POR MAIQUEL ROSAURO
A versão brasileira do site El País publicou neste final semana uma longa e interessante entrevista com o Papa Francisco. A matéria aborda temas como a saúde do Papa Bento XVI, as preocupações em relação à igreja, a eleição de Donald Trump, a síndrome do irmão do filho pródigo e muito mais. Vale a leitura! Confira:
“O perigo em tempos de crise é buscar um salvador que nos devolva a identidade e nos defenda com muros”
Na sexta-feira, enquanto Donald Trump tomava posse em Washington, o papa Francisco concedia no Vaticano uma longa entrevista ao EL PAÍS, em que pedia prudência ante os alarmes acionados com a chegada do novo presidente dos Estados Unidos – “é preciso ver o que ele faz; não podemos ser profetas de calamidades” –, embora advertindo que, “em momentos de crise, o discernimento não funciona” e os povos procuram “salvadores” que lhes devolvam a identidade “com muros e arames farpados”.
Durante uma hora e 15 minutos, num aposento simples da Casa de Santa Marta, onde mora, Jorge Mario Bergoglio, que nasceu em Buenos Aires há oito décadas e caminha rumo ao quarto ano de pontificado, afirmou que “na Igreja há santos e pecadores, decentes e corruptos”, mas que se preocupa sobretudo com “uma Igreja anestesiada” pelo mundanismo, distante dos problemas das pessoas.
Às vezes com um típico humor portenho, Francisco demonstra estar ciente não só do que ocorre dentro do Vaticano, mas na fronteira sul da Espanha e nos bairros carentes de Roma. Diz que adoraria ir à China (“quando me convidarem”) e que, embora de vez em quando também dê seus “tropeços”, sua única revolução é a do Evangelho.
O drama dos refugiados marcou-o fortemente (“aquele homem chorava e chorava em meu ombro, com o salva-vidas na mão, porque não tinha conseguido salvar uma menina de quatro anos”), assim como as visitas às mulheres escravizadas pelas máfias da prostituição na Itália. Ainda não se sabe se será Papa até o fim da vida ou se optará pelo caminho de Bento XVI. Admite que, às vezes, sentiu-se usado por seus compatriotas argentinos.
Pergunta. Santidade, o que resta, depois de quase quatro anos no Vaticano, daquele padre das ruas, que chegou de Buenos Aires a Roma com a passagem de volta no bolso?
Resposta. Que continua sendo das ruas. Porque assim posso sair na rua para cumprimentar as pessoas nas audiências, ou quando viajo… Minha personalidade não mudou. Não estou dizendo que me propus a isso: foi espontâneo. Não, aqui não é preciso mudar. Mudar é artificial. Mudar aos 76 anos é se maquiar. Não posso fazer tudo o que quero lá fora, mas a alma das ruas permanece, e vocês a veem.
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Ué, mas Cristo não é o Salvador? Tira férias nas crises?
Os Estados Unidos estão bem, muito melhor que nós, por exemplo. Então essa ideia de “salvador” é uma falácia que o próprio Trump usou e abusou para conquistar o público-alvo dele.
Quase que o papa escorregou na maionese porque a ideologia dele foi criada exatamente na mesma premissa, foi alavancada por uma plateia que esperava um salvador da invasão romana. Na época, qualquer metido a barbudinho tinha uma grande chance de se dar bem. Na época não tinha partidos, eram as religiões que faziam esse papel com “salvadores” em qualquer esquina. Uns pegaram, outros não.