Nem tão bom velhinho – por Pylla Kroth
Faltam 18 dias para terminar mais um ano depois de Cristo. Confesso que por esses dias até o dia 25 de dezembro, o feriado de Natal, não costumo me sentir muito bem, sou persuadido a achar, julgar e pensar. Explico por quê: as ruas nesta época estão sempre cheias, é aquele corre-corre, todos querendo comprar aquilo que não tiveram o ano inteiro. É uma aflição total, uma angústia e uma tensão disfarçadas de alegrias. As diferenças sociais e de poder aquisitivo principalmente se acentuam de maneira pavorosa e isto é uma das coisas que mais me entristece: a desigualdade que se mostra de forma gritante nesta época.
Uma noite dessas, de passagem pela praça da cidade, perguntei a uma menininha que estava assistindo a um dos espetáculos das celebrações do Viva o Natal “sabes quem nasceu no Natal?” e ela me respondeu com um sorriso enorme com uma expressão radiante: “Sim! PAPAI NOEL!”
Voltei para casa entristecido e me pus a pensar. Vivemos em um país em que a maior parte da população é cristã e o próprio cidadão cristão esqueceu-se de ensinar ao filho os detalhes mais preciosos de sua própria crença e me parece que esqueceu também que é um cristão.
O que me dá é vontade de gritar: o Natal é a solenidade que celebra o nascimento de Jesus Cristo, crianças inocentes! Também conhecido como Jesus de Nazaré! Natal significa nascimento, ser posto no mundo, e também deriva da palavra “natureza”, o somatório de todas as forças da natureza!
Chego em casa e ligo a TV e aparece o velhinho vestido de vermelho com um saco nas costas. Mas, cadê a figura do aniversariante? O dono da festa não aparece?! O que vejo são concursos de casas mais iluminadas e mais bem decoradas, a maior árvore e o maior presépio do Brasil, e principalmente compras, muitas compras, muito incentivo ao consumismo exacerbado, onde quem pode mais compra mais e os que não podem tanto compram em parcelas, mas compram, e enfim, todos ganham presentes, filhos netos, sobrinhos, e quanto ao resto do ano que se foda, é um desespero total. Sobram sorrisos falsos dos comerciantes faceiros e cheios de gana por vender seus produtos, “facilitando” qualquer compra através de qualquer meio necessário. Na mesa não pode faltar um excesso de comida, é churrasco, chester, peru e outras coisas mais, muito mais do que nunca será consumido numa noite apenas, pelo contrário está ali somente para ostentar a fartura que sobra para uns e se ausenta completamente da mesa de outros.
Decididamente estou convicto de que não é mais, há muito tempo, a festa de Cristo. É a festa do Papai Noel e seus presentes, os quais ele na verdade ele não dá, vêm com um preço e um preço normalmente caro, não apenas pago em cifras e notas, mas também na perda e na relativização de valores fundamentais não apenas para os cristãos, mas para a humanidade como um todo.
Não sou ninguém para dizer algo especialmente em forma de crítica, eu sei, mas mesmo assim preciso dizer, tá engasgado aqui na goela: o Natal é ou deveria ser bem mais que dar e ganhar presentes! Temos que resgatar os ensinamentos Daquele que ensinou a humanidade as virtudes supremas e as leis da vida, que ele praticou uma por uma em sua essência.
E digo mais. Ele tem 2017 anos! E é também muito, muito mais antigo: é eterno! Não é humano, é divino e é Filho de Deus! Ou será que Deus não existe mais? Um só existe na tempestade? Por que sinceramente não acho que esse velho gordinho vestido de vermelho, capitalista, com um saco nas costas cheio de falsidades tenha alguma coisa muito valiosa para nos ensinar! Pelo menos não este no qual ele se tornou com a passagem do tempo!
Santa Claus, ou São Nicolau, a lenda da qual Papai Noel se originou, já se perdeu há muito tempo atrás, deturpada pela ganância e oportunismo do sistema, e poucos são os que lembram ou sabem que este se tratava de um bispo turco que viveu na cidade de Mira lá pelo século IV depois de Cristo e que costumava, anonimamente, ajudar pessoas que ele descobria estarem passando por dificuldades financeiras, e lá ia ele na calada da noite, depositando em segredo saquinhos de moedas de ouro jogadas pelas chaminés das casas dos mesmos.
Este santo homem foi escolhido como símbolo do espírito natalino da generosidade na Alemanha cinco séculos mais tarde, vindo originar o Weihnachtsmann, o “homem do natal”, tradição que se espalhou pelo mundo e foi ganhando outras nuances e sofrendo inúmeras modificações e corruptelas que não apenas lhe mudaram o visual como também suas atribuições. E assim o que era um símbolo de generosidade, abnegação e altruísmo, virtudes exaltadas pelo cristianismo, com o passar do tempo, chega a nós e nossos dias como um mero fantoche habilmente manipulado pelo comércio para despertar a necessidade da compra, do ganhar presente, do obter um bem ou presentear um bem como forma de compensar, transitoriamente, na tentativa de preencher o imenso vazio que a ausência da prática daquelas virtudes causa na humanidade sem que esta se dê conta disto. Triste realidade, o bom velhinho original acabou se transformando no Krampus, o terrível anti-espírito do Natal.
Muito mais antigo do que São Nicolau, no Velho Mundo ainda dominado pelos pagãos, havia a lenda de um homem muito idoso e maltrapilho que nos invernos rigorosos do norte do mundo batia às portas das casas dos camponeses suplicando comida e abrigo do frio e da noite, e todos aqueles que o recebiam com generosidade e coração bondoso eram presenteados com um inverno mais ameno, sem falta de comida e proteção.
É interessante ressaltar que nessas culturas também havia uma comemoração que coincide com a data do nosso Natal cristão, onde também celebrava-se o nascimento de uma Criança Prometida: o Rei do Sol ou Deus da Luz, nascimento este que significava esperança e a renovação do ano que findava e reiniciava-se num novo ciclo e toda a crença deles girava em torno da premissa de que qualquer atitude praticada por uma pessoa, para o bem ou para o mal, era devolvida em dobro pelas forças superiores que regiam o universo, de forma que se primava que a prática da generosidade e do altruísmo estivesse em primeiro lugar.
Que notável seria se praticássemos as virtudes exaltadas pela data que representa o Natal sem o interesse e a expectativa de um retorno em dobro, ou qualquer coisa deste tipo, mas pelo simples fato de que elas são uma coisa boa e legítima que têm o poder de fazer de nós pessoas melhores e capazes de subir um degrauzinho a mais que seja na longa escada da compreensão e aproximação com a Divindade que nasceu neste mundo terreno e triste e aniversaria no dia 25 de dezembro! Que bom que seria se deixássemos crescer a Criança Prometida e aprendêssemos com ela a sabedoria e a grandeza que vem da pureza que gera a verdadeira felicidade, em vez de antes mesmo de permitir que nasça direito a matemos sufocada pelo nosso egoísmo e nossa mediocridade humana!
Desejo a todos os leitores e amigos que as celebrações deste final de ano nos tragam proximidade com a legítima essência das quais elas nasceram e através das quais devem se perpetuar e que estão tão em falta neste mundo, a fim de que sejam estas celebrações aquilo que tanto desejamos a todos os nossos próximos ás vezes quase sem refletir no enorme e profundo significado abraçado por esta palavra: um FELIZ Natal!
OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução da internet.
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