte, é interessante perceber como a “defesa da natureza” não faz parte do nosso cotidiano. Porto Alegre sediou, nos últimos dias, dois grandes eventos que discutiram soluções para problemas ambientais, porém pouco espaço ganharam na mídia.
Entre 15 e 17 de junho, no Ministério Público, ocorreu o 7º Fórum Internacional de Resíduos Sólidos (FIRS). Já entre segunda e ontem, foi realizado o Seminário Cidade Bem Tratada, no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa. Entrevistei os organizadores de ambos os eventos e logo me surpreendi com a quantidade de temas relevantes que estavam em pauta.
O advogado e consultor de Direito Ambiental, Beto Moesch, responsável pelo Seminário, afirma que o Brasil perde R$ 10 bilhões por ano por reciclar apenas 3% dos resíduos domésticos. Já a bióloga Arlinda Cézar, presidente do Instituto Venturi e coordenadora do FIRS, explicou-me como é importante discutir o problema com todos os atores envolvidos, desde a universidade com as pesquisas até a gestão dos resíduos feita por empresas e governos.
Necessitamos com urgência colocar em nossa pauta temas como gestão de resíduos sólidos, drenagem urbana, geração de energias alternativas e tratamento e aproveitamento de efluentes. Será preciso um führer para nos indicar o caminho?
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