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IGREJA. Padres paulistas, inquietos, criticam ‘inércia pastoral’ e defendem o engajamento em lutas sociais

Padres paulistas creem que o papa Francisco aponta o caminho para a Igreja estar novamente ao lado dos pobres e defendem participação

Por LUCIANO VELLEDA, da Rede Brasil Atual, no jornal eletrônico SUL21, com foto de Reprodução

Inquietos com o comportamento de uma igreja reduzida ao clericalismo e de olhos fechados para a realidade social na Diocese de São Miguel Paulista, zona leste da cidade de São Paulo, seis padres iniciaram, em 2010, um movimento para sacudir os colegas de batina. Nascia assim o coletivo Igreja – Povo de Deus – em Movimento. O objetivo é reavivar o compromisso das paróquias da região, como em Itaquera, São Mateus, Ermelino Matarazzo e Guaianases, com o engajamento nos movimentos por transformação social, inserindo em suas rotinas religiosas a luta por educação, moradia e trabalho.

O movimento ganhou mais força a partir de 2013, com a eleição do papa Francisco e sua postura progressista diante do conservadorismo da Igreja Católica. “O coletivo continua sendo a chave para saídas possíveis diante da longa noite que atravessamos. Nesta caminhada, portanto, com lampião aceso, dizemos que outra Igreja é urgente e necessária para construir o compromisso com os mais pobres”, afirma a cartilha de formação Por Uma Igreja em Saída e para o Povo, que será lançada neste sábado (25), às 8h, no Centro Social Marista Itaquera.

Os padres Ticão Marchioni, Dimas Carvalho, Devair Poletto, Cyzo Lima, Émerson Andrade e Paulo Bezerra são os homens à frente da Igreja – Povo de Deus – em Movimento (IPDM), que retoma na zona leste de São Paulo a tradição iniciada nos anos de 1980 com a Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

“Quase submersos em uma crise planetária econômico-socioambiental, cultural e religiosa, o IPDM, no entanto, provoca a inércia pastoral, a indiferença social, o cinismo e a ditadura político-econômica midiática, e o descaso pela casa comum, para enfrentar a crise não como limite, mas como profecia de transformação”, explica outro trecho da cartilha, afirmando que a provocação maior, todavia, deve ser feita na retomada do trabalho de base, nas comunidades, paróquias e coletivos para que priorizem “o estudo e as reflexões sobre as questões candentes da conjuntura da Igreja e da sociedade”.

Segundo Eduardo Brasileiro, professor de sociologia e coordenador pastor da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera, a expressão “igreja em saída” quer justamente incentivar a postura de uma igreja que saí das paredes seguras do templo e encara as lutas sociais da atualidade. “É um desafio colocar a igreja em movimento, é uma dificuldade sair desse modelo voltado para dentro e conseguir ir para a rua. Com a eleição do papa Francisco se ganhou mais força para dizer que a igreja deve estar perto dos pobres, lutando contra a desigualdade social”, afirmou.

A cartilha de formação Por Uma Igreja em Saída e para o Povo inclui artigo da urbanista Ermínia Maricato, professora aposentada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), e ex-secretária-executiva do Ministério das Cidades (2003- 2005). Traz ainda um tópico intitulado “Discutindo Tabus”, sobre participação política num contexto de corrupção, e a relação entre espiritualidade e os desafios políticos e econômicos da atualidade.

“Um velho e santo bispo, dom Hélder Câmara, já nos dizia: não fazer política é o melhor jeito de ser dominado pela política dos outros. A política é o único caminho para as mudanças do país. Sem a participação da política, as mudanças não acontecem”, diz o padre Ticão Marchioni. “São milhares as formas de se fazer política para melhorar o nosso país. A mais descreditada atualmente é o político de partido, onde você encontra um lamaçal de corrupção, arrogância, desprezo com a miséria brasileira. Repito: eles estão lá porque nós estamos aqui, calados, tímidos e imóveis. É hora de nos unirmos aos movimentos sociais que lutam por mais direitos aos mais pobres.”

Para padre Ticão, é necessário ocupar os partidos, analisar quais deles buscam a igualdade social, a taxação dos mais ricos, a distribuição de riquezas, a criação de empregos (com direitos) nas periferias, educação e saúde integrais.

