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CIÊNCIA. Fepagro segue em atuação, mas futuro de Centro de Pesquisa em Santa Maria ainda é incerto

Mesmo com a extinção da fundação, pesquisadores Cleber Witt, Evandro Missio, Ricardo Silva (diretor do Centro), Gerusa Steffen e Joseila Maldaner (da esquerda à direita) seguem atuando normalmente no Centro de Pesquisa em Florestas, em Santa Maria

Por MAIQUEL ROSAURO (texto e fotos), Especial para o Site

Três meses após a aprovação do pacote de austeridade do governo Sartori, na Assembleia Legislativa, os pesquisadores da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) seguem realizando seu trabalho normalmente em Santa Maria. Apesar de oficialmente extinto, o órgão segue em atuação, embora o destino do Centro de Pesquisa em Florestas, no distrito de Boca do Monte, seja incerto.

A Fepagro deixou de ser fundação para se tornar no Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria Estadual de Agricultura. Como todos os seus servidores são estatutários, ninguém foi demitido.

“O CNPJ da Fepagro foi extinto, mas nossas pesquisas e a produção de mudas continua. Também seguimos com acesso a financiamentos”, explica o engenheiro agrônomo, Evandro Missio.

O Centro de Pesquisa em Florestas é uma das poucas instituições públicas do país que trabalha com a coleta de sementes florestais nativas e mantém um banco de germoplasma destas espécies. A unidade existe desde 1942 e possui cerca de 80 mil mudas.

Sua área de 542 hectares é rica em diversidade de espécies arbóreas, onde existem formações de mais de 40 bosques de espécies florestais implantados, sendo 14 em risco de extinção. Há também formações naturais que se estabeleceram ao longo das décadas, os quais fornecem sementes para a coleta, estudos de monografias, dissertações e teses de doutorado em parceria com várias instituições de ensino superior. Apenas entre 2016 e 2017, a Fepagro Florestas desenvolveu 21 projetos de pesquisa que estão concluídos ou em andamento. CLIQUE AQUI para acessar.

A unidade ainda serve de espaço para visitações técnicas e educação ambiental para crianças e jovens de escolas públicas e privadas.

No Centro de Pesquisa também é realizada a coleta de sementes florestais em nível regional e até estadual, visando manter o maior número de espécies armazenadas em seu domínio. Ou seja, é a unidade santa-mariense que fornece espécies que serão utilizadas para restaurar e tentar manter o que ainda resta do Bioma Mata Atlântica no Rio Grande do Sul.

Unidade local possui 452 hectares. Pelo menos 150 devem ser doados ao Município para criação de parque de eventos

Pesquisadores criticam oportunismo de políticos e entidades

A Fepagro conta com 19 centros de pesquisas no Estado. Embora o serviço da fundação tenha sobrevivido ao pacote, o governo Sartori estuda diminuir o número de unidades.

Os 542 hectares do Centro de Pesquisa em Florestas foram doados pela Prefeitura de Santa Maria ao Estado na década de 1930. Ventila-se a possibilidade de que toda a área seja devolvida ao Município ou, pelo menos, parte dela.

Em setembro do ano passado, durante a Expointer, foi assinado um protocolo de intenções entre o governador José Ivo Sartori e o então prefeito Cezar Schirmer, que devolve ao Município 150 hectares da unidade. O objetivo é construir no local um parque que abrigaria, entre outros eventos, a Expofeira de Santa Maria.

Na sessão da Câmara de Vereadores da última terça-feira (21), o líder do governo na Casa, Manoel Badke (DEM), sugeriu que a área, caso se confirme o repasse ao Município, se tornasse um local para descanso de cavalos que estejam no final de seu ciclo de vida.

Ambas as ideias, parque e destinação para equinos, são rechaçadas pelos pesquisadores da Fepagro. Eles criticam o que consideram como oportunismo de políticos e grupos de entidades que estão de olho na área.

“Os bosques implantados aqui são de espécies nativas, professores da UFSM vêm dar aula de manejo florestal aqui dentro. Não é simplesmente chegar e acabar com tudo para transformar em um parque. Eles não conseguem manter o Itaimbé que fica ao lado da Prefeitura, será que vão conseguir ter recursos para manter um parque com 150 hectares que tem o dobro do tamanho da Expointer?”, questiona a engenheira agrônoma Gerusa Steffen.

Estudo comprova a importância da conservação dos recursos genéticos

Os pesquisadores são unânimes em afirmar que a criação de um parque na área do Centro de Pesquisas geraria um impacto no patrimônio genético e no ecossistema devido à grande circulação de pessoas. Um estudo realizado em parceria com a UFSM comprovou a ocorrência de um número elevado de espécies de macrofungos no local. Os resultados foram publicados em fevereiro na publicação International Journal of Current Research. CLIQUE AQUI para acessar o artigo (em inglês).

No estudo, os pesquisadores identificaram 40 espécies pertencentes a três grupos de fungos benéficos: os micorrízicos, que se associam com as raízes de plantas florestais auxiliando no crescimento, os lignocelulolíticos, que degradam madeira, e os saprofíticos, que crescem sobre materiais em decomposição, contribuindo para a ciclagem de nutrientes no ambiente.

“O estudo ressalta a importância da conservação dos bosques para a manutenção do patrimônio genético das espécies de organismos que estão associadas às plantas existentes no local”, ressalta a bióloga Joseila Maldaner.

Várias espécies novas de fungos já foram encontradas e descritas por professores e acadêmicos da UFSM, que há anos visitam o local em busca da sua vasta biodiversidade. Alguns fungos, inclusive, foram encontrados pela primeira vez na América do Sul no Centro de Pesquisas em Florestas.

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