Da DEUTSCH WELLE, versão brasileira, com foto de VALTER CAMPANATO (Agência Brasil)
Um ministro do presidente Michel Temer é denunciado por fazer pressão sobre um colega para liberar a construção de um prédio de luxo. Deputados usam seu poder para legislar em causa própria e tentam aprovar na surdina uma emenda que concede anistia para a prática de caixa 2. Uma manobra no Senado abre brecha para que parentes repatriem valores ilegalmente remetidos ao exterior.
Para especialistas, esses acontecimentos, ocorridos no intervalo de apenas sete dias, escancaram uma desconexão crescente de boa parte da classe política e do governo Temer com as expectativas da população, menos de três meses depois do afastamento definitivo da ex-presidente Dilma Rousseff.
“A classe política não entendeu que há um nível maior de controle sobre temas envolvendo corrupção ou a conduta política. No momento, temos um governo fraco”, afirma o analista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências.
A primeira bomba da semana envolveu Geddel Vieira Lima (PMDB), um dos homens-fortes de Temer e que, até esta sexta-feira (25/11), ocupou o cargo de secretário de Governo. O peemedebista foi acusado de pressionar seu colega Marcelo Calero, que chefiava a pasta da Cultura, para que este usasse sua influência na liberação da construção de um edifício de luxo em uma área histórica de Salvador – um caso evidente de uso da estrutura de governo para fins pessoais.
Mesmo com a revelação do escândalo, Geddel se manteve firme no cargo por quase uma semana graças ao apoio irrestrito de Temer. Só decidiu pedir demissão quando o escândalo envolveu o próprio Temer, depois que Calero prestou depoimento à Polícia Federal e acusou o presidente de tomar parte na pressão.
Propinas e favores são naturais
Quando perguntado sobre o caso, Geddel reagiu como se não tivesse feito nada errado. “Qual a imoralidade que há em tratar desse tema com um colega meu?”, disse. Vários políticos saíram em sua defesa. O deputado Paulinho da Força (SD), por exemplo, classificou o escândalo de exagero. “Ele pediu um favor e virou um escândalo. No Brasil, todo mundo pede favor”, disse.
“É uma repetição bufa do que aconteceu na Itália durante a Operação Mãos Limpas, nos anos 90. Prefeitos presos não conseguiam entender o que haviam feito de errado. Para eles, propinas e favores eram naturais”, afirma o filosófo e professor de ética Roberto Romano.
“Boa parte da classe política legisla em causa própria e está cada vez mais divorciada da população. Não há mais a exibição de uma república democrática, mas de uma tirania política. Tiranos são os que usam os bens dos governados como se fossem seus. Os governantes encaminham medidas amargas para a população ao mesmo tempo em que um ministro pede a suspensão de uma medida em benefício próprio”, completou…”
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Acho que já chegamos ao ponto de ter vergonha de sermos honestos.