“A cartilha tem o objetivo de trabalhar na base, mostrar como os cristãos podem se inserir nas lutas por moradia, educação, mobilidade urbana, entre outras”, diz Eduardo Brasileiro, que espera bom público para o lançamento da publicação, seguido de debate.

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6 Comentários

  1. Esquerda e religiões cristãs têm várias coisas em comum: acham-se os “salvadores do mundo” e têm os pobres como meio para manterem poderes social, político e econômico. É curioso que os pobres continuam pobres mesmo com eles no poder. “Crescei e multiplicai-vos” e “toma aqui a tua bolsa esmola” são o máximo que vão, pois se os “excluídos” fossem obrigados a irem a uma escola de verdade, recebessem capacitação, planejamento familiar e conhecimento para se virarem por conta, a esquerda desapareceria e as igrejas virariam museus, como acontece no mundo civilizado. Isso não é bom para esquerda nem para as religiões, o que vão fazer da vida? Então “vamos fazer o marketing ‘preocupados com a pobreza’ enquanto não desaparecemos, porque precisamos manter a nossa própria mesa servida”. Como seria bom esse pessoal cair na vida real.

  2. “Fés” movimentam mundos de ignorância e fortunas. Por milênios, “fés” impuseram regras imorais, misoginia, apoiaram a escravidão, fizeram perseguições a minorias sexuais e culturais. As cristãs impuseram um grande atraso social milenar, como a muçulmana faz ainda hoje. As cristãs se civilizaram com o passar do tempo, principalmente mais nos últimos 40 anos – a muçulmana parou no tempo-. Foram obrigadas a isso porque a sociedade cresceu com a escola e as mulheres se libertaram do jugo religioso, indo às ruas para rasgarem seus sutiãs nas décadas de 60/70. Não foi a base moral do “salvador” que propiciou isso, foi a própria sociedade que se libertou dos grilhões. Mas ainda fazem um grande ranço com as minorias sexuais e mantém a misoginia velada. As evangélicas mantém o ranço contra outras religiões e têem uma neurose da evangelização que preocupa o ambiente escolar, que deveria ser blindado desses vírus culturais.

  3. Feliz em ver esses movimentos da igreja católica, que não são novos, mas transformam os “enviados de Deus” em sujeitos preocupados com o bem estar do povo. Diferente dos “pastores” evangélicos, via de regra, reacionários e preconceituosos, que só exploram aqueles a quem deveriam proteger e defender. A fé em prol dos que mais precisam e em defesa dos excluídos, só faltou um FORA TEMER e que leve junto toda essa gente que o apóia.

  4. Infiltração marxista na Igreja não é de hoje. Frei Beto, Leonardo Boff, o bispo paraguaio que foi defenestrado, por aí vai. Um “gramscianismo” de meia pataca, “disfarçam” o discurso (acham que enganam alguém) e tentam “implodir” a instituição. Gente querendo pegar carona por motivos escusos. Pista maior do que ter sido publicada neste blog não há.
    Existe aqui uma grande diferença da opção pelas lutas sociais por motivos religiosos.

  5. De mundos fora da realidade esses aí sabem muito, adorando e rezando para um ser imaginário. Por 500 anos defenderam a ideologia que a Terra é o centro do universo e o Sol orbitava a Terra. Quase conseguiram fazer “churrasco” de uma pessoa que mostrou que a realidade era outra.

    A Igreja se meteu demais na vida das pessoas e dos Estados por séculos e séculos, amem…. e foi um atraso só. Está aí uma instituição que foi um “tsunami” de problemas sociais por séculos, perseguindo pessoas boas por preconceito, ideologia esotérica e muita ignorância de como funcionam as coisas. Querem de novo se meter na política? No Estado? Não. Chega. Fiquem nos seus confessionários, há muito a se confessarem.

  6. É deprimente o estado que me assola toda vez que alguém diz que se precisa fazer política – ou se envolver com política-, para “consertar” as coisas. Consertar as coisas erradas que a própria política faz ou porque não faz o que tem de fazer, ou faz de forma incompetente.

    Comprovadamente política não muda mundos para melhor. Não melhora nada. Porque para fazer política é preciso seguir alguma ideologia, e toda ideologia é sempre um “mundo do avesso”, fora da realidade. Se são fora da realidade, não funcionam. Se dependêssemos de política para criarmos novas vacinas e a cura do câncer, ainda estaríamos no tempo de “orar” e do “benzimento” para curar-nos de meras apendicites.

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