CRÔNICA. Orlando Fonseca e o cochilo da nação
“… O golpe foi dado porque a presidenta não tinha condições de estancar o rombo nas contas públicas. E o cochilante ministro ainda vem repetir a lenga-lenga de que é preciso aumentar os tributos para tapar os buracos herdados da administração anterior. Dois anos depois? Como se há poucos dias Temer não tivesse torrado quase 2 bilhões para comprar a sua defesa na comissão que julga a procedência da acusação contra ele, agora vem dizer ao povo que precisa economizar para fechar o rombo no orçamento. Dorme, dorme, filhinho da Mãe Gentil!
Além de ter liberado o saldo das contas inativas do FGTS para fazer circular a economia, o governo tentou a repatriação de dinheiro depositado em contas no exterior – em paraísos fiscais; recursos desviados para fugir da mordida do Leão do Imposto de Renda. Mas este último expediente não representou aumento significativo, aliás, como era de se esperar: de quem tem muito a esconder, de quem acha um jeitinho de sonegar, esperar o quê? Some-se a essa conversa-acalanto-bovino a propaganda oficial sobre os ajustes da Previdência: ela insiste no bordão de que a culpa pelo rombo na arrecadação é o trabalhador, mas e a sonegação das empresas que recolhem mas não repassam? Enquanto isso, o assalariado curte uma soneca…”
CLIQUE AQUI para ler a íntegra da crônica “Cochilos”, de Orlando Fonseca. Orlando é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura, PUC-RS, e Mestre em Literatura Brasileira, UFSM. Exerceu os cargos de Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e de Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados, foi cronista dos Jornais A Razão e Diário de Santa Maria. Tem vários prêmios literários, destaque para o Prêmio Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia, WS Editor; também finalista no Prêmio Açorianos, da Prefeitura de Porto Alegre, pelo mesmo livro, em 2002.
Na verdade, a nação não cochila, está nocauteada. Se a nação, mesmo nocauteada, tentar se levantar para tentar tirar o ex-coligado, isso dá um medo. É possível voltar aquela gente que nos surrou por 13 anos, que nos batia fazendo de conta que nos amava e queria salvar-nos. Como apanhamos! Apanhamos nos empregos, nos fundos de pensão, nas estatais, nas contas públicas, nas políticas de saúde e educação. Nunca, como nação, apanhamos tanto na vida, nem quando Collor, o tresloucado, confiscou o dinheiro de todos.
Tssk. Tssk. Previsão do tempo vai de vento norte em popa pelo jeito. Existem “clássicos” na ciência política que são bem conhecidos para quem é do métier. Pergunta-se, por exemplo, sobre liberdade e segurança? A resposta será uma verborragia sobre “quanto mais liberdade, menos segurança; quanto mais segurança, menos liberdade”. Outra? Indignação geralmente tem prazo. Nas condições certas acaba substituída pelo cinismo. Ocorre uma generalização no nível mais baixo (todos iguais). Daí pode ir para a alienação, para o conformismo ou até mesmo para uma conclusão mais positiva (comparativamente): entre o ideal e o possível existe uma distância. No Brasil, ela não é nada desprezível.
Temer liberou quase R$ 2 bilhões para ficar na cadeira.
E a dama de vermelho? R$ 3,2 bilhões em emendas individuais às vésperas da votação do processo de impeachment na Cãmara. Na votação do processo no Senado, mais R$ 1,4 bilhão, totalizando quase o dobro dos valores liberados pelo atual.
O orçamento permite que mais de 6 bilhões sejam distribuídos em emendas individuais. Então temos dois problemas, um orçamento que individualiza liberação de verbas, um absurdo, e presidente e ex-“presidenta” (argh) usando a caneta para tentar se manter no cargo.
Mas não me lembro de ter lido o articulista indignado falando das bilionárias verbas liberadas pela “presidenta”. Por quê?