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22 de abril (revisto e atualizado) – por Orlando Fonseca

Cabral, como vocês sabem, está preso e cumprindo pena em um presídio no Rio de Janeiro. É um fim melancólico – mas merecido – para o descobridor do Brasil. Antes de 1500, ele tinha dado uma passada por aqui. Veio, viu, vindicou tudo à coroa portuguesa. D. Manuel não gostou muito da negociata. Cabral não se deu por vencido, articulou e voltou, porque tinha certeza de que, mesmo que roubassem tudo, a fartura podia durar mais de 500 anos e ainda sobrava para um outro capítulo da história. Assim caminha a humanidade, pensou, e não escreveu porque não era cronista, perdendo o direito de uso da frase. Descobriu os descaminhos da república, da vida política, as empreiteiras, as propinas – que deste lado do Atlântico tem sentido diverso do de lá. O resto é história da crônica policial.

A verdadeira história é a seguinte. A par das controvérsias, há quem considere balela aquele papo de que a descoberta foi por acidente. Mas o próprio Cabral, em depoimento, afirma com convicção de que tudo não passou de um grande acaso. Que ele estava indo para as Índias, e quando viu aquele povo todo, pelado na beira da praia, não teve dúvida de que tinham sido descobertos, que não era possível que tivessem retrocedido do progresso que tinham alcançado. Afinal, a expedição era justamente para levar para Portugal, entre outros itens, os famosos tecidos. E já que estavam ali, tomaram posse, em nome D’El Rei. Este não gostou nada daquele papo furado, e mandou chamar o comandante para contar a sua história de marinheiro.

Cabral – Majestade, mas V.Exa. leu a carta do Caminha que eu mesmo encaminhei.

D.Manuel – Em se implantando tudo dá. Sei, vai dar é em farra às custas do dinheiro público.

Cabral – Mas tem pra todo mundo. É grana que não acaba mais. Isso que nem começaram a explorar o pré-sal.

Manuel – Pré o quê?

Cabral- Deixa pra lá, Majestade, invencionice dessa gente que vive sob um sol de 40 graus o ano todo.

Manuel – Estou muitíssimo preocupado, não bastasse o desvio de rota que levou a nossa esquadra até aquele antro de perdição, ainda tem desvios de toda ordem nas empreiteiras que construíram os navios. Agora estão a exigir pedaços cada vez maiores das terras de lá. Já mandei prender uma pletora de achacadores.

Cabral – Desculpe, Majestade, vou ser redundante: tem pra todos, à farta.

Manuel – Não tem jeito: para o bem de Portugal e do mundo, vou anular este descobrimento. Não existiu. O Brasil é apenas um acidente na história.

Cabral – Majestade, vamos fazer o seguinte: está anulado, então. Mas vamos ampliar o castigo deste pessoal mal-intencionado que está na cadeia. Vamos colocá-los em uma embarcação e deixa-los à deriva. Se, por acaso, derem com os costados no Brasil, é porque se trata de um “destino manifesto”, contra o qual não se pode ir contra.

E assim foi feito. Capitaneados pelo próprio Cabral, chegaram por aqui em um 22 de abril; ocuparam, dominaram tudo, cooptaram o baixo clero no congresso, compraram votos, criaram um consórcio de empreiteiras, e fizeram prosperar o maior propinoduto da história. O resto é manchete sensacionalista e vazamentos de lava-jato, que como se sabe, dá a impressão de que está limpando tudo. Mas é só impressão.

DE FATOS E DIVERSÕES

– Legalize já! Droga por droga, já que está tudo dominado, o melhor é legalizar a propina. O que não é difícil, basta que o presidente de plantão crie um Programa de Incentivo Numerário de Aceleração, que pode se chamar PRÓ-PINA.

– Caixa 2 é o maior mistério neste país: os corruptores só admitem sob tortura em delação terem colaborado nas campanhas eleitorais via caixa 2; os políticos afirmam que as contribuições foram oficiais, e não por caixa 2; as contas da campanha foram aprovadas pela Justiça Eleitoral, que não viram o Caixa 2. O que não existe é este país. Daqui a pouco, será necessário exigir provas de que ainda estamos no Brasil.

– Neste 21 de abril temos vários eventos em perspectivas históricas. No passado, Tiradentes foi enforcado, por causa da traição de Silvério dos Reis; Tancredo renunciou à vida e entrou na história, deixando o país à mercê de Sarney. Pensando nisso tudo, Temer, que reúne vários destes componentes trágicos da vida nacional, bem que poderia renunciar e entrar na história (pela lata de lixo, talvez). 

– Semana passada, o Pentágono publicou um vídeo com o lançamento de uma puta bomba, de 9,5 toneladas, no Afeganistão. O objetivo desta chamada “Mãe de todas as bombas” era acabar com uma célula terrorista do Daesh. Segundo informações de Cabul, 36 combatentes viraram pó. O informe ainda contém uma exclamação intraduzível: fuck your mother of all bombs!

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: as imagens que ilustram esta crônica são reproduções obtidas na Internet.

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